No Setembro Amarelo: um clássico exemplo de como vencer a depressão

O mês de setembro sempre é marcado por um tema muito importante, a campanha Setembro Amarelo que prevê a conscientização do suicídio, além de abordar um problema de saúde que tem um impacto significativo na população mundial, a depressão.

Neste período de pandemia, a campanha leva em consideração o aumento dos casos constatados durante a quarentena. O medo de uma nova enfermidade e o isolamento social, além dos problemas econômicos impactam diretamente na saúde mental das pessoas.

A redação do PAT conversou com uma jovem e vai trazer a narrativa feita por ela sobre esse problema. Neste caso, Vitória Ravana, carioca de 22 anos que reside em Alegrete há dois anos não tem somente uma ligação com o atual momento, mas descreve muito o que milhares de pessoas passam ou já vivenciaram com amigos e familiares.

O relato iniciou na primeira semana de setembro, quando a jovem fez um desabafo em uma de suas redes sociais.

Nele, Vitória descreveu o que estava sentido naquele momento em que postou uma foto ao lado de uma amiga, totalmente distraída e feliz.

Ela inicia questionando. O que você vê nessa foto? Pois quem olhasse teria a imagem de alguém muito alegre e despreocupa. Na sequência passou, de forma minuciosa, dizer o que ocorrera algumas depois do registro.

A Carioca, impressiona com o relato de uma crise de pânico, o primeiro que ocorreu. Ela segue falando que não é o mesmo que ansiedade ou depressão, mas foi desencadeado por eles. Nada vem sozinho.
“Pra mim, era “só depressão”, “depressão passa, é só aguentar mais um pouco”, eu pensava… E assim deixei pra depois e o depois traz problemas maiores. Eu não consegui lidar com as crises sozinha, me senti fora de mim, “maluca de camisa de força” como costumo dizer, e fica pior quando precisa envolver ajuda, afinal o problema não é deles”- comentou.

Vitória acrescenta que, hoje, tem conhecimento de que mais de 322 milhões de pessoas no mundo, sofrem com as crises e, a grande maioria deixa pra depois, assim como ela.
“Há dezenas de pessoas só no seu círculo social que são depressivas e se matam um pouco a cada dia e você não vê. Cuide de quem tem depressão, veja sinais, ouça, leve a sério, ofereça ajuda, segure na mão e vá junto, quem tem depressão não vai sozinho.Faça com que o Setembro Amarelo que você posta vá além das redes sociais.” – fez o apelo.

Dando continuidade à entrevista, Vitória explicou que veio para Alegrete no ano de 2018, à época, em razão de um namorado que era de São Paulo e fazia faculdade aqui. No decorrer do período, a relação teve fim e ela se viu morando sozinha e trabalhando para custear todas suas despesas. Mas algumas lacunas e preocupações foram o estopim para o início das crises de ansiedade e pânico.

” Na minha cabeça as pessoas não sofriam de ansiedade e depressão durante a vida, elas nasciam ou não. E, quando criança, recordo que em alguns momentos eu me trancava no quarto, chorava por nada, mas isso foram poucas vezes e passou” – citou.

No período em que Vitória teve as primeiras crises de ansiedade ela estava trabalhando em uma empresa de rede. “Minha gerente sempre foi uma pessoa incrível. Me ajudou muito, em todas às vezes que eu cheguei chorando e que ela percebia que não estava bem, jamais me cobrou vendas e metas, me ofertou ajuda, nunca vou esquecer. Mas infelizmente, sem alcançar minhas metas e com as crises mais constantes, minha opção foi pedir para sair. Eu já não conseguia pagar minhas despesas sozinha” – completou.

Porém, antes de sair, Vitória buscou auxílio de um profissional na área da saúde. Ela foi até um psicologa(a), que realizava consultas pelo plano de saúde da empresa, mas devido a burocracia, mesmo explicando a situação, não conseguiu consulta. “Quando um profissional na área fechou às portas pra mim, me senti muito mal. Isso torna tudo ainda mais complicado pra quem sofre depressão, a luz do final do túnel fica ainda mais distante. Na hora, senti que toda tentativa de pedir ajuda, todo sacrifício estaria ainda mais longe” – lembrou.

A carioca acrescenta que alguns dias depois recebeu ligação da secretária do profissional que havia procurado ofertando a consulta, como ela havia solicitado no primeiro momento em razão do plano de saúde, pois teria que pegar uma ficha. Mas, neste dia, já estava em casa e desempregada. Vitória tinha saído da empresa e estava com planos de retornar ao Rio de Janeiro, ainda no mês de abril. Entretanto em razão da pandemia, isso ficou mais complicado e ela acabou encontrando um novo amor.

Nesse momento, a vida passou a ter um novo sentido. Vitória salienta que o novo companheiro foi fundamental para que ela pudesse ser auxiliada, pois ele tem um papel muito importante em sua recuperação. “Ele passou a ler para compreender como me ajudar. Em várias crises foi meu protetor. Incrível que, ao falar com minha irmã sobre o assunto, soube que ela também sofre de ansiedade, assim como minha mãe e meu pai, já falecido; era esquizofrênico. Tudo isso, também passa pela genética. E, quando eu percebi estava consumindo bebida alcoólica e muito cigarro o que gerou uma hérnia de hiato. Tudo isso, eu consegui compreender e mudar radicalmente o cuidado comigo com a ajuda do meu namorado. Sem ele, talvez eu não teria conseguido sozinha.Por esse motivo, vejo a importância de ter com quem conversar, seja pai, mãe, irmão, companheiros, amigos. Eu tive o meu namorado que me acolheu, ele principalmente, mas também alguns amigos, a gerente da última loja que foi muito humana. É preciso falar, pedir ajuda. Embora, nem sempre as pessoas pensam que esse é o melhor caminho pois sentem-se envergonhadas, frustradas por suas fraquezas. Neste caso, o entendimento de alguém de fora é indispensável. Jamais deve-se virar às costas para quem de alguma forma apresenta algum esgotamento, físico, mental ou esteja pedindo ajuda e acolhimento” – concluiu.

Em Alegrete, além da rede de saúde que contempla o CAPS AD, CAPSI, CAPS entre outras ações, também há Centro de Valorização da Vida (CVV), que através do Núcleo de Apoio à Vida de Alegrete( NAVIALE) atende pelo número 188.