À espera de leito de UTI, paciente com Covid morre 30 minutos antes da transferência no RS

Adilmar Ivandro da Rosa, de 46 anos, era cadeirante e morava com o irmão, a cunhada, a mãe e a sobrinha, de cinco anos, em Boqueirão do Leão. Família inteira testou positivo para doença, mas apenas ele apresentou sintomas graves.

Por uma questão de 30 minutos, Adilmar Ivandro da Rosa, de 46 anos, não resistiu e faleceu à espera pela transferência para um leito de UTI. Internado no Hospital Dr. Anuar Elias Aesse, o único de Boqueirão do Leão, no Vale do Rio Pardo, ele teve a vaga requisitada por volta das 15h30 do dia 20 de fevereiro. Mas quando a transferência foi autorizada, cerca de 12h depois, já era tarde demais.

Adilmar morreu enquanto recebia a pré-intubação para aguardar pela ambulância. O óbito comoveu toda a equipe.

“Médico e enfermeiras tentaram de tudo. Eles foram anjos. Mas não foi possível. Choraram junto conosco”, conta ao G1 a cunhada, Maira Barbon, casada com André Luís da Rosa, irmão de Adilmar.

As informações foram confirmadas pelo hospital. O G1 entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, mas até a publicação dessa reportagem, não recebeu resposta.

Cadeirante, devido a uma paralisia infantil, Adilmar morava com o irmão, a cunhada, a mãe e a sobrinha, de cinco anos. Já internado, solicitou que pudesse ver a menina.

“Ele pedia muito pra ver minha nenê no seu último dia de vida. Mas não tinha como”, afirma.

Todos os residentes da casa foram contaminados pela doença, mas somente Adilmar apresentou sintomas graves. “[Ele tinha ] uma tosse muito feia. Dizia que não tinha falta de ar, mas a gente via ele ofegante. Ele dizia que não queria ir para o hospital”.

O exame confirmou a doença e Adilmar foi levado ao hospital no dia 18. Estava com a saturação do oxigênio em 77. Horas depois, tinha baixado para 40. No dia seguinte, o quadro se agravou, com a saturação em queda, e o hospital pediu leito no sistema da regulação estadual.

A confirmação da vaga no Hospital Bruno Born, em Lajeado, veio na madrugada do dia sábado. A viagem entre as duas cidades leva cerca de 1h30, como lembra a cunhada, e quando o transporte chegou, Adilmar havia recém falecido.

” Eu só espero que estabilize logo [a situação da pandemia]. Nossa cidade está em pânico”, diz Maira.

‘Explodiu muito rápido’, diz diretor de hospital

 

Boqueirão do Leão pode ter falta de cilindros de oxigênio

Boqueirão do Leão pode ter falta de cilindros de oxigênio

Segundo o diretor do Hospital Dr. Anuar Elias Aesse, Alessandro Weber, a casa de saúde está há semanas com superlotação.

“Houve redução nos internados na sexta (26), mas a gente tá vendo que o quadro começou a dar uma piorada. Agora no final da manhã já começou a ter novas baixas. Preocupa final de semana voltar a ter aquela demanda muito alta de pacientes”, afirma.

O hospital tem 40 leitos clínicos, dos quais quatro foram colocados à disposição de pacientes Covid. Porém, nos últimos dias, a procura disparou e, até esta sexta-feira (26), 15 pessoas confirmadas com a doença estavam internadas. Cinco aguardavam transferência para leitos de UTI.

“Explodiu muito rápido e a gente não tinha pra onde recorrer. Temos uma ala isolada em Covid, a gente tem que cuidar, porque não posso colocar em qualquer leito”. A direção do hospital trabalha para abrir as três novos espaços, que devem ser reformados no fim de semana e habilitados para abrigar pacientes.

Fonte: G1