Mãe faz alerta sobre síndrome causada por covid: “meu filho está internado há 60 dias, fazendo quimioterapia”

Nicollas, 14 anos, de São Caetano do Sul (SP), teve manchas pelo corpo, coceira e febre. Segundo a mãe, ele foi diagnosticado com Hemofagocítica, uma síndrome rara que foi causada pela covid. “Ele teve todos os órgãos comprometidos, foi intubado, tomou inúmeros remédios, mas, infelizmente não reagia”, lembra.

Nesta terça-feira (16), faz exatamente dois meses que Nicollas Anderson, 14 anos, de São Caetano do Sul, São Paulo, está internado. Segundo a mãe, a autônoma Sheila Cristina Cianfarani, o filho desenvolveu uma síndrome rara, chamada Hemofagocítica, por causa do coronavírus. Desde então, está passando por sessões de quimioterapia. “O primeiro sintoma foi uma alergia, bolinhas vermelhas na pele e coceira. Coçavam muito”, conta. “No dia 14 de dezembro, levamos ele ao pronto-socorro. Ele foi medicado e fomos pra casa. Dois dias depois, ele não aguentava de tanto que coçava, já estava no corpo inteiro, então, levamos novamente no hospital e ele internou para tratar a alergia. Como é protocolo do hospital, foi feito exame da covid e, para nossa surpresa, deu positivo”, lembra.

 

Cerca de quatro dias depois, o teste de covid deu negativo para o vírus, no entanto, o estado de saúde de Nicollas piorava a cada dia. “Ninguém mais sabia o que fazer. Ele tomava antibióticos, antialérgicos, todos os remédios possíveis, mas nada adiantava e o quadro dele só se agravava. Os orgãos dele já estavam praticamente todos afetados. Tinha água nos pulmões, derrame no coração, os rins já não funcionavam, o baço estava enorme, o fígado com hepatite e ele praticamente não respirava mais sozinho. Ele foi intubado, mas não reagia ao tratamento”, disse.

Até que uma médica hematologista foi chamada para fazer um exame de medula e foi aí que os médicos finalmente chegaram a um diagnóstico: síndrome Hemofagocítica. “Essa síndrome atinge raríssimas pessoas e por conta da covid, meu filho desenvolveu. Agora, ele está fazendo quimioterapia e, graças a Deus, está reagindo bem ao tratamento. Porém, é um tratamento muito especifico e por isso não pode sair do hospital”, lamenta.

Sem previsão de alta, a família está fazendo uma vaquinha online na tentativa de ajudar com as despesas. “Eu e meu marido trabalhamos por conta, eu faço marmitas, doces, bolos e tortas e meu marido entrega. Desde que começou a pandemia, nossas vendas diminuíram muito e já estamos há dois meses sem trabalhar. Nossas contas não param de chegar e, mesmo no hospital, temos gastos. Nunca pensei que um dia pediria uma ajuda desse tipo, mas, infelizmente, essa é nossa realidade hoje. Meu filho não tem previsão de alta ainda e fico ao lado dele 24 horas por dia”, contou.

Nicollas desenvolveu a síndrome após contrair covid (Foto: Arquivo pessoal)

Nicollas desenvolveu a síndrome após contrair covid (Foto: Arquivo pessoal)

SOBRE A SÍNDROME HEMOFAGOCÍTICA

Segundo o pediatra e infectologista Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, a síndrome de Hemofagocítica pode, sim, ser desencadeada pela covid. “Desde o início, temos falado que a covid provoca uma inflamação muito intensa no corpo. Em alguns casos, o organismo passa a agredir o próprio organismo. É o que chamamos de ‘tempestade inflamatória’, podendo levar a síndrome Hemofagocítica. Já temos vários casos descritos em literatura”, comentou. “Nesse caso, o diagnóstico é feito, principalmente, através do mielograma, um dos exames para avaliação da medula óssea”, completou.

O especialista afirma que, em relação aos sintomas, não necessariamente todos os pacientes apresentam manchas no corpo. “O mais comum é um quadro de anemia muito profunda, causada pela destruição precoce das hemácias e altos níveis de ferritina, uma enzima do sangue, o que causa fraqueza e febre persistente”, esclarece. “Uma das opções de tratamento é a quimioterapia. Quando o quadro se inslata, normalmente, o vírus nem está mais lá. O que temos é o organismo agredindo o organismo, então, precisamos reduzir essa resposta inflamatória. É um quadro potencialmente grave”, finalizou.

 

Fonte e crédito: Globo.com/Crescer