‘Não dava para acreditar que a nossa vida ia voltar a ser o que ela é’, diz pai que doou parte do fígado a menino com doença rara no RS

Matheus Baasch, que completa 2 anos este mês, foi diagnosticado com deficiência de alfa 1 antitripsina aos quatro meses de vida. Transplante realizado em janeiro de 2021 salvou a sua vida.

Pai e filho

“Não dava para acreditar que a nossa vida ia voltar a ser o que ela é hoje”, reflete Heron Baasch.

Heron salvou a vida do filho, Matheus, ao doar parte do seu fígado para ele em janeiro de 2021. A família é de Florianópolis (SC), mas a cirurgia foi feita em Porto Alegre, em janeiro de 2021, no Hospital da Criança Santo Antônio.

O menino, que completa 2 anos na próxima segunda-feira (22), havia sido diagnosticado com uma doença genética rara que atinge o fígado e pode causar cirrose. O transplante era a sua única chance de sobreviver.

“Chegou no ponto em que as médicas colocaram ele em coma e vieram conversar conosco chorando, sem saber o que nos dizer porque ele estava com uma infecção que impedia um transplante. Eu lembro de minha esposa me ligar para eu ir lá [no hospital] para eu meio que me despedir dele. Foi o que as médicas sugeriram”, conta Heron.

Matheus nasceu em 22 de agosto de 2020 e, dias depois, apresentou os primeiros sintomas da doença. A família percebeu que ele estava ficando com a pele amarelada. Ele passou por exames e recebeu o diagnóstico: deficiência de alfa 1 antitripsina.

Só que a doença evoluiu rápido. Matheus, na época com quatro meses, precisava de um doador com urgência. A família foi encaminhada para a Santa Casa de Misericórdia, responsável pelo Hospital da Criança. Lá, todos passaram por exames e veio o alento: o pai do Matheus, Heron, era um doador compatível e poderia dar parte do seu fígado para o filho.

“[Nos trouxe] conforto na época porque traz o controle da situação para nós. Não estávamos dependendo de uma lista, uma fila, e [ter] filhos saudáveis é o que todo pai e mãe desejam e sonham”, afirma Heron.

A cirurgia e o acompanhamento médico

Matheus junto do irmão — Foto: Arquivo pessoal

Matheus junto do irmão — Foto: Arquivo pessoal

Matheus foi hospitalizado em 4 de janeiro de 2021 para a cirurgia. A família lembra que o estado de saúde piorou e a cirurgia precisou ser adiantada. O procedimento durou 12 horas. Matheus recebeu alta do hospital no dia 30. Enfim, estava recuperado.

Não fosse alguns cuidados devido ao transplante, Matheus leva uma vida normal. De três em três meses, seus pais o levam de Santa Catarina para o Rio Grande do Sul, onde é feito o acompanhamento médico.

Matheus precisa tomar um remédio imunossupressor, que ajuda o organismo a não rejeitar o órgão que recebeu do pai. Também precisa fazer jejum de uma hora antes das refeições. A medicação é ministrada duas vezes ao dia.

Os médicos, contudo, já começaram a reduzir as doses do medicamento. O fígado não apresenta sinais de estresse, e é aventada a possibilidade de reduzir ainda mais o uso do remédio, até que ele não seja mais necessário. É um processo que pode levar de 15 até 18 anos, mas a notícia anima a família.

“Estamos extremamente felizes e com a vida praticamente normal, como era antes de todo esse episódio, de toda essa tragédia que a gente experimentou”, conta Heron.

Heron compara a saúde dos dois filhos: o irmão mais velho, de 8 anos, quando fica doente, apresenta sintomas por um dia. Já Matheus leva de três a quatro para ficar bem de novo. Afora isso, não há diferenças entre os dois.

O menino também tem a saúde mais vulnerável. Por conta disso, não está na escola. A ideia é evitar o contato com outras crianças pelo menos até que esteja com o esquema vacinal completo.

“É difícil sintetizar. Não sei dizer qual é a maior lição. São muitas. É um momento muito marcante”, resume Heron.

Se inscrever
Notificar de
guest

0 Comentários
Comentários em linha
Exibir todos os comentários