Cantora que tinha complexo da voz grave encanta multidões do mundo gospel

O rouxinol que emociona amigos, familiares e todos que já tiveram o privilégio de ouví-la.

Betânia Borges Schmitz
Betânia Borges Schmitz

Assim, muitos a descrevem. A alegretense Betânia Borges Schmitz, hoje com 39 anos, tem uma história de muitas lutas, desafios, decepções, alegrias e conquistas.


Filha de Eraclides Dorneles Schmitz e Juraci Freitas Borges Schmitz. Moradora do interior até os primeiros anos de vida (na Fazenda Figueira-Mariano Pinto),  descendente de Waldemar Borges, ex-prefeito de Alegrete, ela nasceu para cantar, mas nem tudo foram flores.

Quando nasceu, os pais já eram cristãos, e Betânia, aos 4 anos de veio morar na cidade e começou, junto com eles, frequentar a Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Na sequência, passou a participar do coral infantil “Jóias de Cristo”, regido pela professora Cleusa KujaWinski e apreciar música. Gostava tanto de cantar, que “gritava” no coral, para que todos ouvissem sua voz – lembra.

Mas aos 6 anos de idade, seu pai  faleceu de um câncer no pâncreas, e ali, algo novo começou a se revelar…Betânia era muito apegada ao pai, e sentia muita falta dele, vivia escrevendo cartinhas, poemas e desenhando tudo era para ele.

Muitas vezes, os desenhos eram borrados com as lágrimas e, sua  mãe ao vivenciar a dor da filha, a presenteou com um diário. Foi uma brilhante idéia.

Betânia passou a escrever tudo o que sentia pela ausência do pai e, certa vez, já com 8 anos, compôs uma música para ele. Foi sua primeira composição, inspirada na saudade que sentia de seu pai, e a esta música foi dado o título de “Canção da Saudade”.

A partir deste momento, não parou mais de compor. Muitas vezes acordava nas madrugadas cantarolando uma melodia e saía correndo pelo quarto procurando papel, caneta e rádio gravador para registrar a música e assim, lembrar no dia seguinte. Estes sonhos que a acordavam nas madrugadas cantarolando músicas inéditas ficaram tão frequentes que sua mãe percebeu que ali havia um dom e começou a colocar todas as noites ao lado da cama um caderno, caneta e um rádio gravador, pois quando a filha acordasse com uma nova composição, já estaria tudo ali pertinho para registrar.

Com o passar dos anos, a alegretense seguiu cantando na Igreja.

Nilo Chagas, foi o primeiro dirigente de congregação a lhe dar oportunidade de cantar solo na Igreja e isso, ela nunca esquece. Seguiu no grupo de louvor dos adolescentes e, posteriormente, no Coral de Jovens e em outros grupos musicais da Igreja.

Participava dos teatros e em algumas vezes cantava uma música no encerramento das sessões. Porém, Betânia tinha muito complexo com sua voz, pois o seu timbre é grave e de suas colegas dos grupos musicais eram, em sua maioria, agudos. Betânia chorava e dizia para sua mãe que não queria ter a voz “tão grossa” que parecia um menino cantando, queria ter uma voz suave como de suas amigas cantoras, e sua mãe sempre orava por ela e dizia: filha, cada um tem um dom e Deus vai te usar com o dom que Ele te deu, não precisa mudar.

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Mas, Betânia não aceitava a voz que tinha e ali começou a prejudicar suas cordas vocais, ensaiando e cantando músicas em tons altos demais para seu timbre.
Betânia seguia cantando em programas de rádio e até em casamentos. Com o tempo começou a viajar para cantar em cidades vizinhas a Alegrete, como por exemplo: Rosário do Sul, Quaraí, Manoel Viana, São Sepé, Vila Nova do Sul, Uruguaiana, entre outras. Ela conta que “sempre tinha algum Pastor conhecido dos pais que passavam em sua casa com a família e a levava junto nas viagens.

“Eu aproveitava para cantar bastante e fazer novos amigos nos Congressos que íamos” – recorda.

Juraci Borges, sua mãe, era uma mulher muito fiel a Deus e dizia para Betânia que Deus a usaria muito na música para restaurar corações, pois Deus falava com ela que: “onde Betânia não pudesse ir, sua voz iria”.
A mãe nem imaginava que, hoje, a internet alcançaria tantas pessoas- cita a cantora.

Professor Pedro Henrique, o criador do Jardim das Suculentas

Em vários momentos da vida, Deus mostrava que tinha um propósito com o canto da Betânia e, em um deles, certa vez, foi para cantar na Igreja do Evangelho Quadrangular. Após cantar, um senhor pediu a oportunidade para falar, pegou o microfone e disse: ” Hoje seria minha última vez de vir aqui, pois falei para Deus que se Ele não falasse comigo, eu voltaria para casa e tiraria minha vida, mas quando esta mocinha cantou, eu senti Ele me tocar, senti que Deus me ama e minha alegria voltou, e agora eu quero viver”- se emociona ao lembrar.

Betânia entendeu que tudo aquilo tinha um propósito maior.

Mas, em 2001 sua mãe faleceu e Betânia foi ao Rio de Janeiro passar um tempo com seu irmão Rodrigo. Lá, procurou um produtor musical “famoso” e, ao mostrar suas canções, ouviu que sua voz não era “comercial”, e que ela desistisse de cantar.

Betânia voltou para Alegrete triste e decepcionada. Ele não precisava ter sido tão “rude”, enterrou os sonhos de uma menina – assim descreveu.

