Vargas, a sapataria que resiste ao tempo há mais de 90 anos

Uma linda história de amor ao trabalho de uma profissão em extinção. Há mais de 90 anos, a tradicional Sapataria Vargas, já está na quarta geração e mantém um trabalho de excelência e referência em Alegrete.

O início foi em 1927 com  Dorvalino Dorneles Vargas. A trajetória da empresa é perpassada pela vida de muitos  alegretenses que, em um momento ou outro chegaram à sapataria para consertos de sapatos, cintos e até mesmo compras, pois houve um período em que também a empresa fabricava calçados femininos, masculinos, botas, arreios de montarias e a inovação com produtos esportivos.

 

Com 633 pacientes ativos, Alegrete registra mais uma morte pela Covid-19

 

 

Hoje, quem está à frente da sapataria é o filho de Dorvalino, Denival Padula Vargas, 83 anos, o filho Henrique e o neto William Vargas.

Denival (brinca que o seu nome é único, só existe o dele) conta que quando tinha 13 anos saia às 16h45 do Oswaldo Aranha e, a pedido do pai, ia para a Sapataria do seu Percival, na Barão do Cerro Largo, para aprender o ofício. Muito curioso, diz que logo já dominava quase tudo, desde fazer botas, sapatos e todos os tipos de consertos.

Um fato curioso, foi que em todas as décadas de trabalho, ele relembra, principalmente, neste período de pandemia, o período em que trabalhavam com cadernetas anotando consertos de professores, médicos, agropecuaristas de Alegrete. Ainda eram seus clientes de carteirinha, funcionários da CEEE e CORSAN.

A rotina de síndicos que desempenham um papel importante na vida de um condomínio

“Era sagrado, no final do mês as professoras vinham acertar as contas.  Já os pecuaristas, que faziam muitas botas e artigos de encilha  pagavam de ano em ano. Meu pai chegou a pegar o tempo em que se pagava um par de botas com uma vaca,” conta Vargas.  Dorvalino tinha parentes que criavam e logo vendiam os animais. A Sapataria Vargas é a segunda empresa mais antiga de Alegrete. A longevidade, segundo a família Vargas, se deve a tradição, qualidade do serviço e o bom atendimento.

Questionando quando vai parar de trabalhar, Denival,  fala confiante: ” Vou até quando Deus quiser! Gosto de trabalhar. Se tem muito serviço, venho até domingo ou feriado para a Sapataria”, responde.

Reconhecimento e homenagens:

Em 2007 a Câmara de Vereadores homenageou a Sapataria Vargas, à época, pelos 80 anos. Já em 2008, O sindicato do Comércio e o Centro Empresarial de Alegrete, homenagearam Denival Vargas  pelos serviços prestados à comunidade, sendo o mais antigo empresário em atividade.

O início

Os primeiros imigrantes Vargas chegaram a capitania do Rio Grande entre 1751 e 1752, foram Antônio José de Vargas e José de Vargas, oriundos da Freguesia de São Miguel, na Ilha de Faial, arquipélago de Açores, Portugal.

Otavio dos Santos Vargas e Simpliciana Dornelles Vargas, também, eram imigrantes portugueses. Na vinda para o rio Grande do sul, conheceram a família de Jacob Knijnik, primeiro proprietário da Loja Defesa dos Noivos em Alegrete com quem cultivaram uma grande amizade.

O casal se estabeleceu no sub-distrito do Guassuboi, onde eram fazendeiros. Desse matrimônio tiveram 12 filhos. Dorvalino Vargas e os irmãos vieram para a cidade em razão da escola. Depois, aos 18 anos, alistou-se no quartel e foi para Santana do Livramento. No retorno para Alegrete, Dorvalino Vargas foi trabalhar com o irmão Pacifico de sapateiro e barbeiro.

Haitiano que esfaqueou a companheira foi preso por tentativa de feminicídio

Na sequência, optou pela profissão de sapateiro para prover o sustento da família, em um universo de trabalho especializado e muito restrito. Foi então que, em 1927, adquiriu a primeira máquina de costura, uma Singer, momento em que decidiu fundar a Sapataria Vargas, naquele ano, na esquina da Rua Dos Andradas com a rua Venâncio Aires.

Neste tempo conheceu Jacomina Pesse Padula, natural de Padula na Itália. O sogro, Nicola Padula, trabalhou na construção do Casino em Alegrete, era pedreiro. Do matrimônio tiveram quatro filhos, Pedro, Elza Dinival e Otávio.

A aposentadoria

Em 1959, Dorvalino aposentou-se e passou a atividade para os filhos Denival e Otávio. No mesmo ano, também foi homenageado pela antiga associação Comercial de Alegrete pelos serviços prestados à comunidade.

Dorvalino faleceu em 1984, dois anos após a esposa. Porém, a tradição dos Vargas estava consolidada pois Otávio continuou até o ano de 2000, quando se aposentou. Mas o irmão Denival Vargas, decidiu permanecer à frente da empresa genuinamente alegretense.

Hoje ele trabalha com o filho Henrique Domingues Vargas( Bacharel em Direito) e o neto Willian Model Vargas. Um dos funcionários com mais tempo de casa foi José Antônio Toledo com mais de quatro décadas.