Alegretense, residente na Dinamarca, conta como a Covid -19 mexeu com o país

O alegretense Paulo Santos Lopes falou com a reportagem, por telefone, e descreveu como está a situação relacionada à Covid-19, na Dinamarca, onde reside há anos.

 

Ele e a esposa são idosos que residem a 11 km do centro da cidade. No dia 11 de março em um jantar com Theo Mares, hóspede do casal, que mora no Brasil e iria realizar uma conferência sobre o clima daqui, eles foram surpreendidos, pela televisão, com a notícia das medidas de segurança que o governo aconselhava fossem tomadas para evitar o contágio. Theo foi notificado que a Conferência seria cancelada.

“Ele fez sua palestra, gravada em vídeo, no dia 12. No dia seguinte foram fechados todos os aeroportos. Ou seja, a Dinamarca fechava todas suas fronteiras às 12 horas. Theo conseguiu sair  antes dessa hora. “Entre muitas medidas tomadas, uma delas é a que nós, velhos, evitássemos receber visitas dos nossos netos e filhos. Sou considerado de risco pelos meus 80 anos de idade, bem como Karin, minha esposa, com 68 anos. Fui atingido duas vezes por câncer (lynfoma 2000/2004) declarado curado, mas a doença voltou em 2013. Outra vez fui declarado curado após tratamentos. Al disso tenho diabetes 2″, explica.  Karin tem sempre mostrado boa saúde, mas como bem se sabe também corre riscos.” – comentou Paulo.

O Vírus

Segundo o alegretense, atualmente se sabe que as primeiras pessoas na Dinamarca portadoras do vírus foram os turistas esquiadores que voltaram da Suíça em janeiro deste ano.

Desde que o vírus foi identificado na Dinamarca ocorreram contradições entre as autoridades governamentais e as sanitárias, de como deveria ser tratado o problema. Uma delas foi uma medida recusada pelo governo de importar massivamente materiais para testes da Coreia do Sul.

Já em uma reunião sobre segurança nacional, no dia 27 de fevereiro, após ter sido detectado o primeiro caso do vírus, ocorreram diferentes pontos de vista. Segundo o jornal Jyllands-post, a primeira ministra Mette Frederiksen (Socialdemocrata) duvidava que as autoridades sanitárias atacariam energicamente o problema.

Mette Frederiksen sugeriu obrigar o confinamento das pessoas que retornavam das viagens de turismo de esqui na Suíça e Itália.  As autoridades sanitárias e o diretor do Instituto Estatal de Soro não viram necessidade desta medida. Passado este primeiro momento de pequenas contradições, foram acertados os pontos principais para combater a crise com um grande consenso entre as partes. Imediatamente a TV estatal entrou em ação informando o povo das medidas a serem tomadas e que foram prontamente acatadas. Não existiu jamais correntes de opiniões com interesses religiosos, políticos, econômicos ou  fake News que atrapalhassem as iniciativas das autoridades. Aqui, o povo tem confiança nas autoridades e é capaz de discernir entre o certo e o errado.

Prevenção:

“Saímos muito pouco de casa, aqui não é proibido passear, mas é preciso observar as regra de segurança recomendadas pelas autoridades sanitárias”.- disse Paulo.

Regras básicas:

  1. lavar as mãos frequentemente;
  2. Tussa e espirre na dobra do braço;
  3. Mantenha distancia;
  4. Evite aperto de mão ou abraço;
  5. Esteja atento na limpeza (em geral)

“Lave as mãos com frequência com água e sabão no mínimo 20 seg ou use álcool em gel. Proteja a boca e nariz com lenço de papel ou no braço dobrado quando espirrar ou tossir. Evite aproximar-se muito de pessoas  (1 metro). Fique em casa e isole-se das pessoas em casa ao sentir-se com sintomas. Evite tocar nos olhos, nariz ou boca se suas mãos não estiverem limpas.”- aconselhou o alegretense.

A rotina do casal

 

As saídas de casa, somente quando necessário realizar compras. O casal sempre segue rigorosamente as regras de segurança. Nos mercados, já na entrada há luvas de plástico descartáveis e quando voltam para o carro eles têm o cuidado de desinfetar as mãos.

