Estagnado, mercado da lã afeta produtores em Alegrete

O ano de 2022 está finalizando e uma das consequências pós período pandêmico para o produtor rural é a comercialização da lã. Alguns produtores de Alegrete e da região já se sentem afetados pela baixa oferta na hora de vender o produto.

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Um dos casos é do produtor Cícero Peres, da Fazenda Eucalipto no Rincão de São Miguel. Há mais de 20 dias ele espera para comercializar o produto, fruto da esquila no estabelecimento. “Já tentei ligar para vários donos de barracas e eles não querem ir até o estacionamento”, desabafa Cícero.

“O Produtor sente-se impotente, incapaz e desmotivado. É derrotada mediante tal cenário que a lã se encontra. Estamos assistindo uma decadência de uma das maiores atividades primárias do Estado e do município. Mas o produtor é um herói, guerreiro, e jamais desiste e não abandona o que sabe fazer e o que ama e acredita”, resiste o pecuarista em meio a mais uma crise do setor.

Com mais de 80 anos de tradição na criação de ovinos da raça, o proprietário Manoel Rodrigues é a terceira geração da Cabanha Santa Camila, em Alegrete. Há 12 anos à frente da administração dos negócios, Rodrigues cria a raça Merino Australiano, que oferece lã fina, de mais qualidade, totalizando 500 ventres e 100 reprodutores na propriedade. Mesmo com as atuais dificuldades enfrentadas pelo setor laneiro, que hoje representa 1,1% do mercado mundial de fibras, o criador nunca pensou em desistir da produção. “Sempre acreditamos que esse investimento traria retorno”, afirma, acrescentando que nos últimos três anos houve aumento da procura do produto. “Tem mais qualidade e é ecologicamente sustentável”, explicou.

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Segundo o presidente da Federação das Cooperativas de Lã do Brasil (Fecolã), Leocádio Bardallo Ledesma, a queda brusca é resultado do avanço do material sintético e do algodão, matérias primas de menor valor. “Antes a produção anual gaúcha era de 10 mil toneladas e hoje caiu para 4 mil toneladas”, afirmou, uma queda de 60%. Por essa razão, a Fecolã, formada pelas cooperativas  Lãs Mauá, de Jaguarão,  Lãs de Quaraí,  em Quaraí, e Lãs Tejupá, de São Gabriel, comemorou os 70 anos da entidade da 45º Expointer com o objetivo de impulsionar a comercialização de lã. 

O economista e presidente da Cooperativa Mauá, em Jaguarão, Edson Ferreira, explicou que esse cenário de declínio no mercado laneiro está relacionada às crises econômicas em épocas diferentes no Brasil, o que desencadeou redução do poder de compra das pessoas. Isto, diz ele, complica o consumo de produtos à base de lã, que é mais cara por ser matéria-prima natural. “Dos 215 milhões de brasileiros, apenas 58 milhões podem comprar”, projetou Ferreira.

Conforme Edson, a crise interna da lã vem desde os anos 90, quando na época eram cerca de 25 cooperativas, hoje resistem apenas três que estão muito fragilizadas economicamente. Na região existem cinco barracas, sendo duas maiores e basicamente não há um preço estimado do quilo da lã, por conta da baixa comercialização.

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Porém, o dirigente acredita no processo de retomada do mercado da lã. Ele destaca que para mudar o contexto vigente é preciso conquistar o mercado interno, começando a processar a própria lã para ganhar valor agregado.

“Hoje, vendemos lã natural para o Uruguai, que é referência mundial no mercado, que vende 50 mil toneladas para China, Itália e Alemanha, principais consumidores, sendo que eles produzem 22 mil toneladas e complementam o volume total comprando dos demais países”, relatou. Para o Brasil reaquecer o mercado, Ferreira aponta três desafios: trabalho de marketing, revisão tributária e ampliação do uso da lã para outros fins, na cadeia produtiva.

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