O estigma das grades na vida de ex-apenados; o PAT ouviu relatos de quem enfrentou esse desafio

O PAT buscou por mais de duas semanas entrevistar ex-apenados na busca de entender o estigma das grades na vida de homens e mulheres que cumpriram pena.

Como é a vida deles quando voltam ao meio social e se conseguem a tão almejada inserção no meio onde vivem. Também foi colocado em pauta a ressocialização, se existe ou é mera retórica que na prática não prepara ninguém pra esse desafio fora das grades.

Além disso, foi questionado se para adquirir um trabalho era necessário revelar que cumpriu pena, ou às vezes é só um detalhe que não precisa mencionar ao contratante, e buscou-se entender se quando é mencionada, essa passagem por um Presídio, o que acontece.

Assim como, se as barreiras e preconceitos são a causa da reincidência ou isso é uma justificativa para voltar à criminalidade.

O que ficou claro com essas questões, nos mais de oito ex-apenados que falaram com o PAT, foi o grande e assustador preconceito.

Muitos ex- apenados acrescentam que gostariam do direito do esquecimento, após serem condenados e cumprirem a pena que lhes foi imposta, pois é árdua a tarefa de se reintegrarem à sociedade.

O egresso do sistema prisional, ao sair busca restabelecer os laços perdidos durante o tempo que passou encarcerado.

O grande problema enfrentado, segundo eles, é a discriminação, hostilização e a desconfiança.

Todos, atualmente, estão em suas atividades laborais, muitos, inclusive são empresários que também estão auxiliando outras famílias oferecendo oportunidades de emprego, assim como, empresas no Município que têm essa e dão espaço para que eles possam ter uma nova chance. Desde funcionários a “patrões”, eles conversaram com a reportagem, porém, salientaram que não gostariam de expor nomes e profissões.

Protética, alegretense de coração, cultiva cada lembrança aqui vivida

Unanimente, eles pontuam que, embora, o crime tenha sido há anos, em dois casos, mais de 20, que já cumpriram suas penas e estão há um bom tempo livres e trabalhando de forma correta, a sociedade, não iria ter compaixão em comentários e também em apontar julgamentos que a família iria sofrer.

Um dos ex-apenados pontuou: tenho minha vida bem estabelecida, trabalhei muito duro para conseguir ter a minha própria empresa em que consigo garantir a renda para minha família. Porém, meus filhos iriam sofrer muitos julgamentos e olhares “tortos” se eu comentar o quanto é muito difícil o recomeço, embora se fale na ressocialização, ela existe muito mais na retórica” – destacou.

Alguns dos entrevistados que solicitaram que fosse mantido sigilo de nomes, também consideraram que a oportunidade de trabalho consegue diminuir os índices de reincidência, pois aqueles que cumprirem sua pena e após a saída, decidirem trilhar por caminhos corretos, encontrarão oportunidades e não terão que buscar no mundo do crime, a opção de “trabalho”.

Homossexual relata as barreiras e preconceitos em Alegrete

Diante da dificuldade e por compreender o grande temor de todos os ex-apenados e apenadas que o PAT buscou entrevistar, não deixando de citar o trabalho desenvolvido por dezenas que atuam no PAC, convênio com a Prefeitura. A reportagem entrou em contato com o administrador do Presídio Estadual de Alegrete, Willian Cipriano, e o questionou sobre essa situação.

Veja abaixo:

A ressocialização existe ou é mera retórica que na prática não prepara ninguém pra esse desafio fora das grades?

  • A ressocialização existe e o seu objetivo é fundamental no sistema prisional. Existem modelos diversificados de iniciativas focadas na ressocialização no Brasil e em diversos outros países do mundo, como Estados Unidos, Canadá, Australia, entre outros. No Brasil, a Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal) prevê como dever do estado auxiliar e orientar estes cidadãos para o seu retorno à convivência em sociedade. As medidas de ressocialização são comprovadas que ajudam a reduzir a reincidência.

Para eles o amor supera tudo, até sutis diferenças

Para trabalhar, eles têm que revelar que cumpriram pena, ou às vezes é só um detalhe que não precisa mencionar ao contratante?

  • Durante a entrevista de emprego, cabe ao empregador solicitar essas informações ao candidato, não sendo obrigatório, segundo a legislação vigente, mencionar que cumpriu pena de reclusão.

Quando isso acontece, de mencionar essa passagem por um presídio, o que acontece?

  • Quando mencionada a passagem pelo sistema prisional para o cumprimento de pena de restrição de liberdade, o mesmo não poderá ser desclassificado da concorrência da vaga de emprego por esse motivo, no entanto, é inegável que há um preconceito, por parte dos empregadores, em contratar pessoas com histórico de passagem pelo sistema prisional, cabendo ao candidato, através do diálogo, demonstrar que está em plenas condições de retornar ao mercado de trabalho.

Que crimes são os mais difíceis de serem aceitos pela sociedade?

  • Os crimes contra a vida e tráfico de drogas são os mais difíceis de serem aceitos pela sociedade.

As barreiras e preconceito são a causa da reincidência ou isso é uma justificativa para voltar à criminalidade?

  • As barreiras e os preconceitos enfrentados pelos egressos do sistema prisional são fatores que contribuem, em parte, para a reincidência criminal, todavia, não é unanimidade. Atualmente, há diversas políticas públicas que fomentam a importância e a necessidade de a sociedade abrir novas oportunidades para esse público.

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