‘Fui caindo e me despedindo da minha família’, diz sobrevivente sobre tentativa de sair da boate

Delvani Brondani Rosso estava na casa noturna no dia do incêndio. Oitiva é a segunda das previstas para este domingo (5).

Delvani Rosso mostrou as cicatrizes das queimaduras que sofreu no incêndio da Kiss — Foto: TJ-RS
Delvani Rosso mostrou as cicatrizes das queimaduras que sofreu no incêndio da Kiss — Foto: TJ-RS

Começou às 16h25 deste domingo (5) a oitiva com o sobrevivente Delvani Brondani Rosso, de 29 anos, convocado a pedido de um assistente de acusação no júri da boate Kiss, realizado em Porto Alegre. O rapaz estava na casa noturna de Santa Maria no dia 27 de janeiro de 2013, quando ocorreu o incêndio que vitimou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos.

O jovem relatou que foi à Kiss porque a casa noturna em que iria inicialmente estava fechada. “Estava muito lotada a boate. Quando nós entramos, tinha muita gente”, contou.

“Quando eu fui caindo, eu fui me despedindo… da minha família, dos meus amigos. Pedi perdão”, disse emocionado ao falar do momento em que chegou à calçada, no lado de fora da boate.

No momento do incêndio, o rapaz diz que tentou sair com amigos e que as luzes da boate se apagaram. Durante o relato ao júri, familiares deixaram o plenário emocionados.

“A situação ficou incontrolável, sem controle. Tu era empurrado para onde a massa ia e eu só tentava ir reto. Quando ficou tudo escuro, as pessoas gritavam mais ainda e eu escutava barulho de vidro quebrando. Desespero, sabe? Em lembro que segui caminhando o que eu podia e começou a ficar mais intensa a fumaça. Tinha muita gente na minha frente ainda. Chegou uma hora que eu percebi que não ia conseguir sair”, relatou Delvani.

O jovem mostrou as cicatrizes das queimaduras que sofreu. Delvani perdeu três amigos no incêndio.

O quinto dia de audiências começou por volta das 10h, com o depoimento de Tiago Mutti, incluído no processo pela defesa do réu Mauro Hoffmann. O sócio da Santo Entretenimento, sociedade limitada de danceteria, bar e similares que originou a boate Kiss, foi convertido a informante por responder a um processo por falsidade ideológica relacionado à casa noturna.

O juiz Orlando Faccini Neto cogita a realização de um intervalo às 17h. Nesse período, deve ser permitido aos jurados assistir ao segundo tempo da partida entre Corinthians e Grêmio pelo Campeonato Brasileiro.

Até agora, além de Delvani, já foram ouvidos oito sobreviventes, de um total de 12 e quatro testemunhas. Duas pessoas inicialmente arroladas como testemunhas foram convertidas em informantes. Ao todo, 16 pessoas serão ouvidas na condição de testemunhas, além dos quatro réus.

Reveja como foram os dias anteriores:

Veja os depoimentos dos sobreviventes:

O que disseram as testemunhas e informantes:

Quem são os réus?

  • Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, 38 anos, era um dos sócios da boate
  • Mauro Lodeiro Hoffmann, 56 anos, era outro sócio da Boate Kiss
  • Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, músico da banda Gurizada Fandangueira
  • Luciano Augusto Bonilha Leão, 44 anos, era produtor musical e auxiliar de palco da banda

Entenda o caso

Os quatro réus são julgados por 242 homicídios consumados e 636 tentativas (artigo 21 do Código Penal). Na denúncia, o Ministério Público havia incluído duas qualificadoras — por motivo torpe e com emprego de fogo —, que aumentariam a pena. Porém, a Justiça retirou essas qualificadoras e converteu para homicídios simples.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Para o MP-RS, Kiko e Mauro são responsáveis pelos crimes e assumiram o risco de matar por terem usado “em paredes e no teto da boate espuma altamente inflamável e sem indicação técnica de uso, contratando o show descrito, que sabiam incluir exibições com fogos de artifício, mantendo a casa noturna superlotada, sem condições de evacuação e segurança contra fatos dessa natureza, bem como equipe de funcionários sem treinamento obrigatório, além de prévia e genericamente ordenarem aos seguranças que impedissem a saída de pessoas do recinto sem pagamento das despesas de consumo na boate”.

Já Marcelo e Luciano foram apontados como responsáveis porque “adquiriram e acionaram fogos de artifício (…), que sabiam se destinar a uso em ambientes externos, e direcionaram este último, aceso, para o teto da boate, que distava poucos centímetros do artefato, dando início à queima do revestimento inflamável e saindo do local sem alertar o público sobre o fogo e a necessidade de evacuação, mesmo podendo fazê-lo, já que tinham acesso fácil ao sistema de som da boate”.

Fonte: G1

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