“Uso muito o tempo em casa acompanhando tudo o que acontece no Brasil pelo Youtube. A par disso  vejo pela televisão as orientações que o governo transmite cada hora para a população, bem como, orientações gerais de segurança. Gosto muito de música clássica, pois assim me distraio escutando compositores como Beethoven, Schubert, Villa-Lobos, Dvórak, entre outros. Falamos com nossos netinhos pelo computador. Enfim, a gente faz tudo para passar o tempo. Karin vive tricotando roupinhas para os netinhos ao tempo que assiste televisão – narrou o alegretense.

 

O cenário econômico

O cenário no momento é muito vago para o fim da crise. Mas ainda assim é possível descrever diferentes hipóteses que podem ser a base para um futuro controle da pandemia, isso ocorrerá à medida que se tenha conhecimentos mais detalhados sobre sobre o vírus. – citou

Paulo é confiante que há um trabalho massante na busca de um controle da pandemia e assim buscar solução para se debelar a crise.

Se pode encontrar na internet extensas exposições sobre os trabalhos que estão sendo realizados no momento. As escolas todas foram fechadas, mas os alunos, tantos do curso primário como ginasial, continuam recebendo aulas pela internet. No tempo livre das classes virtuais, as crianças brincam fora de casa e juntam-se com amiguinhos conhecidos, sempre os mesmos.

O alegretense Paulo Santos Lopes já concedeu para o Alegrete Tudo uma entrevista falando sobre sua trajetória. Abaixo vamos relembrar um pequeno histórico. Acompanhe.

Paulo é alegretense naturalizado na Dinamarca, casado com Karin Andersson, dinamarquesa. Tem dois filhos homens e 3 netos. Ele foi para Dinamarca como refugiado político brasileiro em setembro de 1974.

Foi ativista político contra a Ditadura pela volta à Democracia aqui no Brasil, como falou. Isto custou, à época, uma perseguição quando ainda era aluno ginasial.

Foi preso em Alegrete e conduzido em um ônibus com outras pessoas para Porto Alegre, escoltado por militares armados. Ao ser solto conseguiu, através de concurso público empregar-se no Juizado de Menores em Porto Alegre  onde trabalhou até ano de 1967. Continuou sendo ativista político.

Paulo pediu demissão do emprego e passou para a luta clandestina contra a ditadura militar. “Tenho orgulho de dizer que ajudei muitas pessoas perseguidas políticas a fugir para o Uruguai durante a minha militância.  Em 1970 devido à intensa repressão, fui obrigado a fugir para o Uruguai, de lá passei para a Argentina e segui para o Chile onde me foi concedido asilo político. Inscrevi-me num curso de torneiro mecânico visando trabalhar nas fábricas estatizadas. Atuei, junto com chilenos, nos trabalhos voluntários no campo para aumentar a produção que estava sendo saboteada pela elite chilena num ímpeto para derrubar o Governo da Unidade Popular de Allende. Nem assim conseguiram, o povo apoiava plenamente Allende.”- lembrou.

O alegretense conta que então usaram de um golpe militar matando milhares de pessoas. Fatos que todo mundo conhece. Ele se refugiou na Embaixada da Argentina com mais de 600 outras pessoas de diferentes países.

Foi transladado para a Argentina e de lá conseguiu asilo político na Dinamarca. Casou em 1975 e formou-se em um curso de desenho técnico.

Ao estar empregado com salário, mais o da esposa, professora de ginásio, conseguiram viajar nas férias, fora da temporada de turismo quando as passagens ficam mais baratas.

O casal já visitou a Grécia (3 x) Itália, Espanha (Madrid, Barcelona, Málaga, País Basco), República de San Marino, Turquia,  Alemanha, Portugal (várias x), Sharm-El-Sheik no Egito, República de S. Marino.

Paulo ainda recorda que eles tentaram viver no Brasil com a anistia nos 80, mas não deu e retornaram à Dinamarca, onde concluiu o curso de Pedagogo Social. Em viagem de estudos, ele e a esposa visitaram a Rússia durante a Glasnost.

“Tive oportunidade de ver os horrores que os nazifascistas fizeram com o povo russo, durante a 2ª. Guerra Mundial. Visitamos os cemitérios dos russos e russas caídos no cerco de Leningrado, hoje S. Petsburgo, pelos Nazisgas. Milhares de tumbas. Estou agora na minha velhice preocupado pelo meu povo porque o meu amado país, o Brasil parece estar à beira de cair em um regime nazifascista. Pois visitando os campos de extermínios nazis em países como a Polônia pude ver toda a de crueldade humana.

Aqui, de longe, mando saudação ao meu povo querido de Alegrete o qual já não tenho mais esperança de poder ver de novo.” – concluiu.