O advogado com a pandemia desenvolveu outra especialidade; gráficos estatísticos da Covid-19 em Alegrete

A história do alegretense Marco Dorneles Rego, serve como lição para aqueles que descontam no tempo um motivo para não realizar alguma atividade.

Aos 36 anos, Marco usa as 24 horas do dia trabalhando seja em casa ou nas suas atividades profissionais, que se especializou em fazer desde que iniciou a pandemia do novo coronavírus.

Formado em Direito, o alegretense morou por 12 anos fora de Alegrete e retornou em meados de 2015. Casado desde os 16 anos, ele tem dois filhos pequenos.

Desde que os casos de coronavírus foram se proliferando em Alegrete, Marco começou a compilar informações  e dados para elaborar os gráficos.

Com interesse pessoal, ele não tinha a dimensão que aquele trabalho ajudaria órgãos públicos de toda região Fronteira Oeste. Seu objetivo era simples, saber e acompanhar como estava a situação na cidade do novo coronavírus.

O trabalho começou em meados de abril, quando ele observou uma linha ascendente. Marco entrou em contato com a redação do Portal Alegrete Tudo, e em conversa com a repórter Flaviane Favero, acabou tendo o material publicado no site.

Foi através do primoroso trabalho  dele, que a Santa Casa entrou em contato e a partir dali tudo mudou.

O contágio de pessoas aumentava diariamente e os gráficos do alegretense ajudaram a entender e registrar a evolução da doença no município e, posteriormente, para as demais cidades que integram a Região 03.

Marco tem o dia corrido, cuida dos filhos, cuida das tabelas, tem seus afazeres profissionais e cuida da casa. Foi entre essa agenda agitada que consegui entrevistar o profissional que já trabalhou na prefeitura (Secretaria de Saúde), 10ª CRS.

Confira os principais trechos do bate-papo com o alegretense que mapeou a evolução da Covid-19:

Formado em Direito, tu se especializou em gráficos sobre a evolução de casos de coronavírus. Que história é essa?

Em meados março a pandemia começou se disseminar  no Brasil. Em abril tivemos nosso primeiro caso na comunidade. Algumas semanas depois percebi que havia um constante aumento nos casos dentro do nosso município, foi quando comecei coletar vários dados, coisa bem simples, construindo um gráfico. Desta forma ficou visível que estávamos em uma curva plenamente ascendente, e de rápida propagação, e não havia à época qualquer material referente a isso, consequentemente a população não tinha ideia do que estava ocorrendo, pois somente víamos números, não era possível  saber se estávamos tendo um aumento, uma diminuição ou até mesmo uma estabilidade na ocorrência de novos casos.

Teu trabalho ganhou notoriedade, como tu avalia essa nova atividade?

Meu trabalho passou a ter notoriedade quando procurei o PAT, pois sabia que o Site tem uma grande visibilidade em nosso município. Não tinha muita pretensão, pois meu objetivo era simplesmente chamar a atenção das autoridades competentes e, principalmente, da população em demonstrar o crescente número de novas infecções. Foi quando tive contato o médico Glênio Bolsson, este no mesmo instante marcou uma reunião na Santa Casa, onde estavam presentes ele e a Dra. Marilene Campangnolo (diretora técnica do hospital). Foram extremamente receptivos ao meu trabalho já apresentado, pois não havia nada que pudesse os orientar daquela forma, onde fosse possível ‘’ver’’ o avanço da pandemia em nosso município.

Foi um trabalho elogiado e na hora certa. Houve aproveitamento imediato?

Com relação à avaliação, foi considerada uma ferramenta importante para visualizar em tempo real como se comportava o vírus em nossa comunidade, podendo à época fazer previsões de curto e médio prazo de como a situação iria ou não se agravar.

Essa tua dedicação pode ser creditada a pandemia do novo coronavírus?

Com toda a certeza, pois trabalhava em outra área quando comecei, sem pretensão política ou econômica. A confecção dos gráficos foi sendo aprimorada com o tempo. Foi preciso horas de estudo, foco e dedicação de minha parte, nessa fase começaram a ‘’tomar mais meu tempo’’.

