João Maurício Cariolatto, autêntico gaiteiro ‘feitio do Alegrete’

César Passarinho poderia improvisar nos versos da canção Guri cantando "gaiteiro feitio do Alegrete …" se tivesse convivido com o alegretense João Maurício Cariolatto.

De tantos gaiteiros em cada canto desse pago, dedilhando desde a infância, num baile de galpão ou num programa de auditório, é possível citar que a cidade, até poderia ser intitulada como dos gaiteiros profissionais e amadores.

Mas, entre tantos (estima- se uns 14 grupos musicais de estilo gaúcho que utilizam a gaita), gaiteiros que profissionalmente animam fandangos, o João, à frente de seu grupo Fandangueiros do Alegrete difere de muitos contemporâneos, pois sua assinatura está na elegância dos solos de gaita que repaginam clássicos da música de domínio público e diversas vezes tocadas nos bailes em Alegrete e demais cidades.

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O virtuosismo nos teclados e botões de sua gaita pianada diatônica Todeschini de 120 baixos (que tem mais de 20 anos) se evidencia quando parte para os solos instrumentais das músicas executadas com destreza e habilidade de movimentos.

São variedades de acordes e notas musicais que afloram da memória, quase sempre, sem a necessidade de um caderno musical.

João Mauricio domina em sua gaita mais de 100 solos musicais gaúchos de vários ritmos, mesmo que, aparentemente sejam iguais as melodias para qualquer gaiteiro de grupo musical, o alegretense adota a técnica de sequência musical com três músicas do mesmo ritmo, dá uma pausa para o dançarino tomar um fôlego e segue em mais três ritmos diferentes- explica.

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Contudo, quando o vocalista deixa de cantar, o gaiteiro, ainda, “tempera” a musica com seu talento mostrando a habilidade da gaita complementando com solos de acordeão. Geralmente, surge no repertório uma música que já deixou de ser apreciada por outros grupos musicais.

Uma milonga tangueada, um bugio, uma rancheira, uma vanera das antigas que animavam os bailes de chão batido” – comenta.

Ele acrescenta que parece estar tocando num antigo baile de galpão iluminado por candeeiros num fundo de grota, nos remotos tempos antigos. Sua música não deixa salão vazio, e a técnica foge dos recursos instrumentais que hoje a tecnologia moderna dispõe aos grupos musicais.

“A formação do grupo basicamente se ampara em três instrumentos : a gaita, a bateria e a guitarra. Mas em toda musica o ritmo sonoro de destaque e que prende no ouvido é o som da gaita, sem intromissão mais do que desejada da guitarra e da bateria. Não há mesa de sintetizadores, o som no tom que não incomoda os ouvidos” – descreve.

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O alegretense de exímio talento, começou a tocar gaita aos 14 anos, assim que ganhou do pai Mauricio uma pequena gaita, pois o sonho do “velho” era ter um filho gaiteiro e o sonho começou a se tornar
realidade. Desta forma, ele lembra que o gosto pela gaita despertou cedo, ouvindo Caetano , um vizinho da rua Sofia de Brum, no Bairro vila Nova, local onde nasceu e se criou.

“Fugia” de bicicleta e subia no muro da casa do Caetano, para ouvi-lo, escondido, tocar enquanto afinava gaitas de clientes. Entretanto, não passou despercebido e Caetano viu naquele curioso jovem o dom nato do instrumento e se propôs a lhe ensinar solos de gaita.

Ali, também, o João observava o raro conserto de gaitas e aos 14 anos, subiu num palco, pela primeira vez, no Programa de calouros que acontecia no Centro Cultural Adão Ortiz Houayek.

Dali em diante seguiu sua escalada de músico e tornou- se um gaiteiro. Seu maior desafio, ainda jovem, foi saber dois dias antes do evento que tinha o compromisso de tocar as músicas de José Mendes em homenagem ao filho dele, quando o cantor gaúcho José Mendes Jr. se apresentou em Alegrete.

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Além de ser líder de grupo musical, o gaiteiro também domina o ofício de conserto e afinação de acordeões em sua oficina localizada no bairro Vila Nova.

Conforme explica, esse é um oficio raro em tempos digitais: a arte de consertar, restaurar e afinar cordeonas. Dar “vida” nova ao som de peças fora de tom, o faz um mestre artesão.

Pelas suas mãos já passaram raríssimas gaitas que não se fabricam mais- enfatiza.

A presença de João Maurício é constante nos bailes de piquetes ou programas de rádio , seja num simples galpão coberto de zinco ou na pista lustrosa de um grande centro de tradições gaúcha (CTG) de renome nacional, em várias cidades da Fronteira Oeste e região central.

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Como diz a música dos Mirins:” animando e levando alegria, de noite, de dia em festa campeira, no mesmo compasso com coração, no bugio, no xote, na vanera, a gaita faceira, no teclado bota o coração”. Instrumentista de música chão, tocando em galpão ou em qualquer ambiente, lá está o virtuosismo dos teclados de João Mauricio, mais um dos grandes artistas alegretenses.

Mais sobre a gaita


A gaita é o instrumento oficial representativo da música regional do Estado do rio Grande do Sul e os fandangos estimulam as manifestações culturais dos diferentes grupos e sociedades. Os primeiros registros da sanfona ou acordeão no Brasil surgem no sul depois da Revolução Farroupilha por volta de 1845 pelos alemães e 1875, pelos italianos, e foi levada ao norte por soldados nordestinos que lutaram na guerra do Paraguai. Segundo Tasso Bangel (1989) a gaita ou acordeão foi inventada em 1829 pelo inglês Charles Wheatstone, mas Ronilson Elias Borba teoriza que foi o austriaco Cyrill Demian em 1829. O som da gaita faz esvaziar cadeiras dos salões de baile, agitar os pés, balançar corações e botar o baileiro pra dançar no salão ao som de uma vanera ou de um chamamé.


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