Em 2003, ela novamente foi ao Rio de Janeiro visitar o irmão e passou um tempo na casa da família Aguiar, do cantor e compositor gospel Waldecy Aguiar.

Alegretense, criminalista de projeção nacional, é doutor em direito

Lá, ela ouviu que sua voz era boa sim, que suas composições eram incríveis e ali, surgiu uma grande amizade que se perpetuou.

Já em 2007, ela começou a ter muita dificuldade para cantar, a voz não saía e, quando saía, era rouca.

Então, recebeu o diagnóstico de dois nódulos enormes em suas cordas vocais, que precisariam ser tratados durante meses com fonoterapia ou serem retirados através de uma cirurgia.

Betânia não fez a cirurgia nem o tratamento, simplesmente parou de cantar e lá se passaram 13 anos.

Neste tempo ela se formou em Letras, pois sempre com a música em seu coração, sabia que este curso a ajudaria em suas composições, devido ao estudo da linguística e também da língua espanhola, para suas composições “qué no sean en nuestra lengua”.

Sua avó materna também faleceu nesta época e Betânia compôs em homenagem a ela uma música em espanhol, “Mi abuela querida”.

Nos últimos anos, fez dois cursos e se especializou na área de terapia e educação musical.

Passados os 13 anos sem cantar, ela disse que sentiu fortemente a voz de Deus falando que voltasse para a música.

“Pessoas que nem me conheciam vinham dizer que Deus havia mandado uma mensagem para mim e a mensagem era: “volte a cantar sobre o meu amor” – explica.

Foi quando a amiga Andréia Pinheiro, usada por Deus, entregou, não um pedido, mas uma ordem: “Volte a cantar que tudo vai acontecer”.

“Então eu fiz uma prova com Deus: Marquei um exame com meu médico, Dr Carlos Alberto Zoch, e pensei: se eu estiver completamente curada dos nódulos eu volto a cantar. Mas se ainda tiver algo, por menor que seja, eu não volto”- completa.

Foi assim, que no dia 06 de março de 2020 ela fez o exame e ouviu do Dr Zoch: “Tuas cordas vocais estão perfeitas, não tem nada, estão limpinhas”.

Ina Bianchini, a alegretense que foi para o Coração do Rio Grande em busca do sucesso

“Depois disso, procurei minha amiga cantora e professora de música, Patrícia Pedrozo, para fazer algumas aulas de técnica vocal e treino de respiração, pois eu estava há 13 anos sem cantar. Estava recomeçando e não poderia arriscar cantar errado e destruir novamente minha voz.
Posteriormente, meus amigos lá do Rio de Janeiro me pediram para gravar um trecho da música nova do Waldecy Aguiar para postarem nas redes sociais em homenagem a ele. Então eu e Patrícia Pedrozo fizemos um dueto para enviar à família Aguiar.
Postei também no meu Facebook, e então fiquei muito surpresa pela quantidade de mensagens que comecei a receber de pessoas pedindo que eu gravasse vídeos cantando” – descreveu.

E assim, ela começou a fazer seus vídeos. Os primeiros, gravava dentro do carro do cunhado ou em qualquer lugar, com mensagens e música.

Aos poucos, a qualidade do som foi melhorando, e ela fez vídeos em parceria com uns amigos músicos também.

A APAE/Alegrete deu uma belíssima oportunidade para que ela fizesse o que gosta e por isso é grata.

Na sequência, Betânia acrescenta: meu querido Gui Mendes entrou na minha vida e Creio que Deus assim o colocou, pois ele não é apenas um bom músico, ele é um ótimo produtor musical, sabe muito sobre tudo e é extremamente detalhista, estou aprendendo muito com ele. Minha eterna gratidão ao Gui.
Recentemente gravamos uma música de minha autoria, de título “Deus Fiel” e o vídeo, feito pelo Alisson Machado (videomaker) foi selecionado pela Produtora de Marketing e Distribuidora Digital Amaismusic. Nem sei como aconteceu, foi tudo tão rápido, Alisson que me ajudou na inscrição. Já assinei o contrato com eles lançaram minha música na página deles no YouTube e nas plataformas digitais da Produtora” – fala emocionada.

Hoje, vejo que minha mãe tinha razão: Deus não nos decepciona como as pessoas, Deus surpreende! Sempre!!!
Atualmente, estou cuidando da minha voz continuamente, e quero agradecer à minha querida fonoaudióloga Elaine Rosso Viana, simplesmente maravilhosa, também à equipe de amigas e amigos intercessores que tenho, que estão sempre orando por mim. Eles sabem quem são, não preciso citá-los. É como eu sempre digo, não fazemos nada sozinhos.

Colecionador da Placar, em Alegrete, exibe mais de 1.400 exemplares da revista


Neste mundo, uns precisam dos outros.
Às vezes alguém faz a ponte para passarmos, outras vezes, nós é que somos a ponte”- comentou.

O objetivo de Betânia é que seu canto alegre corações, restaure pessoas e ressuscite a fé e esperança de quem não as tem mais. O desejo é ver Deus nas pessoas e as pessoas em Deus. Se isso acontecer, o mundo está salvo, ressaltou.

A partir disso, a alegretense citou que as pessoas começaram a elogiar os graves da sua voz, justamente o que ela teve complexo durante anos. Isso a fez se aceitar e gostar de se ouvir.
Mas, claro, ainda tem muito que aprender. E o melhor: agora tem como parceria a professora Josie dos Santos Pillar. Seus vídeos têm a opção da tradução em Libras.

“A palavra de Deus sendo levada aos surdos. Estou muito grata à Josie e, principalmente a Deus que coloca pessoas extraordinárias em meu caminho ” – concluiu.