Casal malabarista faz da faixa de segurança o palco para suas apresentações

É comum em semáforos de Alegrete homens e, às vezes, mulheres com trabalhos circenses. O malabarismo é a prática que eles encontraram para chamar atenção e conseguir valores que representam a renda do dia. Cada dia é uma surpresa, pois os valores podem ou não corresponder o que eles precisam.

Entretanto, nos últimos dias, uma cena foi ainda mais impactante para quem parava no semáforo da Praça Nova. A jovem meiga, com um barrigão enorme, não se cansava em dar o melhor de si juntamente com o companheiro. A reportagem do PAT conversou com o casal.

Davi Siqueira de 22 anos e Sara Fidelis de 20 anos estão juntos desde 2016 e já têm uma filha de um ano e seis meses chamada Elora. Mas a qualquer momento também está chegando o pequeno Sebastian, o parto estava previsto até esta segunda-feira(22).

Muito simpática e meiga, Sara contou que o companheiro é alegretense e ela é natural de Pelotas. O malabares é a maneira que eles encontraram de fazer o que amam e ainda tirar o sustento da família que está aumentando.

Ao falar da arte, ela disse que tudo iniciou quando ela, que trabalhava em um restaurante, em Santa Catarina, não estava feliz e decidiu que iria vender artesanato, produtos que ela mesma confecciona. Foi então que pegou uma barraca e foi para as ruas encarar o desafio. Neste período, com quase 18 anos, reencontrou Davi, sem que algo estivesse programado, pois os dois se conheceram quando ela tinha 14 anos e veio a Alegrete. À época, o companheiro trabalhava como estagiário no Banco do Brasil. Eles se apaixonaram, mas o destino os separou.

Quando houve o reencontro, já em Santa Catarina e quatro anos depois, o casal não pensou duas vezes e percebeu que o destino estava dando a chance deles realizarem todos os sonhos e planos. Assim foi, durante estes anos, muitas viagens. Quando Sara engravidou da primogênita, ela trabalhou nos semáforos até o dia do parto, que foi na cidade de Tubarão. Eles foram para perto da mãe da jovem para que eles tivessem apoio naquele momento. Desta vez, a opção foi vir para casa da avó paterna que mora na Vila Nova.

” Faz duas semanas que voltamos pra Alegrete. Como está nos dias do Sebastian nascer, já completei os nove meses, precisamos de ajuda com a Elora. Para que eu possa trabalhar com ele(Davi), minha sogra cuida dela. Nessa fase, ela não pára e com esse barrigão fico mais devagar” – sorri ao falar.

O casal se vira e faz inúmeras apresentações para garantir cada doação que pode ser desde centavos até mesmo dois ou cinco reais. Em algumas exceções pode acontecer de um valor maior.

“Como já estou na reta final, fiquei mais no malabares e não estou fazendo exposição dos meus artesanatos. Mas eu faço venda por cartão e boleto para a cidade ou outros municípios. Fiz uma página no Facebook para divulgar, pois é da nossa arte que conseguimos nosso sustento e dos nossos pequenos. É uma pena que as pessoas, algumas, não sabem valorizar, acontece até mesmo o preconceito por estarmos aqui. Porém, elas não imaginam o quanto treinamos, estudamos para estar sempre aperfeiçoando e garantindo algum espetáculo para quem nos “assiste”. O artesanato eu comecei fazendo apenas pulseiras, hoje são várias peças. Mas é um trabalho digno, muitas vezes houve casos de ter que ficar mais de 12 h no sinal por que o valor que arrecadamos não era o suficiente para nos alimentarmos e comprar fralda para Elora. Agora, nossa meta é adquirir fralda para Sebastian, mas como ela ainda usa, quando juntamos o valor, em algumas ocasiões, deixamos de comprar algo pra ele, pois tem ela. E fralda nunca é o suficiente, descreve.

O mais lindo é ver o carinho e cuidado que um tem pelo outro. Davi, não concorda muito que ela ainda esteja trabalhando, se mostra muito preocupado com seus amores. Mas reconhece que com ela, as doações são mais frequentes pois os números de malabares são mais completos. Além de toda a simpatia e desenvoltura da jovem mesmo com o barrigão.

“Nós não pedimos nada, se o motorista demonstra vontade em ajudar vamos até o veículo. Somos sempre gratos pelas pessoas que colaboram. Alguns reconhecem que estamos fazendo diferença no dia deles. Às vezes, um simples sorriso é suficiente. Estamos sempre tentando passar algo positivo

Vivemos de um modo alternativo. A gente aprende muito viajando por aí, conhecendo outros lugares, outras pessoas. O que estamos fazendo aqui, é uma trabalho e buscamos o máximo para conseguir nos alimentar e pagar um aluguel quando estamos em alguma casa, pois agora barraca fica complicado em razão da Elora e com a chegada do Sebastian. Mas eles são nossas inspirações diárias. Nossos filhos são a razão de tudo. Este é o maior aprendizado: aprender a se virar.”- completou.

Quem quiser ajudar o casal com doações de alimentos e fraldas e outras necessidades dos pequenos pode entrar em contato através do WhatsApp (53) 99927-7668. A página com os artesanatos chama-se Reino das Fadas.

Flaviane Antolini Favero