Em São Gabriel, gangues são formadas por jovens e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social

Nos 10 bairros que dão nome aos bondes que foram identificados pela Polícia Civil e pela Brigada Militar, predominam famílias de baixa renda

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De um ano para cá, São Gabriel viu os bondes – gangues formadas por adolescentes e jovens – tornarem-se cada vez mais violentos, ao ponto de estarem relacionados aos três homicídios de 2015 na cidade, segundo os órgãos de segurança pública locais. Mas os problemas sociais enfrentados pelas comunidades onde os bondes se formam são muito mais antigos.

Nos 10 bairros que dão nome aos bondes que foram identificados pela Polícia Civil e pela Brigada Militar, predominam famílias de baixa renda, lixo acumulado nas vias, ruas de chão batido e pouca ou nenhuma infraestrutura por parte do poder público. A maioria dos integrantes dos bondes vive em situação de vulnerabilidade. Para o Ministério Público, a falta de estrutura familiar e a ausência do Estado têm reflexo no comportamento dos jovens.

– Nem todos os bairros da periferia têm bondes, mas todos os bondes estão em bairros pobres, locais que concentram a maior quantidade de adolescentes em situação de risco, abandonados pelos pais, onde o Estado não chega. E é essa ausência do Estado e familiar que acaba propiciando esse fenômeno – diz a promotora Aline Baldissera, da Promotoria Especializada da Infância.

Para tentar reinserir os adolescentes e evitar que mais meninos ingressem nos bandos, a promotora quer trabalhar junto com a Secretaria de Desenvolvimento Social do município.

A prefeitura diz que está presente em todas as regiões da cidade, onde presta atendimento por meio dos Centros de Atendimento de Assistência Social (Caas) e pelo Serviço de Fortalecimento de Vínculos, com oficinas e palestras às famílias. Além disso, desenvolve o projeto Pelotão Esperança em parceria com o Exército para crianças e adolescentes de 9 a 13 anos. Segundo o secretário de Desenvolvimento Social, Cleber Giovane Silveira, os integrantes dos bondes são atendidos pelo Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas).

– Muitos não nos procuram, e acontece de só participarem quando encaminhados pela Justiça. Também trabalhamos em rede com as secretarias de Educação e de Saúde – afirma o secretário.

Quem quiser ter acesso a programas de assistência da prefeitura de São Gabriel pode ligar para o telefone (55) 3232-2672.

Esses grupos são embriões de células criminosas, afirma delegado

Segundo o delegado de Polícia Civil Jader Duarte, os homicídios são consequência da formação dos bondes, um problema que não tem fim com a prisão ou a internação dos responsáveis pelos crimes, porque os bondes continuam existindo com outros integrantes.

– Os bondes são embriões de células criminosas. Esses jovens têm perfil violento, cuja impunidade os mantém na rua, armados. Somando-se a isso o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, temos iminente o surgimento na cidade de focos de crime organizado. A ação deles tem de ser freada, e os grupos, desarticulados sob pena de perdermos o controle de uma cidade historicamente tranquila. A polícia já está fazendo a sua parte – argumenta o delegado.

A Brigada Militar fiscaliza se as medidas restritivas são cumpridas, faz operações de abordagem e apreensão de armas – cerca de 20 facas e facões com bondes este ano. Mas, como portar faca não é crime, os adolescentes e os jovens são liberados.
Conforme o Judiciário, os 12 suspeitos dos três homicídios do ano estão presos ou internados (veja quadro abaixo). E cinco processos envolvendo bondes estão em andamento na Vara da Infância e Juventude.

Não há registros de roubos e assaltos praticados pelos bondes, mas a população está temerosa. Um empresário de São Gabriel fala da sensação de insegurança na área central:

– É comum andarem armados e não se intimidam com a presença da polícia. Riem ao serem presos. As pessoas não querem sair de casa e ir para a praça quando há eventos porque sabem que vai ter briga de facão.

Fonte: DIÁRIO DE SANTA MARIA