Após realizar o sonho da neta, Erani deixou a marca que só o amor de uma avó poderia causar

A avó, com toda simplicidade, rompeu com o constrangimento para contar aos agentes sobre a paixão da neta pelo Guarda Municipal.

A vida tem dessas coisas. É gente indo, gente chegando. São peças pregadas sem qualquer antecipação ou aviso. Simplesmente leva e traz quem ela bem quer. Neste final de semana, Erani Machado da Silva morreu, mas deixou no coração das netas a marca que só o amor de uma avó poderia causar.

Foi rápido. Sem sinais evidentes. Ontem ela estava em casa realizando um sonho da neta Isabelly: um aniversário com o tema ‘Guarda Municipal’. A menina, que completou 7 anos, é apaixonada pela instituição de segurança pública. Uma festa organizada há meses com o apoio de alguns integrantes da Guarda. Foi um dia feliz, um dia de sorrisos e muita gratidão.

Na pequena varanda da casa localizada na Rua Rio Brilhante, na região do Jardim Água Boa em Dourados (MS), um painel de balões, docinhos sobre a mesa e um bolo confeitado. A pequena foi vestida com uma farda e no convite a mensagem era clara: “você foi intimado a comparecer na minha festinha”.

A guarda Zilda Aparecida Rodrigues Ramires, lotada há 19 anos na corporação, conta em lágrimas quão especial foi o evento. Ela relembrou que há cerca de três meses, uma equipe em serviço na Feira Livre João Totó Câmara foi abordada por Erani acompanhada da neta Isabelly.

A avó, com toda simplicidade, rompeu com o constrangimento para contar aos agentes sobre a paixão da neta pelo Guarda Municipal. Zilda ressalta que isso foi especial demais, já que as crianças costumam ter medo da polícia ou qualquer profissional da área que esteja fardado.

A avó comentou que queria realizar um sonho pessoal dela: dar uma festa para a neta com o tema daquilo que ela mais admirava. A história tomou conta dos grupos de WhatsApp e na semana seguinte, com a autorização do comando da instituição, Ramires e outros colegas passaram a fazer uma mobilização em prol a realização do sonho da dona Eraci.

“Nós organizamos um grupo com o pessoal da Guarda. Cada um deu R$ 20, R$ 30, R$ 40. A gente buscou contato com ela pra perguntar se poderíamos fazer essa festinha para a Isabelly e ela ficou muito feliz. Foram dois, três meses, até que chegou o dia. A guarnição da Guarda foi lá, a Isabelly vestiu a farda, passeou na viatura. Tinha pula-pula, cachorro-quente, pirulito, refrigerante. Erani estava muito feliz”, disse com voz embargada pelo choro.

Em vídeo registrado por Zilda, Erani agradeceu o apoio da Guarda. Nas imagens ela se emociona, tenta secar as lágrimas com a mão enquanto escuta palavras de comprometimento da agente. Em determinado momento ela diz, “eu amo você”, e completa pedindo para que a corporação esteja sempre presente na vida da neta.

 

Mas, como num filme daqueles que fazem a gente refletir sobre o valor da vida, dona Erani se foi. Simples assim. Hoje pela manhã uma das agentes envolvidas na organização da festa foi até o local para recolher alguns itens e acabou encontrando a idosa passando mal.

“As netas, desesperadas, tentavam ajudá-la. Ela não queria que chamasse o Samu, mas a Meuren disse que não ia deixá-la naquela situação. Os socorristas chegaram e durante o caminho ela não resistiu ”, conta a guarda.

No relato fica evidente o amor que Erani expressava pelas netas. Isabelly e a irmã, de 9 anos, moravam com ela e desfrutaram por muito pouco tempo o carinho e o aconchego que só a avó poderia oferecer. E essa marca ninguém, nem o tempo, nem as pessoas, serão capazes de apagar na vida das meninas.

A reportagem tentou contato com a família de Erani, mas foi impossível conseguir uma fala além do que a equipe da Guarda transmitiu. A filha prometeu em breve contar mais detalhes sobre a história de vida da mãe.

Agora os avós paternos vão continuar a missão de eternizar esse amor. Quem tem uma avó ou avô querido sabe o quanto é duro imaginar perdê-los. E para quem já perdeu, o vazio é inocupável. Os anos vão passar, as lágrimas podem até secar, mas a saudade… a saudade nunca vai embora.

Por Vinicios Araújo – Blog Em Pauta