Qual a tua rotina atualmente?

Hoje minha atual rotina foi totalmente alterada em função deste trabalho, embora em home office é uma rotina árdua na manutenção e conferência dos dados, reuniões no Comitê de Emergência, na 10ª CRS, e concentrando-se principalmente na absorção de novas informações, estudos de universidades conceituadas e nesta área incluindo, a OMS e constante leitura e aprendizado.

Morou fora de Alegrete por mais de 10 anos. De que forma isso te ajudou para desenvolver este importante trabalho?

Acredito que isto tenha colaborado, e muito, pois nos lugares que estive tive a oportunidade de ter uma visão mais ampla de como as coisas funcionavam no âmbito municipal, por exemplo. Tive também a oportunidade de conhecer pessoas que fizeram-me crescer muito neste sentido.

Teus estudos já previam essa 2ª onda, se é que podemos definir assim?

Sim, com toda a certeza, pois durante dias de estudo comecei fazer comparativos entre 14 países que estavam à frente na ‘’caminhada’’ da pandemia, que haviam começado antes a confirmação de casos, e foi possível visualizar a curva crescente, estabilização e curva decrescente, e, posteriormente, novamente a ascendência dessa curva.

Então, tu mapeou e monitorou o comportamento do vírus na 3ª Capital Farroupilha ?

Dessa forma, verifiquei que o vírus tinha um comportamento igual em várias regiões do mundo, independendo de clima, faixa etária ou potencial econômico, que tudo baseava-se no comportamento populacional, pois países que tinham regras mais rígidas com relação ao distanciamento social, tendenciavam-se ao arrefecimento da propagação deste novo vírus.

Qual o maior ensinamento dessa pandemia?

Do meu ponto de vista foi a empatia, consciência e colaboração coletiva de se colocar no lugar de outro, pois fora de grupo de risco, e não possuindo parentes próximos nesse grupo, era facilmente perceptível que a não propagação acelerada do vírus, em qualquer parte do mundo dependeria muito mais de consciência coletiva do que individual.

O que tu pode notar nos gráficos sobre a evolução dos casos. Deu para analisar com o vírus se comporta em Alegrete?

O vírus na nossa comunidade comporta-se da mesma forma como qualquer lugar do mundo, com seus ciclos,  ascendências, estabilizações e descendências, todas essas etapas diretamente vinculadas ao comportamento da população de um modo geral.

Corremos o risco de entrar o mês de janeiro com muitos contágios ou não é seguro fazer essa projeção?

Isso não há como prever, pois existe um termo que denomina-se relação de ‘’causa e efeito’’, ou seja, todas medidas tomadas para controle de velocidade de propagação do vírus,  hoje, somente surtirão efeito perceptível num período de 15 a 21 dias. Tudo dependerá do comportamento da população, com relação ao cumprimento de regras, decretos ou protocolos.

Nesse momento delicado, qual a tua mensagem para comunidade alegretense?

A minha mensagem para comunidade alegretense neste momento, é o USO CORRETO DAS MÁSCARAS, estas são cientificamente comprovadas com relação à redução da quantidade de carga viral que é ‘’absorvida’’ pelo nosso corpo. É extremamente compreensível o fato de que a população esteja ‘’cansada’’ das medidas que de certa forma são impostas, sem contar o setor comercial que vem sofrendo continuamente com as ondas de propagação do vírus, por isso insisto:

‘’USO ADEQUADO DE MÁSCARAS, DISTANCIAMENTO SOCIAL e ÁLCOOL EM GEL, SÃO AS ÚNICAS FORMAS QUE TEMOS DE COMBATER A PROPAGAÇÃO ACELERADA DO VÍRUS. VAMOS COMBATÊ-LO COM ESSAS QUE SÃO AS ÚNICAS  FERRAMENTAS  QUE A GENTE TÊM.’’

Júlio Cesar Santos