
Fundador e líder do grupo Os Monarcas, Gildinho dedicou mais de 50 anos à música tradicionalista, tornando-se uma das maiores referências culturais do Rio Grande do Sul. O velório será realizado neste domingo, 12 de janeiro, no CTG Sentinela da Querência, em Erechim.
A trajetória de Gildinho começou em 1972, com a criação do grupo Os Monarcas. Desde então, o grupo gravou 51 discos, conquistando prêmios como o extinto Prêmio Sharp e o Prêmio Açorianos em quatro ocasiões. Gildinho também recebeu homenagens como o Troféu Guri, a Medalha do Mérito Farroupilha e foi patrono da Semana Farroupilha. Apesar das adversidades, incluindo uma luta de 20 anos contra um tumor na tireoide, ele permaneceu ativo nos palcos, mantendo o estilo que marcou gerações e consolidando Os Monarcas como uma referência da música de baile no estado.
Em Alegrete, o músico e radialista Gerson Brandolt relembrou sua experiência ao entrevistar Gildinho.
“Gildinho foi um dos grandes nomes do cancioneiro gaúcho. Parte, mas deixa uma história bonita, um legado muito grande para a música fandangueira. Tive o prazer de entrevistá-lo durante uma tarde e saber um pouco da vida dele, assim como toda a dedicação em se tornar gaiteiro. Toda dificuldade daquele tempo, pois hoje é muito fácil espalhar a arte para o mundo. Mas no início da carreira dele não era assim, tinha que correr atrás de programa de auditório em rádio, além da gravação de disco que era diferente, hoje se grava em casa, se faz parcerias em qualquer lugar. Ele fez uma trajetória belíssima, sem nunca perder a autenticidade. Os Monarcas permanecem no mesmo estilo gaúcho, aquela música de baile para se dançar. É uma bela história, com certeza Os Monarcas seguem com o legado dele. Tudo tem um tempo, de chegar, permanecer e partir, mas o Gildinho é um dos grandes da música gaúcha.”
Outro depoimento marcante veio de Deivid Zacarias, integrante do grupo Os Monarcas e natural de Alegrete.
“Sempre fui fã dos Monarcas e nesses três últimos anos que convivi com ele, aprendi muito, sobre música, gestão, patrão, amigo. Pra mim, o maior ícone da música gaúcha. O Gildinho onde chegava, parava tudo. Ele atendia a todos os fãs, independente de horário, sempre com sorriso no rosto. Pra mim, ele é sem dúvidas o maior ícone, como pessoa. Pra nós dos Monarcas é uma perda irreparável, mas o legado dele vai continuar, é um trabalho de 53 anos, são belos exemplos de solidariedade, de amigo, pai, gestor. Ficará saudades, mas a música vai ecoar para o resto da eternidade e vamos levar esse legado que ele nos deixou.”
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“É difícil para mim e para qualquer um da família. Um dia triste, uma perda irreparável. Não existem palavras, mas quero dizer muito obrigado por tudo o que ele fez pela cultura e por mim. Honrar o nome dele, a família e levar o legado dele por meio da música é o nosso compromisso. A maior homenagem é cantar o que ele fez e ouvir suas músicas. Agradeço a todos pelas mensagens e pelo carinho. Que a voz do Gildinho não se cale”, disse, muito emocionado, o sobrinho e cantor João Luiz Corrêa ao PAT.
Nos últimos meses, Gildinho enfrentava uma saúde fragilizada. Em novembro, foi internado no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, onde foi diagnosticado com um tumor na próstata. Ele morreu às 17h15, cercado pela família. Sua filha, Sandra Márcia Borges Corrêa, recorda os momentos finais do pai.
“Ele já não conseguia se expressar, mas fazia um esforço para cantar o tempo todo. Fazia movimentos com as mãos como se estivesse com a gaita e olhava para nós. Foi algo que me marcou muito. Ele foi um guerreiro, enfrentou tudo com bravura.”
Além da esposa, Santa, Gildinho deixa duas filhas, Gisele e Sandra, e um legado que atravessa gerações. Sua partida encerra um ciclo, mas a obra que construiu continua presente na música e na cultura do Rio Grande do Sul.