Elaine

O drama de uma alegretense que engravidou aos 37 anos e, segundo ela, por complicações durante a gestação e um possível erro médico, hoje, vive um pesadelo. Eliane Soares é  professora e está com 38 anos. Ela tem três filhas, de 19, 13 e 1 ano e 5 meses.

A professora narrou um pouco da sua história e descreveu o motivo do seu problema de saúde que a deixou com limitações.

Tudo começou depois que ela descobriu que estava grávida da filha caçula, no ano passado. Em 2013, Elaine, foi chamada no concurso de Viamão, para professora de séries iniciais, era muito mais do que eu tinha sonhado. Por quase 5 anos enfrento os desafios de morar em um município e trabalhar em outro, eram 4 horas de viagem diariamente, uma rotina doida de lotação, trem, ônibus e vice-versa. Porém, isso não a desanimava, ela gostava, amava o trabalho. Foi nessa loucura que descobriu a gravidez, no início ficou apavorada, pois tinha uma vida muito louca para cuidar de um bebê, com 37 anos, as filhas então “criadas” uma com 18 e a outra com 13. Contudo, depois  do choque inicial, a notícia foi tomando conta da família, dos amigos e apesar de não ter sido planejada, a Valentina foi muito esperada e é muito amada por todos.

A gravidez apresentou algumas complicações, sangramentos, hematomas no útero. Foi necessário medicamentos e repousos. Como a rotina diária era bem agitada, os médicos resolveram afastá-la com 36 semanas para cuidar melhor da gestação e ter um parto tranquilo.
Elaine narrou que realizou o pré natal pelo convênio Ipe na época e pelo SUS, tinha sempre duas consultas mensais. A gravidez apesar de ter apresentado problemas no início, transcorreu tranquilamente, fazia exames mensais de eco, e a Valentina estava muito bem.
Na manhã do dia 25/6/17, ela sentiu a bolsa estourar, por volta das 9 h. “Acordei meus familiares e começou a loucura, não sabiam o que fazer, então organizei minhas coisas e fui para o hospital com o meu marido. Chegamos lá, fizeram os procedimentos burocrático e me levaram para a sala do pré parto juntamente com mais mulheres, todas  gritando de dor”- relembrou.
Elaine não sentia dor, então a médica do plantão solicitou que colocassem o soro( aqueles para induzir a dor), assim, as primeiras dores que iniciaram fracas e foram aumentando, não demorou 30 minutos, o marido foi ao banheiro, a Dra também sumiu, só ficou a enfermeira controlando as grávidas.

” Falei para a enfermeira: moça, minha filha vai nascer. Nesse momento99 as dores já estavam bem fortes, eu me contorcia e não tinha nem onde me segurar pois a maca onde estava, as grades estavam abaixadas. Lembro da enfermeira sair e voltar com a médica que disse que não estava na hora, deu as costas e saiu. Então veio a pior dor e falei que não estava aguentando mais e que minha filha estava nascendo. Simplesmente, ela disse: faz força que ela tá nascendo, vou chamar a médica. Quando retornaram a minha bebê já tinha nascido, foi tudo muito rápido. Também recordo os pais ali presentes muito apavorados pois acabaram presenciando o meu parto, além das grávidas que ficaram mais apavoradas. Uma loucura…eu ainda estava em êxtase, misto de alegria, medo, surpresa.” descreveu.
A professora ainda disse que o medo era da filha cair da maca, não tinha segurança nenhuma, mas Graças a Deus, nada aconteceu com a pequena.
A  médica chegou fez os procedimentos e a colocaram na maca para ir pro quarto. Enquanto esperava no corredor a enfermeira trazer a bebê, Elaine começou a sentir uma dor na virilha direita, era uma dor forte que a incomodava. A filha iria para o quarto com ela pois segundo a enfermeira, teria sido parto humanizado. “Parto humanizado forçado né, falei pra ela. Eu não queria um parto humanizado, por isso procurei um hospital, queria assistência, segurança para mim e para minha filha.”- disse a professora.

Após 24h a dor permanecia, ela imaginou que tivesse sido uma distensão na hora do parto, devido a posição que estava, novamente reclamou, mas a médica não examinou. Elaine foi liberada do hospital sem diagnóstico da dor.
“Fui pra casa e a dor para sentar era horrível, não conseguia nem amamentar minha filha direito, tinha que deitar de lado. Então na consulta de revisão, reclamei da dor, a médica examinou, chamou outra médica, conversaram e disseram ser um hematoma, então drenaram e realmente saiu uma seringa de sangue.Porém, foi só esse procedimento que fizeram. Fui pra casa e a dor e aquele caroço na virilha continuavam a incomodar. Já havia passado 45 dias e eles não queriam mais atendê-la, pois depois desse período a parturiente, perde o direito. Fui na ouvidoria, expliquei meu caso e me passaram para um cirurgião obstétrico. Ele assim como os outros também avaliou como hematoma, inclusive meu médico do convênio, diagnóstico feito somente pelo toque, nenhum exame mais profundo.” – narrou.
Dois meses depois, Elaine  foi para o bloco cirúrgico iria fazer um procedimento simples indicado pelo obstetra. O hematoma era muito grande, então teria que fazer anestesia para não me machucar, e que precisava levar um responsável.
A professora foi acompanhada de uma irmã, quatro horas depois ela acordou e a alimentação era líquida, foi quando questionou o motivo de ser caldo se teria realizado um procedimento simples.

