Bandido arromba residência, rouba o que pode e abusa sexualmente da proprietária
No dia, o Delegado Erickson Freitas, titular da Decrab, que estava respondendo pela DPPA, determinou prisão em flagrante e o indivíduo foi levado ao Presídio Estadual de Alegrete.
Porém, 24h depois foi liberado e a ex-companheira e vítima, que preferiu não expor seu nome, procurou o PAT e solicitou espaço para o seguinte relato:
É quase natural nutrirmos o sentimento de que certas coisas nunca acontecerão conosco. Sempre fui uma mulher com um discurso de empoderamento feminino, a par das leis, das políticas públicas e de como o judiciário se comporta a respeito desse assunto. Considerava-me uma mulher que tinha como propósito ajudar outras mulheres. Pensava que por ter um discernimento sobre todos os tipos de violências que podem ser praticadas contra mulher, isso nunca ocorreria comigo.
No entanto, ocorreu. Eu fui vítima de violência doméstica, mais precisamente, tentativa de feminicídio. Pelo menos, foi o que a Polícia Militar e a Polícia Civil determinaram. Meu agressor foi preso em flagrante e, de certa forma, isso traz conforto para a vítima. Porque sim, a vítima sou eu.Após 24h, ele foi solto, podendo fazer o que bem entender. Então entramos num debate sobre o incentivo à denúncia.
Confesso, eu hesitei em chamar a polícia, eu pedi pra ele se acalmar. Porém, eu percebi que iria morrer. Estavam somente ele e eu, ele dizendo que iria me matar e eu percebendo que era verdade. Mesmo assim, a minha palavra teve um peso menor, ou nenhum. Eu fui agredida fisicamente, porém não ficaram marcas aparentes no momento que aconteceu. Nele ficaram algumas arranhaduras da minha tentativa de defesa. Assim, deixei de ser vítima. Porque só se é vítima nesse país quando se tem um corpo já sem vida atirado no chão. Deram-me um papel, dito medida protetiva, que de nada resolve se ele decidir entrar na minha residência novamente.
Neste momento, não consigo expressar o que sinto. Porém, percebo que o meu discurso era superficial demais, porque a dor que uma vítima desacreditada sente é imensurável. Eu olhei nos olhos de quem, por 9 anos, eu considerei o amor da minha vida, e percebi que ele iria me assassinar. Meus cabelos foram puxados e mechas arrancadas. Um aspecto que é tão feminino. Eu senti suas mãos em volta do meu pescoço, tentando me tirar o ar e a vida. Eu vi uma faca atravessar a porta do banheiro. E em todo momento eu supliquei para ele parar. Eu não fui forte, não fui corajosa. Eu supliquei, eu implorei.
Se a justiça não pode me ajudar, o que me resta? Eu como vítima carregarei os traumas. Eu terei que procurar auxílio psicológico. Eu não terei boas noites de sono. Eu, que de vítima, passei a culpada. Sinto-me ridicularizada. No entanto, estou viva, ou quase isso, pois ele só não conseguiu matar meu físico, porém me sinto morta por dentro.
O intuito desse relato não é desincentivar as vítimas a denunciarem, mas promover uma reflexão na sociedade. Como nosso judiciário tem tratado as vítimas? Qual o acolhimento realizado na UPA? Qual é o apoio oferecido à vítima após seu agressor passar apenas 24h na prisão? Para encerrar, destaco a competência e sensibilidade tanto da Polícia Militar quanto da Civil. Que esse tratamento possa se expandir para outros órgãos. Porque a vítima sempre vai ser vítima e não há qualquer justificativa para uma agressão, quanto mais para uma tentativa de feminicídio.
Eu poderia ser mais um número contido nas estatísticas desse país, mas estou aqui, viva e com voz potente. Sou sobrevivente do “amor da minha vida”. Ele tentou me matar, mas encontrou resistência em mim. A todas as vítimas de violência: RESISTAM!