No ano de 1974, nascia o Centro de Tradições Gaúchas. Ano mais tarde, era criado um espaço dedicado aos cuidados com o cavalo, companheiro inseparável do gaúcho fronteiriço, com 40 baias para abrigar os animais.
Dali em diante, o trato e o preparo dos animais virou referência na região. Segundo o historiador alegretense, Homero Dornelles, o local onde foram erguidos os estábulos foi cenário do combate da Ponte. Era 1923, na margem esquerda as forças de Flores da Cunha (Chimangos), à margem direita, no leste, forças de Honório Lemes (Maragatos). Homero conta que a batalha foi sangrenta e muitos homens tombaram ali onde estão localizadas as mangueiras e dependências do CTG.
Em 1956, na data do centenário de elevação da cidade de Alegrete, o Centro de Tradições organizou uma representação à cavalo denominada “Cavalhadas”, entre mouros e cristãos. Em 1979, o Farroupilha sediou a primeira Campereada Internacional de Alegrete. Em 91, a festa trocou de local, passando para o Parque Doutor Lauro Dorneles.
A história relacionada ao cavalo segue viva. É o que conta um dos frequentadores assíduos do local: Marcelo Loureiro, 37 anos, que aos nove anos de idade ganhou a primeira égua. E já são 28 anos de centro. “Me sinto em casa, aqui o animal é tratado com carinho”, explica Loureiro.
Na última semana, haviam 30 cavalos nas cocheiras. Numa rotina diária de 24 horas de zelo e cuidado com animais de diversas pelagens e raças. Com três treinadores credenciados, sócios e simpatizantes deixam seus cavalos aos cuidados dos tratadores. Aos fins de tarde e finais de semana, lá estão. A montaria é garantida com passeios pelas dependências do CTG.
Os cavalos servem para o lazer, esportes, exposição morfológicas, provas campeiras e para o desfile de setembro. Há muitos premiados no local. Maracanã da Reconquista, BT e Garanhão são um dos destaques. Também há uma amazona multi premiada no Centro, Bianca Botaro, que coleciona títulos de hipismo até em provas internacionais de salto. Seus cavalos recebem tratamento vip assim como os demais que pernoitam no CTG.
O pequeno João Vitor, 13 anos, é a revelação do laço. Arrematou o título da categoria na Campereada 2015. Não fica um dia longe das baias. Primeiro, encilha seu pingo, e depois, treina exaustivamente as técnicas de laço. “Isso aqui é meu mundo, gosto do que faço”, descreve o garoto com uma risada tímida.
A rotina entre os cuidados com os animais envolve quase as 24 horas do dia. Até o churrasco é regra no cardápio, seja como almoço ou no jantar. Desde o banho à tosa, os cavalos recebem um tratamento diferenciado que reflete no orgulho de seus proprietários.
É possível participar do jogo do pato, do laço na vaca mecânica, da escolinha de equitação, passeios de crianças e jovens. Tudo com o cavalo. Em maio, o CTG promove seu rodeio anual, alguns animais já se preparam para marcha do cavalo crioulo.
No local, o homem e o cavalo vivem em sintonia há 60 anos e, se depender dessa geração, estão garantidos mais sessenta.
Por: Júlio Cesar Santos da Luz