Em carta, família de médico brasileiro investigado por assédio sexual no Egito faz pedido de desculpas em inglês e árabe

Documento é assinado pelos pais, irmãos e a esposa de Victor Sorrentino, que está detido no Egito desde 30 de maio. O Ministério Público egípcio apura o caso, e o Itamaraty acompanha. Em um vídeo, que viralizou nas redes sociais, o médico faz uma piada de conotação sexual para a vendedora de uma loja.

A família do médico de Porto Alegre Victor Sorrentino, detido, em 30 de maio, no Cairo, capital do Egito, após o vídeo em que faz perguntas com conotações sexuais a uma vendedora viralizar na internet, divulgou, na manhã desta quinta-feira (3) uma carta em inglês e árabe em que pede desculpas pelo que aconteceu.

 

“Nós, Família Victor Sorrentino e em nome de Victor apresentamos um pedido oficial de desculpas à vítima, sua família e todos os que tocaram no assunto. A todo o querido povo egípcio e todos os funcionários do Estado do Egito. Nossos mais sinceros sentimentos e empenho na reparação de todos os danos materiais e morais. Solicitamos o recebimento de nossas desculpas”.

Assinam o documento os pais de Victor, Migel e Maria Cristina Laindes Sorrentino, os irmãos Guilherme, Patricia e Daniela Sorrentino e a esposa Kamila Monteiro. (Leia abaixo)

Em carta, família de médico brasileiro investigado por assédio sexual no Egito faz pedido de desculpas em inglês e árabe — Foto: Divulgação

Em carta, família de médico brasileiro investigado por assédio sexual no Egito faz pedido de desculpas em inglês e árabe — Foto: Divulgação

O caso aconteceu no dia 24 de maio quando ele foi a uma loja onde são vendidos papiros usados para a escrita. Sorrentino é investigado por assédio sexual, segundo o Ministério Público egípcio.

O brasileiro está detido em prédio público do governo local. Segundo o órgão, no dia 1º de junho, a detenção seria prorrogada por mais quatro dias. A acusação afirma que o médico expôs a “vítima a insinuações sexuais e insinuações com palavras, a sua transgressão aos princípios da família e valores da sociedade egípcia, sua violação da santidade da vida privada da vítima e seu uso de sua conta online privada para cometer esses crimes”.

A família Sorrentino chegou ao Egito na quarta (3), segundo amigos do médico que estão no país. A defesa de Victor está a cargo da advogada Amanda Bernardes. Ela explica que uma equipe jurídica já foi disponibilizada no Egito e que o passaporte de seu cliente já foi devolvido. Familiares do médico afirmam que ele está prestando esclarecimento às autoridades egípcias.

Médico de Porto Alegre Victor Sorrentino foi detido no Egito — Foto: Redes sociais

Médico de Porto Alegre Victor Sorrentino foi detido no Egito — Foto: Redes sociais

Vídeo de duplo sentido

 

Em um vídeo publicado pelo brasileiro na internet, Sorrentino está em um bazar turístico, no país africano. Uma mulher, atendente do estabelecimento, mostra como é feito o papiro, espécie de papel usado pelos antigos egípcios para escrever.

O médico aparece perguntando a ela em português: “Vocês gostam mesmo é do bem duro, né?” Depois, em tom de deboche, ele ainda afirma: “E cumprido (sic) também fica legal, né?”. A vendedora, que não entende direito o que foi dito, responde “sim”, enquanto ele e os amigos riem.

Após a repercussão do vídeo, ele restringiu o acesso dos perfis nas redes sociais. A conta do médico no Instagram tem quase 1 milhão de seguidores.

No dia seguinte, 25 de maio, Sorrentino volta ao local pedir desculpas à vendedora alvo de seus comentários. Ele volta a gravar a ação em vídeo. Na ocasião, o médico afirma que a fala se tratava de “uma brincadeira brasileira” e disse ser “um cara muito brincalhão”.

Nas imagens do segundo vídeo, o médico afirma que a situação provocou “uma confusão”.

Após o Sorrentino explicar a situação, a vendedora disse em espanhol que estava “tudo bem”, acenou com a cabeça e que foi uma “piada”.

Vídeo chegou às autoridades

 

O caso ganhou notoriedade após circular em redes de ativistas de defesa dos direitos das mulheres. Um dos primeiros a tomar conhecimento das imagens foi o ativista LGBT antirracista Antonio Isuperio, morador de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Ele recebeu o vídeo de Fabio Iorio, que mora em Londres, na Inglaterra. A partir daí, Isuperio acionou a rede de mais de 2 mil ativistas mulheres, no Brasil e no Egito, incluindo atrizes e influenciadoras brasileiras.

A empresária Michelle Bastos, brasileira que mora no Egito, contou que o objetivo do grupo era alertar as autoridades locais sobre o ocorrido. “Não sei o caminho exato que a informação fez, a gente saiu espalhando”, contou.

Brasileiras, como a influenciadora Patrícia Oliveira, responsável pela página Vida no Egito, auxiliaram na tradução das palavras de Sorrentino do português para o árabe.

“Nós nos sentimos tristes pela moça primeiramente, porque ela fala português, sabe o que estava sendo dito para ela, mas como funcionária e mulher não se viu no direito de reagir”, lamentou.

O caso ganhou atenção da imprensa egípcia em 29 de maio e chegou às autoridades.

Autoridades brasileiras acompanham o caso

 

A Embaixada do Egito em Brasília informou, em nota, que Sorrentino “foi impedido de embarcar em seu voo, que partia do aeroporto do Cairo, no final da noite de 30 de maio\madrugada de 31, depois que a polícia recebeu informações sobre o incidente que havia sido amplamente divulgado e que envolvia alegações de assédio sexual por meio de sua filmagem de um encontro com uma vendedora”.

O órgão acrescentou que, no dia seguinte, Sorrentino foi apresentado a um promotor que ordenou a detenção por 4 dias enquanto aguardava as investigações.

“A Embaixada ainda não recebeu nenhuma informação específica sobre quaisquer outras determinações do Ministério Público em relação a este caso. A Embaixada do Brasil foi notificada do assunto imediatamente, conforme exigido por lei, a fim de prestar assistência consular, e um representante da Embaixada tem acompanhado o Sr. Sorrentino em todo o processo”, afirma a nota.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Itamaraty, disse que “já foi informado sobre o caso e as autoridades brasileiras no Egito estão prestando assistência consular cabível ao cidadão”.

A Embaixada do Brasil no Cairo informou que “não divulga informações sobre cidadãos brasileiros”.

Fonte: G1