Alegretense está comprando mais carro em 2021, mas setor carece de reposição

Apesar do agravamento da pandemia e do desabastecimento de peças que paralisaram algumas fábricas em março, a venda de automóveis e utilitários leves tiveram pequena reação no mês, totalizando 177,2 mil emplacamentos, uma alta de 12% em relação as 158,2 mil unidades licenciadas em fevereiro.

O resultado também superou em 13,7% o do mesmo mês de 2020, quando foram comercializados apenas 155,8 mil veículos leves, desempenho na época afetado pela chegada da Covid-19 no País, que levou à suspensão da produção da maioria das montadoras aqui instaladas.

O melhor resultado obtido em março deste ano, no entanto, não chegou a reverter o quadro de retração verificado este ano. No acumulado do primeiro trimestre foram emplacadas 497,9 mil unidades, uma queda de 6,5% no comparativo com os primeiros três meses do ano passado, quando as vendas atingiram 532,5 mil carros e comerciais leves.

Considerando apenas os dias úteis, a média diária de vendas no mês passado foi de 7,7 mil unidades, com queda de 2,1% em relação à registrada em fevereiro (7,9 mil). Os números, neste caso, mostram estabilidade em relação a março do ano passado, quando a média diária ficou em 7.654 unidades.

Diante dos dados preliminares de mercado,  fornecidos por uma fonte do setor, fica evidente que os problemas na indústria automotiva se mantêm. Não há ainda indícios de uma retomada efetiva das vendas e, para piorar esse quadro, a maioria das montadoras está paralisada por causa da crise sanitária e também pela falta de peças e matérias-primas.

Com exceção da Stellantis, que reúne Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, todas as outras fabricantes estão sem produzir nova unidades. No caso da General Motors, o motivo alegado é a falta de componentes, tanto é que  sua fábrica gaúcha de Gravataí paralisou operações em 1º de março e só deve retornar em junho.

Em Alegrete, o Gestor Comercial da Nicola Alegrete, Igo Israel, comenta que a a venda no primeiro trimestre de 2021, foi satisfatória. “Atingimos o número esperado, vendas de veículos 0 km, dentro da nossa real disponibilidade de estoque e conseguimos manter a participação de mercado acima dos parâmetros esperados pela montadora”, revela o profissional que comercializa carros da montadora Chevrolet. Em relação aos carros usados, ele comenta que o mercado continua em alta nesse quadrimestre do ano.

Em meio às dificuldades impostas pela bandeira preta, atendimento presencial e com as portas fechadas, o gerente de negócios diz que as restrições no atendimento, fizeram a equipe trabalhar mais fortemente as redes sociais e atendimentos personalizados.

Outro fator negativo é o estoque, em função da parada técnica das montadoras, e o receio do consumidor na compra, por causa da insegurança do cenário econômico. Israel salienta que o mercado continua aquecido, tanto nos veículos 0 km como os semi novos, porém o volume baixo dos estoques , em geral, reduz o volume de vendas, gerando em contrapartida maior volume de venda em banco de pedidos ( lista de espera).
“Entendemos que no segundo semestre iniciaremos o retorno à normalidade nos estoques das concessionária como um todo”, prevê.

 

Da Fiat, Fernando Nogueira, gerente comercial da Felice automóveis, revendedora autorizada da Fiat, comemora as vendas. “Está bom, seminovo está vendendo bem, zero está recuperando a queda sofrida no início da pandemia, embora ainda tenhamos dificuldade no prazo de entrega por falta de insumos”, comenta.

O otimismo do gerente comercial não é para menos. As vendas alcançaram 85% do que era vendido antes da pandemia. “Graças a Deus foi um mercado que teve pouco impacto nas vendas”, destaca Nogueira.

Ao certo, é que o alegretense resolveu voltar a comprar carro, e o principal alvo são veículos usados. Segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), as vendas de automóveis seminovos e usados este ano já superaram em 2,4% aquelas registradas nos dois primeiros meses do ano passado. Somente em fevereiro, foram 13% a mais de negócios fechados em comparação com o mesmo período de 2020.

A opção por veículos seminovos e usados também é explicada pela falta de carros zero no mercado. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção caiu 31,6% em 2020.

Apesar do preço dos carros não estar muito atrativo, as condições de financiamento estão. Os bancos estão facilitando o crédito, os juros estão mais baixos e é possível financiar até 100% do veículo. Com isso, a concessão de crédito cresceu 13% nos primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. E deve continuar crescendo.

Preferência é por carros mais velhos

Os veículos mais velhinhos são os que tiveram maior crescimento na procura. Aqueles com 13 anos de uso ou mais tiveram alta de 34,8% nas vendas. Os maduros, com 9 a 12 anos de uso, 27,7% de aumento. As vendas dos seminovos, com zero a três anos de uso, subiram 9%. A única variação negativa foi na faixa dos usados jovens, com quatro a oito anos de uso: -0,2%. Os usados mais vendidos no mês passado foram Gol, Palio, Uno, Fiesta e Celta, que representaram juntos uma fatia de 26,63% das negociações.

Lucas Brum, um dos proprietários da RPM Veículos, diz que em abril as vendas deram uma recuada, porém o trimestre foi positivo. Ele lamenta a reposição no estoque, que tem frustrado mais negociações. Revenda multimarcas, chegou a comercializar 15 veículos em menos de 30 dias.

Já Márcio Morin, da Morin Multimarca, é outro que comemora as boas vendas. Com o mercado aquecido de carros usados, ele tem feito bons negócios, só lamenta a falta de mercadoria para reposição.

Júlio Cesar Santos                                                  Fotos: reprodução