Pesquisa aponta que 94% dos prefeitos do RS é contra a volta às aulas presenciais em 31 de agosto

Famurs realizou levantamento com municípios do estado. Governo alega que proposta é complementar ao retorno das atividades econômicas no estado.

Em uma pesquisa realizada pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) com prefeitos gaúchos, 94% deles manifestaram ser contra a retomada do ensino presencial no dia 31 de agosto, como sugeriu o governo do estado. Para eles, o maior problema é colocar alunos e professores em risco.

O estudo também aponta que:

  • Mais da metade (54%) vê problemas para organizar o transporte público de forma segura;
  • 44% relatam dificuldade para contratação de servidores;
  • 33% citam a falta de EPIs;
  • Quase 30% não concordam em voltar alegando que há um numero elevado de casos de Covid-19 em seu município.

 

“As respostas foram muito contundentes, sem vacilo. Portanto, acho é importante dialogar, estar atento a essas questões, mas o momento é de recuar, aguardar reduzir os números aqui no estado. Nós temos uma queda no número de casos graves, no número de internações. Depois a gente volta a debater sobre esse tema”, diz Maneco Hassen, presidente da Famurs.

As prefeituras, entretanto, divergem na data de retorno. Para quase 40% dos prefeitos, as aulas só devem voltar acontecer depois da vacina. Outros 35% acreditam que deve ser a partir da diminuição de casos. E, ainda, 56% dos prefeitos defendem a volta ao ensino presencial só em 2021.

Além disso, eles acreditam que os estudantes do ensino superior devem ser os primeiros a voltar, e não os do ensino infantil, como sugere o estado.

“Nós temos um encontro terça-feira, às 9h, com as 27 associações regionais para dialogar sobre o resultado da pesquisa e sobre as reuniões que as regionais fizeram. Vamos apresentar tudo isso na quarta, na reunião com o governo do estado”, explica Maneco.

O governador Eduardo Leite justificou, em transmissão ao vivo pelas redes sociais na tarde desta segunda-feira (17), que o calendário para o retorno foi uma sugestão devido à retomada gradual das atividades econômicas. Para ele, a proposta atende aos pais que retornaram ao trabalho e precisam de um local seguro para deixar as crianças.

“Parece que o governo estaria propondo que, no final do mês, 2 milhões de gaúchos voltassem para salas de aulas amontoados. Não é isso. Em primeiro lugar, é com protocolos, turmas reduzidas, intercaladas, com manutenção de ensino remoto e parte presencial. Além disso, as pessoas precisam se programar. O planejamento precisa ser antecipado. Por isso, a primeira negociação com prefeitos”, diz Leite.

Apagão educacional

 

Enquanto o calendário é debatido, o desafio tanto das prefeituras quanto do estado é garantir o acesso ao ensino enquanto as escolas estão fechadas. Porém, outra pesquisa feita em Porto Alegre por especialistas que monitoram a educação na pandemia mostra que ele vem sendo desigual.

Ela revela o que tem sido chamado de “apagão educacional”: crianças e adolescentes que não estão acompanhando as aulas por não terem equipamento adequado ou pela falta de conexão à internet.

O doutor em Educação Daniel Momoli, um dos coordenadores do estudo com 2,2 mil famílias, concorda que ainda não chegou o momento de reabrir as escolas. Ele diz que a decisão não pode ser apenas das famílias ou dos prefeitos.

“Uma coisa é ter o equipamento e outra é o tipo de acesso de internet que eu tenho. Temos relatos de mães que estão deixando de comprar comida com aquela ajuda dos R$ 600 para colocar crédito no pacote de internet para o filho poder acessar as aulas e ter alguma atividades. Temos que pensar outras medidas, outras soluções. A utilização das rádios, da televisão, uma série de situações que poderiam estar sendo construídas coletivamente pra garantir esse acesso”, aponta.

Nas escolas municipais da Capital, segundo o estudo, só 14% dos alunos têm acesso à internet banda larga. E 22% das famílias disseram ter algum filho sem aula neste momento.

“A gente não está conseguindo com que as crianças estudem, façam as tarefas, porque eles têm que usar um aplicativo e os telefones não suportam esse aplicativo. E a gente não tem internet em casa. Desde o início da pandemia, meu filho está sem estudar, e não só o meu filho, mas os filhos de outras pessoas aqui no bairro que não têm nem telefone. Está bem difícil essa situação”, relata a dona de casa Raquel Lomando.

A Prefeitura de Porto Alegre afirma que já assinou os contratos com as empresas de telefonia há cerca de três semanas e, apesar disso, aguarda que elas concluam a funcionalidade que faz a contagem de dados.

As versões apresentadas pelas empresas, até agora, não funcionaram adequadamente nos sistemas operacionais dos celulares. Mesmo assim, 46% dos alunos e responsáveis já se conectaram à plataforma, assegura a prefeitura.

Fonte: G1