Os dilemas da pediatra que cuida de crianças em estado terminal

Manuella, de 1 ano e 8 meses, pôde passar as duas últimas semanas de vida em casa, cercada pelos pais, avós e outros parentes, em vez de aguardar a morte numa UTI. Mas, no Brasil, é quase impossível morrer em casa, diz a médica Cinara Carneiro.

Médicos e enfermeiros emocionados se despediam de Manuella, que, vestida de azul e rosa e laço na cabeça, recebia naquele dia alta do hospital após meses de internação. Um misto de alegria e tristeza se desenhava no rosto dos cuidadores. Era uma alta diferente.

Manuella, de 1 ano e 8 meses, estava indo para casa para viver seus últimos dias, cercada pelos pais e avós. Iria rever toda a família, o seu quartinho e brinquedos antes de morrer.

“A equipe de pediatria estava toda lá e o pessoal da UTI saiu para vê-la. Até quem estava fora do hospital foi até lá tirar foto com ela e se despedir. Ficamos muito emocionados. Tinha a tristeza de saber que era o fim da vida dela, mas foi também bonito, porque sabíamos que ela estava saindo para ser cuidada pela família”, relatou à BBC News Brasil a pediatra intensivista Cinara Carneiro, que cuidou da bebê enquanto ela esteve internada na UTI do Hospital Otoclínica, em Fortaleza.

Carneiro trabalha com cuidados paliativos no Sistema Público de Saúde (SUS) e em hospital particular. Ela se dedica a cuidar de crianças com enfermidades ou condições de saúde sérias, que podem não ter muito tempo de vida pela frente. A missão é garantir que o tempo que a criança tiver de vida seja o melhor possível – que ela receba atenção individualizada, afeto, tenha experiências, e não sinta dor.

Por isso, quando possível, Carneiro tenta viabilizar que a criança tenha alta do hospital e receba cuidados em casa. No caso de Manuella, a preocupação era garantir que a menina convivesse o máximo possível com toda a família – que a mãe e o pai pudessem aproveitar cada minuto com a filha e se despedir.

“Em casa, eles iam conseguir ter uma dinâmica mais saudável, com mais privacidade e com a presença de outros familiares. No ambiente hospitalar, a gente não tem como receber a visita da avó, da tia, de amiguinhos”, diz.

Carneiro lembra que ficou emocionada ao receber da mãe de Manuella uma imagem da bebê em casa.

“Tinha uma expectativa grande de ela estar no quartinho dela. E, quando ela chegou em casa, a mãe mandou foto para a gente. A Manu estava lá na caminha, com coberta toda rosa e ursinho.”

Fonte: G1

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