Pais que viveram a angústia de deixar os pequenos numa UTI neonatal comemoram a recuperação dos filhos. Mães contam com foi acordar dias após o parto.
Durante a pandemia, mais de 141 mil bebês nasceram no Rio Grande do Sul, conforme dados informados pelos cartórios de registro ao Portal da Transparência. Além de transformar a espera pelos bebês, a pandemia fez muitas famílias lidarem com a chegada dos filhos antes da hora.
Em muitos casos, a Covid-19 obrigou a antecipação dos partos. Foi o que aconteceu com a Francys Monteiro, de Tapejara. Em estado grave por causa da doença, ela precisou ser intubada e a gestação interrompida nas 31 semanas.
“Foi tudo diferente. Não teve chá de fraldas, não teve gente visitando, não deu tempo de tirar as fotos de grávida porque aconteceu tudo muito rápido”, lembra. Ela só acordou nove dias depois do nascimento da Maria Luiza.
“Não consigo nem lembrar da minha transferência daqui de Tapejara pra Passo Fundo. É como se eu não tivesse vivido isso. Não me lembro dos médicos, da equipe, nada, conheci todo mundo depois”.
A angústia foi vivida ao lado do marido, o Bruno Biazotto Albuquerque.
“Ela não conseguia mais falar, ela não entendia mais o que a gente conversava. Foi muito difícil. Foram quase 60 dias não sabendo o dia de amanhã”. Hoje, eles já estão em casa curtindo a primeira filha.
‘Vazio’ na volta pra casa
Sofia completa um ano no dia 16 de abril. — Foto: Arquivo pessoal
O tempo também desafiou o Leandro Lui e a Eliane Lui, de Santa Bárbara do Sul. Com outras complicações na gestação da Sofia, o parto foi antecipado, e ela precisou nascer com apenas 29 semanas de gestação, em abril do ano passado. A bebê ficou 55 dias internada em Ijuí.
“Foi um susto pra gente. Nós estávamos com um mês e pouco de pandemia e fomos pra outra cidade sem conhecer ninguém”, conta Leandro.
“A minha filha nasceu e eu estava sozinho. Eu não tinha ninguém pra abraçar, não tinha ninguém pra beijar. Os primeiros, 15, 20 segundos foram de alegria tremenda. Olhando ela, depois me deu pânico, me deu tristeza”, complementa.
A Eliane também não vai esquecer os dias angustiantes. “A gente saiu do hospital com um vazio. Só eu ele, ela lá internada. A gente não sabia o que ia acontecer, como é que estava, quanto tempo ela ia ficar”.
No próximo dia 16, Sofia completa um ano e o coração dos pais é só gratidão. “Ela é uma guerreira de verdade. Nasceu prematura, com baixo peso, precisou de intubação e hoje está aí, feliz da vida”, comemora Leandro.
Angústia em dobro
Enzo e Lorenzzo. — Foto: Arquivo pessoal
Em Passo Fundo, Viviane e Cleomar viveram essa angústia em dose dupla. A gestação de Enzo e Lorenzzo era de risco. Eles também chegaram antes da hora e ficaram quase três meses no hospital. A maior parte do tempo na UTI.
“Pra nós é um sonho realizado porque a gente esperou por oito anos e daí perdemos um. Deu uma tristeza, e daí Deus mandou em dobro agora. A gente convidou bastante padrinho pra eles, e daí os padrinhos ficavam eufóricos perguntando ‘quando que vão vir’?”, recorda o pai dos gêmeos, Cleomar da Silva Pena.
No meio de tudo isso, a mãe dos meninos, a Viviane Silva teve covid-19.
“Dois guerreiros, tudo que passaram lá no hospital no meio dessa pandemia, graças a Deus não pegaram”.
Covid-19 e bebês
Embora seja pouco comum, a contaminação por coronavírus em bebês preocupa, como explica a coordenadora da CTI Neonatal e Pediatra do Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo, Jaqueline Cabeda.
“O que pra nós é apenas um resfriado, uma gripe leve, pro bebê pode virar uma pneumonia. Eles não têm muita imunidade, o pulmãozinho deles é menor, o acúmulo de secreção é maior, eles sofrem mais”, comenta.
“A melhor vitória pra gente é quando eles conseguem dar alta, os pais bem faceiros, eles bem gordinhos”, acrescenta.
Quem convive com bebês precisa ter cuidado redobrado com higiene e distanciamento.
“Mesmo tão novo assim, que eles são, tão pequenos, eles mostraram pra gente que são grandes. Mostraram pra gente o valor da vida. Eles nasceram e a gente nasceu junto com eles que agora é outra vida”, finaliza Cleomar.
Fonte: G1