“O dia amanheceu. A médica assistente apareceu e então explicou que houvera complicações na cirurgia, o hematoma na verdade era uma fístula que estava ligada ao intestino, mas sófoi visto quando houve o corte, ou seja, cortaram o intestino, fizeram uma sutura, por isso ela não podia comer, para não produzir fezes e não rebentar os pontos. – aí começou o grande dilema.
Foram quatro dias hospitalizada, ela sentia muita dor e fome, além da saudade imensa da filhas, e do sofrimento de não estar em casa para cuidar da bebê. “O leite secou, precisei tomar remédio, voltou a descer, mas não o suficiente. Aos 4 meses minha filha já tomava mamadeira. Logo eu que sempre amamentei minhas meninas até 3 anos, pra mim foi frustrante não poder amamentar minha Valentina”- citou.

Por não ter melhoras e ao falar para médica ela dizer que era normal, Elaine procurou outros médicos. Pagou exames mais profundos e por fim descobriu que a fístula continuava lá, ligando os canais retovaginal. Ou seja, não sabe o que foi feito naquela simples drenagem de hematoma que chegou a esse ponto.
Nesse meio tempo foi chamada no concurso de novo Hamburgo, para professora de educação infantil, então trocou de município, de convênio, e como tinha carência, ficou na dependência do SUS para resolver o problema.
A solução ocorreu 1 ano e 3 meses depois, porém o caso era mais sério, não era somente uma fístula retovaginal, o parto causou um trauma obstétrico, que originou a fístula e uma lesão grave no períneo. A pele ficou muito frágil, e a primeira cirurgia não deu certo, teve que retornar alguns dias depois para colocar uma bolsa de colostomia.
“Ao receber a notícia da bolsa meu mundo caiu, chorei muito, não queria, mas não tinha saída, era isso ou enfrentar uma cirurgia muito pior daqui alguns meses. Por isso meu conselho é para que as pessoas  nunca deixem fazer uma cirurgia baseada num exame de toque, peçam exames mais profundos, mesmo que seja uma simples fístula, todos trataram a minha como simples, que a cirurgia seria simples e não foi nada disso” – comentou.
O período pós parto e até a descoberta da fístula foi tranquilo. Elaine comenta que depois teve momentos de raiva, revolta, mas aos poucos foi se tranquilizando, mesmo sabendo que teria outra cirurgia pela frente. Ela descreve que os períodos mais críticos foram os momentos constrangedores, pois os gases saiam sem controle pela vagina, assim como episódios de diarreia. A primeira vez foi bem assustadora, ela sentiu medo pois nunca tinha sentido aquilo e chorou muito.
Então chegou a cirurgia de reparação e hoje está numa situação que nunca imaginou passar.

“A adaptação da bolsa não está sendo fácil, não posso fazer esforço físico nenhum, não posso nem mesmo pegar minha filha no colo. Fui afastada por tempo indeterminado do meu trabalho, pois sou professora de berçário e não posso realizar minhas funções. Essa bolsa eu sei que vai me ajudar, mas no momento estou revoltada sim, dizem que nada muda, muda sim, primeiro um objeto estranho colado a você, segundo, seu intestino é retirado para fora do seu corpo; terceiro, dores horríveis; quarto, fezes a todo momento saindo; quinto, gases constrangedores e sem controle; sexto, não é qualquer roupa que fica bem, as pessoas dizem que nada vai mudar, mas vai sim, tudo muda, até a alimentação, as limitações, os constrangimentos. Minha família está me apoiando, mas me sinto uma inválida.
Todos cuidam de mim, mas eu queria minha vida do volta, trabalhar, cuidar da minha casa, das filhas, usar a roupa que eu quiser. Ouço que 6 meses passam rápido, eu não penso assim, pra mim será uma eternidade conviver com esse acessório indesejável” – concluiu.

Um pouco mais da história da alegretense

Elaine saiu de Alegrete em 2008 em busca de emprego, pois mesmo com magistério, nunca conseguiu trabalhar na em sua área.  Ela é alegretense, porém, teve  boa parte da sua vida na vila do Passo Novo. Para concluir o ensino fundamental, mudou-se para Alegrete. Antes da formatura, casou e foi morar com a sogra. Em 1999 nasceu a primeira filha Emanuelly. Os anos foram passando e o desejo de trabalhar na área que escolheu só cresceu, porém continuava trabalhando com faxineira. Em 2005 nasceu a segunda filha, a Julia, ambas foram planejadas, foram realizados os pré natais e os partos foram normais na Santa Casa.
Em 2008 motivada por duas irmãs que moravam em Sapucaia, decidiu juntamente com o esposo tentar um a oportunidade melhor. Ela foi primeiro com as filhas. O esposo ficou resolvendo a rescisão.

Ela chegou em fevereiro de 2008 e em abril já estava com a carteira assinada, um orgulho, pois era professora numa Escolinha de Educação Infantil em Porto Alegre. O  sonho realizado ao trabalhar como professora.
Elaine começou a prestar concurso e em 2013 foi chamada no concurso de Viamão, para professora de séries iniciais, era muito mais do que tinha sonhado. Então assumiu o concurso e por quase 5 anos enfrentou os desafios de morar em um município e trabalhar em outro, eram 4 horas de viagem diariamente, uma rotina doida de lotação,trem, ônibus e vice-versa, mas ela sempre encarou com muita fibra pois amava o trabalho.