Taxistas enfrentam dias difíceis na profissão e o coronavírus agravou a situação

Nos últimos meses, duas expressões  entraram no vocabulário de todos os brasileiros: Covid -19 e o novo coronavírus.

Essa doença até então desconhecida para grande parte do mundo, passou a trazer muito medo nas cidades, mudando completamente a forma com que as pessoas se relacionam.

Abraços, apertos de mão ou beijos no rosto passaram a se tornar riscos de transmissão da doença e por isso são evitados. Por outro lado, o álcool em gel e o uso da máscara se tornaram uma “arma” do dia a dia contra o vírus.

Em meio às restrições, inúmeras categorias profissionais estão mais expostas aos riscos de contágio, entre elas os taxistas. Eles estão em contato direto com o público, o que pode colocá-los em situação de vulnerabilidade. Por outro lado, a diminuição de gente na rua, a diminuição do fluxo no comércio e as medidas restritivas, estão afetando diretamente os ganhos da categoria.

Há mais de 28 anos, o trabalho realizado no ponto de táxi ao lado da Santa Casa, marca a trajetória de Carlos Edenir Goularte Keffer. No dia de ontem(13), o trabalhador completou 55 anos.

Com mais da metade de sua existência atuando como taxista, Carlos conversou com a reportagem sobre os desafios atuais e alguns dos momentos mais marcantes de sua vida.

Atualmente, ele é o 2° mais velho naquele ponto e exerce a função de Delegado do ponto. Além de trabalhar no mesmo local há quase três décadas, um dos filhos também está seguindo os passos do pai e divide os turnos com o taxista.

A entrevista com Carlos foi em razão do momento atual, as dificuldades pela pandemia e o receio dos ataques(assaltos), que os trabalhadores da classe vêm enfrentando neste período de crise. Há cerca de dez dias um taxista foi esfaqueado na Vila Nova. O assaltante levou dinheiro e fugiu, já o trabalhador teve que passar por atendimento médico, mas felizmente sobreviveu ao ataque.

Além de sair diariamente para trabalhar e não ter muito certo quanto vai ter de chamados naquele dia, o taxista ressalta que muitos colegas deixaram de trabalhar à noite, nos últimos dias. ” O receio é principalmente em relação aos assaltos. Nenhum taxista trabalha com valores expressivos, até porque há noites que são muito tranquilas, mas para o assaltante, isso não é algo que ele vai analisar” comentou.

Carlos também descreve que todos são fiscalizados e trabalham dentro de todas as exigências da OMS. Essa prevenção não é apenas em razão do passageiro, mas para eles também, pois o ponto dele é ao lado da Santa Casa.

Falando em sua história nestes anos todos, ele cita que sempre conseguiu garantir o sustento necessário à família com a sua profissão. Quando começou, lembra que foi com um Fiat 147, todo branco, até as rodas. Isso em homenagem à Santa Casa, local que trabalhou por nove anos e, ao sair, decidiu ser seu próprio “chefe”.

“Recordo que durante o tempo que trabalhei na Santa Casa, era motorista da ambulância e também atuava na funerária que era do hospital, naquela época. E, um dos fatos que mais marcou minha vida, foi ter transportado o Doutor Romário, um anjo para os alegretenses, um médico que sempre foi um Santo, nem sei explicar. Porém, às vezes em que ele passava mal e eu tinha que buscá-lo em casa, de ambulância, para fazer medicação, me comovia com a força e serenidade daquele ser que sempre foi um protetor para muitos, pela bondade e dedicação aos seus pacientes.

Romário Araújo de Oliveira, realizava partos e dava consultas gratuitamente em Alegrete e também era chamado de “médico dos pobres”. Mas, além do transporte para Santa Casa, no dia 4 de agosto de 1988, aos 67 anos, o médico faleceu.

Mais uma vez, fui incumbido de preparar o corpo para o velório e, lembro como se fosse hoje, pela primeira e única vez, isso aconteceu dentro do apartamento que ele estava na Santa Casa, pois não tinha como tirar o corpo devido à multidão que cercou o hospital. Assim que o caixão saiu, milhares de pessoas acompanharam em cortejo até o Centro Cultural, onde foi realizado o velório. Essa é uma passagem que marcou muito minha vida” – comentou Carlos ao descrever um trecho do trabalho realizado antes de decidir ser taxista.

Embora, ele reconheça que hoje os tempos estão difíceis, ressalta que outrora o trabalho foi árduo, mas do Fiat 147, passou para o seu primeiro carro zero, no ano de 1995, um Versalles, que trabalhou durante 15 anos e depois os demais carros. Além de ter conquistado duas casas, tudo com a renda do trabalho diário e permanente no mesmo ponto, ao lado da Santa Casa.

Carlos também relembrou de uma noite em que colocou um motorista para trabalhar em seu lugar, o mesmo foi assaltado e sequestrado. O homem foi liberado na Harmonia e o carro localizado dois dias depois em Uruguaiana. Isso, já ocorreu há alguns anos.

Ao encerrar a entrevista, ele que estava de aniversário, disse que o maior presente é ter a família com saúde. “São muitas histórias que poderia contar, são anos trabalhando na noite e também de dia. São passagens bonitas, mas também, presenciei muitas tristes. Por esse motivo, mesmo com a dificuldade de cada um, suas limitações entre outras situações, o mais importante neste período é ter o entendimento de que, precisamos todos nos cuidar e cuidar de quem amamos” – finalizou.

Flaviane Antolini Favero