Vendedor das flores da “saudade”

 
Durante o ano inteiro, faça chuva, faça sol, o vendedor Jorge Luis Muruci, 38 anos, está com sua banca de flores na calçada defronte ao Cemitério Municipal, e se diz o vendedor mais antigo das feiras que comercializam flores no Cemitério.
O Portal de Alegrete Tudo foi saber um pouco mais a história desse alegretense que trabalha no local de maior movimentação nesta época.
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Portal – Há quanto tempo você trabalha nesta atividade ?
Muruci – São 21 anos aqui. Sempre trago baldes com diversas flores, mudas em mural. Já sou figura conhecida da Avenida da Saudade.
Portal – Da onde vem essa produção de flores ?
Muruci – Essas rosas são adquiridas de uma empresa paulista. Faço pedido e mensalmente entregam aqui. No entanto, 40% das flores são plantadas por mim mesmo. Cultivo várias espécies para poder agradar os clientes.
Portal – Quantas horas do dia você trabalha com flores ?
Muruci – São 12 horas direto aqui. Sempre chego cedo e só saio à noitinha. Isto aqui é meu sustento!
Portal – Então você sustenta a família com venda de flores ?
Muruci – Sim, mas eu não vendo só flores. Faço pinturas, reparos em túmulos, limpo jazigos. O pessoal me contrata para serviços diariamente.
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Portal – Nestes últimos dias você está sobrecarregado pelo Dia de Finados ?
Muruci – Rapaz, eu tive que contratar mais dois ajudantes para dar conta de todos os trabalhos. Nesta sexta-feira (31) foram 6 jazigos lavados. Na semana passada, perdi as contas de quantos túmulos pintamos, sem falar da venda de flores, que neste sábado e domingo vai aumentar.
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Portal – E essa cultura mística de assombração, existe mesmo ? Você acredita ?
Muruci – Olha, antigamente se tinha mais isso. Lembro-me que uma vez estava limpando um jazigo e deixei uma garrafa de água cheia, quando abri a porta a garrafa virou. Sabe, tu via uns vultos, mas eu não acredito nisso. Para mim, é um trabalho normal como qualquer outro.
Portal – Diariamente você presencia e convive com enterros e com a saudade e tristeza dos que aqui vêm. Pode citar um momento que te consternou muito?
Muruci – Todos deixam a gente triste. Ver o sofrimento alheio não é fácil, mas lembro-me do Doutor Romário. Foi muito triste! Recordo também até hoje com muita tristeza, o da menina da boate Kiss, e recentemente do casal que morreu em um acidente, o do comandante do quartel.
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Portal – Neste Finados qual é tua mensagem ?
Muruci – Um dia triste, difícil falar né?! Mas deixo meu sentimento de conforto para todas as pessoas que perderam um familiar, amigo, colega. É preciso lembrar sim, vir aqui colocar flores, deixar tudo limpo, mas quero lembrar que na verdade os mortos estão enterrados em nós mesmos. Que Deus nos ajude a conviver com isso.
2014-10-31 10.56.30Por: Júlio Cesar da Luz