Cadeirante de Porto Alegre cria petição online para não ser deportada da Nova Zelândia

Juliana Carvalho, de 38 anos, é paraplégica e tem lúpus. Pedido de visto foi negado porque gaúcha não preenche os requisitos de saúde para receber residência.

Paraplégica e diagnostica com lúpus, a porto-alegrense Juliana Carvalho, de 38 anos, criou uma petição na internet para permanecer morando na Nova Zelândia. Ela teve o pedido de visto negado pela segunda vez e corre o risco de ser deportada do país. A alegação, segundo seus advogados, é de que ela não preenche os requisitos de saúde para receber residência.

A ideia com a petição é conseguir mais de 1 milhão de assinaturas para apoiar uma mudança na legislação para os imigrantes.

“Já fiz tudo que estava ao meu alcance e de direito. Gastei uma grana em advogado, mais de 20 mil dólares neozelandenses [cerca de R$ 50 mil]”.

Juliana, que mora com a mãe e dois irmãos, está no país há 7 anos. Até o mês passado, ela trabalhava numa multinacional de recursos humanos.

Cadeirante desde os 19 anos, por causa de uma inflamação na medula, a gaúcha conta que os problemas em continuar na Nova Zelândia começaram, em 2014, quando ela pediu o visto permanente. A resposta de que ela não havia conseguido veio depois de 1 ano e 7 meses de espera.

No documento a negativa: "Nós recusamos seu pedido de residência porque você não atende aos requisitos de saúde a serem concedidos na Nova Zelândia conforme descrito nas instruções de imigração". — Foto: ReproduçãoNo documento a negativa: "Nós recusamos seu pedido de residência porque você não atende aos requisitos de saúde a serem concedidos na Nova Zelândia conforme descrito nas instruções de imigração". — Foto: Reprodução

No documento a negativa: “Nós recusamos seu pedido de residência porque você não atende aos requisitos de saúde a serem concedidos na Nova Zelândia conforme descrito nas instruções de imigração”. — Foto: Reprodução

Numa carta aberta, escrita para o ministro da Imigração do país, Iain Lees-Galloway, ela conta como se sentiu naquele momento.

“Primeiro, chorei com a minha família. Decidi, então, solicitar outro visto de trabalho e continuar lutando. Ter que deixar sua família para trás, porque você tem uma deficiência que não pode mudar, e que não é culpa sua. Apesar de todos os obstáculos que sua condição impõe, você continua lutando e continua funcionando e contribuindo para a sociedade. No entanto, isso não importa, porque alguns vêem você como um fardo. Como você se sentiria?”

Segundo ela, a política de imigração do país discrimina pessoas com deficiência e problemas de saúde.

“As pessoas com deficiência devem ter os mesmos direitos que os outros e viver a vida que desejam. É uma questão de justiça, dignidade e respeito. Muitas pessoas com deficiência já têm uma vida difícil, o governo e suas políticas não devem dificultar suas vidas. Vamos acabar com a discriminação sistêmica”, escreveu na petição online.

Formada em comunicação, Juliana tem uma história de luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Já escreveu livros, colabora com sites e blogs e apresentou um programa de televisão no Brasil sobre o assunto.

“Tenho uma imagem mental que me acompanha toda vez que enfrento um desafio. Visualizo que sou um rinoceronte forte, poderoso e imparável. Um rinoceronte determinado que pode superar qualquer obstáculo”.

Juliana não quer que outras pessoas na mesma situação se sintam incapazes.

“A mensagem pode ter um impacto devastador na vida de alguém. Isso aconteceu na minha vida e eu não gostaria de ver outras pessoas passando pelo mesmo. Fico triste em pensar que muitas pessoas acabam acreditando que são indignas. Que eles não podem contribuir para a sociedade e a humanidade”.

Na carta aberta enviada ao ministro, ela encerra lembrando famosos que não seriam aceitos no país, com as regras atuais de imigração.

“Pessoas talentosas como Van Gogh, Thomas Edison, Franklin Delano Roosevelt, Beethoven, Stephen Hawking e Frida Khalo não seriam aceitas na Nova Zelândia, seguindo as instruções atuais de imigração”.

“Essa política precisa evoluir. Meu sonho é que, no futuro, poderíamos dizer que a discriminação contra a deficiência era lei em 2019, louco, não é?”

Fonte: G1