Mike tinha só 17 anos, um Mustang 68, mas não era feliz; a tragédia dele inspirou o mundo

No Brasil, o "Setembro Amarelo" é promovido pelo CVV, da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina. Centro de Valorização da Vida atende pelo número 188.

Setembro Amarelo
Setembro Amarelo

“Criando esperança por meio da ação” é o tema do Setembro Amarelo deste ano – mês dedicado à valorização da vida e de prevenção ao suicídio. A campanha alerta que agir de maneira correta nas situações em que pessoas demonstrem interesse no autoextermínio pode salvá-las.

O PAT conversou com a psiquiatra Rafaela Bega Peixe que falou sobre o Mês Amarelo! A médica explica a origem do Setembro Amarelo e também separou tópicos sobre, causas e as medidas que podem ser tomadas para ajudar pessoas que estão em risco.

Acompanhe:

Em meio ao contexto pandêmico caminhamos para 2022.

Antes disso, temos uma passagem pelo rosa, azul e vermelho. Estas são as cores dos laços que ainda nos acompanharão no decorrer deste ano para representar as campanhas nacionais de saúde.

O outubro rosa e o novembro azul tem o objetivo de sensibilizar a população para a prevenção do câncer de mama e próstata, já o vermelho, em dezembro, simboliza o mês de combate ao HIV.

Nesta travessia por 2021 chegamos à setembro muito bem acompanhados da florada dos ipês amarelos.

Poderíamos até atribuir a cor do setembro amarelo à beleza destas flores que nos enchem os olhos, mas não é por isso que o setembro é amarelo, a escolha não se deu pela exuberância da paisagem, mas por motivos trágicos.

Setembro foi escolhido para evidenciar uma dura realidade epidemiológica mundial: a depressão e o suicídio, assim é mês de referência à prevenção contra os atentados à própria vida no contexto dos transtornos psíquicos.

A origem desta mobilização começou com a história de Mike Emme, um jovem norte americano que era conhecido por sua habilidade mecânica, sua referência na comunidade onde vivia.

Mike era dono de um Mustang 68, amarelo, que ele mesmo restaurou e pintou. Ele era visto como um jovem promissor, porém aos 17 anos se suicidou, a família e amigos não conseguiram perceber que Mike não queria mais viver.

A partir disso, os amigos de Mike se movimentaram para que outros não sofressem como ele, espalhando a ideia mundo afora.

O teor das ações do setembro amarelo é estabelecer que todos podemos contribuir para que o desfecho não seja a morte. Por isso, é importante saber que a prevenção ao suicídio depende, entre outras coisa, de sensibilidade.

É necessário notar se a pessoa vem sofrendo de modo progressivo mudanças em seu comportamento.

A família e os amigos são fundamentais nesse processo porque convivem proximamente com a pessoa e são capazes de identificar alguns sinais relevantes, como por exemplo, se não há mais interesse pelo convívio social, se não há mais motivação para o trabalho, se há um olhar negativo ou pessimista sobre coisas que eram tidas como interessantes, se a pessoas aumentou abusivamente o consumo de álcool ou se está recorrendo a outras drogas, inclusive àquelas de caráter ilícito, se há verbalização do desejo de morrer, interesse incomum por armas de fogo ou por substâncias tóxicas que são fatais à ingestão, entre outros.

O mais comum é que o desejo de morte nem sempre é declarado, pois nesse momento a pessoa está camuflando sua condição psíquica real porque sente vergonha de se expor e medo dos julgamentos alheios.

Então, se você perceber mudanças de comportamentos, como as que foram citadas ou outras que você julgar relevante, é o momento de desenvolver uma postura acolhedora junto a quem precisa de apoio. Acolher significa oferecer proteção, amparo, refúgio.

O potencial suicida se sente perdido e sozinho, como se estivesse em uma floresta escura e perigosa, ele está sofrendo e pode ser que ele próprio desconheça o motivo da sua dor.

Se propor a ajudar de modo atencioso e amável é essencial, inclusive para que a pessoa entenda que deve buscar ajuda profissional.

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Em muitos casos a ajuda profissional é determinante para o sucesso da reversão do quadro, porque a conduta profissional visa identificar o gatilho da ideação suicida através do correto diagnóstico e da aplicação das técnicas mais adequadas para o tratamento caso a caso.

Muitas vezes o uso de medicação é essencial, unindo-se com outras terapias não medicamentosas acompanhadas de uma equipe multiprofissional. Procurar um especialista evita a automedicação e potenciais agravamentos do quadro suicida.

Assim, inspirados pela história da comunidade de Mike, vamos nos atentar para os sinais que podem permanecer imperceptíveis, contribuindo com nossa porção para a mudança da realidade epidemiológica mundial e prevalência do suicídio em nossa comunidade.

A nossa união por essa causa é crucial para fazer com que o mês de setembro seja lembrado pelas flores amarelas do ipê e não por um carro amarelo, onde um jovem do nosso convívio seja encontrado morto após cometer suicídio.

Rafaela Bega Peixe
Médica Psiquiatra
CREMERS 45051
RQE 38110

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