Lenira Berquó: uma mulher à frente do seu tempo

O filho e jornalista, Paulo Berquó, enviou o texto abaixo em homenagem à mãe.  Uma descrição da trajetória e da personalidade da alegretense, vítima da Covid-19, no sábado (19).

Se fosse possível descrever Lenira Dorneles Berquó em uma única expressão, seria uma mulher muito à frente do seu tempo. Infelizmente, a professora que foi inspiração para centenas e centenas de alunas e motivo de admiração para outras centenas de alunos, foi mais uma vítima da Covid- 19, não muitos dias depois de enterrar um filho, a maior dor da sua vida. Sim. A professora era mãe de Paulo André Berquó Saciloto, cujo falecimento gerou comoção nas redes sociais, casado com a pediatra Stella Simões Saciloto.

 

Lenira Berquó também era sogra do fisioterapeuta Sebastião Fialho Guedes, a primeira vítima da pandemia, da área da saúde em Alegrete. Ele era casado com a sua filha mais velha, a também professora Tanira  Berquó Farias. Lenira Berquó também era mãe do ex-vereador e atual diretor da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Paulo Berquó, e do municipário Paulo Amaro Berquó  Saciloto, casado com a advogada Lilian Pinheiro de Souza. Deixa os netos Arthur, Carmela, Isadora, Thor e Maria Fernanda, assim como o bisneto Henrique.  Considerava como filha mais nova a jovem Elaine Melo.

 

Costumava dizer que aprendeu com sua mãe, Leni Dorneles Berquó, a olhar para o chão e ver onde pisava, evitar os tropeços e ter metas. Com o pai, Paulo Berquó, aprendeu a olhar para cima, vislumbrar o céu e descobrir estrelas.

 

Lenira Berquó, Mulher Cidadã em 2013, foi por muitos anos professora do Instituto de Educação Oswaldo Aranha, ministrando as disciplinas de Língua Portuguesa e Psicologia Social. Também foi docente de Sociologia na Urcamp e no Colégio Divino Coração. A professora foi diretora da então Escola Nehyta Ramos e do Colégio Eduardo Vargas, com quem manteve sempre fortes laços afetivos.

Com o IEOA, a relação era ainda mais intensa. Foi na escola que estudou desde sempre, formando-se no Curso Normal como oradora da turma. No Cinquentenário do educandário, Lenira Berquó também foi a oradora oficial.

Nos movimentos culturais da cidade, esteve à frente da grande maioria nos anos 80 e início dos anos 90. Foi coordenadora de eventos como o Festival Alegretense da Canção, a Ronda da Canção Nativa, o Festival Nossa Gente Nossa Arte e a Campereada Internacional de Alegrete.

 

Foi secretária municipal de Turismo na administração José Rubens Pillar. E a partir de meados dos anos 90, militante do Partido dos Trabalhadores.

Com o Carnaval de Alegrete, tinha uma relação de paixão. Nos bailes do Clube Casino, era presença marcante. Canudense, foi destaque em desfiles épicos da escola e recebeu da verde e branco diversos reconhecimentos. A Escola de Samba Nós os Ritmistas prestou homenagem à professora, convidando-a para sair de destaque ao lado do seu companheiro de vida, o militar reformado João Rios, que encontra-se entubado, lutando pela vida, também vítima da covid. Foi seu terceiro e definitivo casamento, numa união de quase 40 anos.

 

A última homenagem veio das mãos de Cosete Ramos, amiga de infância, que entregou-lhe o Troféu Anita Garibaldi, em deferência especial durante o Prêmio Germinar.

Frequentadora da vida cultural e noturna da cidade, Lenira era “casa cheia”, onde chegasse era festejada. Escrevia crônicas e poesias de rara beleza, mas jamais as publicou em livros. Assinou coluna na Revista Guria, do jornal Gralha, por alguns anos, com afiada pena. Brincava que seu livro de crônicas, se publicado, levaria o nome “Histórias que não se conta”.

Lenira Berquó, mulher de beleza e inteligências raras, recusou diversos convites para trabalhar fora de Alegrete. Seu instinto materno sempre falou mais alto. Era feliz na cidade que amava e que a amava. Se estivesse rodeada dos filhos e netos, bastava.