Um hospital de Porto Alegre realizou, no dia 16 de maio, uma inédita cirurgia cardíaca em um feto de oito meses. A operação, feita por uma equipe de médicos da Santa Casa, foi realizada dentro da barriga da mãe e evitou uma série de complicações no coração do feto.
Nesta quinta-feira (2), a mãe, Débora Nunes Rodrigues, voltou ao hospital para realizar uma consulta – que reforçou o sucesso do procedimento realizado há duas semanas. O menino deve nascer em 15 dias.
A cirurgia foi conduzida pela cirurgiã fetal Talita Micheletti Helfer e monitorada em tempo real pelo médico catalão Eduard Gratacós, direto de Barcelona. O procedimento também contou com a participação dos médicos especialistas Marcelo Brandão da Silva, Carlo Pilla, Marina Domingues, Mariana Sgnaolin e Daniel Correa Helfer.
Talita explica que, ainda que a Santa Casa seja um centro de referência no tratamento de questões cardíacas em fetos, um procedimento ainda na barriga da mãe nunca havia sido feito.
“Somos um dos maiores centros do Sul do Brasil para tratar fetos com malformação do coração em geral. Até então, sempre oferecíamos tudo que havia de recurso, com tratamento após o nascimento. A cirurgia é rara porque a doença é rara. E, para nós, foi um marco, porque foi a primeira vez que tratamos antes do nascimento”, diz.
Estenose aórtica crítica: entenda a condição do feto
Com 32 semanas de gestação, o feto foi diagnosticado com estenose aórtica crítica, uma malformação na aorta, que impede que o coração bombeie adequadamente o sangue para o corpo. O procedimento feito na Santa Casa evita que o feto apresente piora dos sinais de insuficiência cardíaca, com a dilatação do lado esquerdo do coração e acúmulo de líquidos que podem provocar a evolução para óbito.
Talita explica que a cirurgia consiste na inserção de uma agulha através da barriga da mãe, chegando ao coração do feto e expandindo a aorta por meio de um cateter-balão.
“Não abrimos a barriga, é minimamente invasiva. Fazemos tudo por meio de uma agulha mais grossa. Anestesiamos a mãe, e depois anestesiamos o feto, para ele não se mexer ou sentir dor. Introduzimos uma agulha que passa pelo tórax do feto e entra no coração. Colocamos a agulha nesta aorta e, pela agulha, passamos um cateter balão, e, com esse balão, dilatamos o vaso, para que possa acontecer a passagem de sangue. É bem delicado, porque estamos mexendo no coração do feto, então pode ter complicações bem graves, mas foi tudo bem”, explica a médica.
O primeiro caso realizado na Santa Casa foi um sucesso e, os exames continuam mostrando que a valva permanece aberta, com importantes sinais de melhora do quadro de insuficiência cardíaca.
Segundo Talita, casos como esse costumavam ser levados a hospitais de São Paulo ou de fora do país. Com a possibilidade de realizar procedimentos desse tipo no RS, ganha a medicina local, mas principalmente mulheres grávidas de fetos com essa condição.
“Para nós, é muito gratificante ver que podemos melhorar a qualidade de vida de uma criança que ainda nem nasceu. É o que mais nos deixa feliz, porque normalmente recebemos esses casos já comprometidos. Pensar que conseguimos evitar que essa criança passe por muitas outras cirurgias, a satisfação é enorme. Para a saúde do RS também é muito importante, porque casos como esses eram tratados em São Paulo, e estamos trazendo para cá. As cirurgias fetais são muito recentes, não só as do coração. É um grande marco”, comemora.