Sucessão familiar no agro: histórias bem sucedidas em Alegrete

Empresas familiares são negócios que o poder decisório é transferido, de maneira hereditária, a um ou mais familiar. Segundo a Maxi Recur Consulting, empresa especializada em Sucessão Familiar Empresarial, empresas familiares são a grande maioria no mundo, chegam a 75% (setenta e cinco %) do total, e no Brasil chegam 93% (noventa e três percentuais) das empresas registradas.

Nestes índices não há estimativa de empresas informais. É possível afirmar que Sucessão Familiar Empresarial, é uma rotina bem comum, nos negócios, mas não é.

A Maxi Recur Consulting apresenta outro índice que mostra a realidade do assunto; nos seus diagnósticos empresariais, sobre “Plano De Sucessão Familiar”, constataram que: 40% (quarenta percento) das empresas entrevistadas não tem o Plano, 25% (vinte e cinco percento) das empresas vão fazer sucessão, mas sem Planejamento e quase 15% (quinze percento) ainda “não sabem o que fazer”.

Somente 10% (dez porcento) do total, das empresas entrevistadas, vão fazer uma sucessão com planejamento.

Outros índices interessantes são do IBGE e da e da Agro BAYER Brasil; o IBGE afirma que, de cada 100 (cem) empresas abertas somente 30 (trinta) suportam a primeira sucessão familiar. A Agro BAYER Brasil mostra que, somente 05 (cinco) empresas familiares suportam a terceira geração, ou seja, 05% (cinco percento).

“Infelizmente, os dados mostram que poucas empresas têm planejamento sucessório. E que poucas suportam sucessões na mesma família”, afirma o alegretense Vitorino Dorneles CEO da SEAC Gestão.

Com experiência no assunto, Dorneles presta assessoramento empresarial, e revela que o segmento que tem a maior quantidade de sucessores entre familiares, é o agronegócio.

De acordo com o CEO, normalmente a sucessão, neste segmento, é para os filhos(as), que assumem a propriedade na morte do patriarca ou da matriarca. Ainda, nesta linha, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), quase 40%  dos empresários rurais têm suas famílias na atividade agropecuária, há mais de 30 (trinta) anos.

Outro dado, segundo o jurista Ricardo Alfonsin, da Alfonsin Advogados, em 2015, entre os filhos dos produtores, 34% (trinta e quatro percento) têm alguma participação nas atividades de seus pais e, destes, 77% (setenta e sete percento) têm curso superior.

 

Talvez, por isto as empresas do agronegócio sejam as que mais ocorrem Sucessão com familiares. “Entendemos que, dois fatores são importantes na Sucessão Familiar. O lado empresarial com planejamento e envolvimento e participação dos descendentes na empresa.

A reportagem do Portal Alegrete Tudo conversou com três famílias alegretenses que praticam a sucessão familiar, alguns já estão na 4ª geração. Um dos exemplos vem do 8º Subdistrito Rincão de São Miguel, corredor Maneco Pereira.

Na Fazenda Eucalipto, o agropecuarista Cicero Peres Pereira, sucedeu o pai depois do avô gerenciar as terras na Eucaliptos. Lá o processo de sucessão familiar já é uma realidade. A pequena Anita Colpo Pereira, hoje com 8 anos, frequenta a estância desde os 3 meses.

Cursando a 3ª série do ensino fundamental na Escola Demétrio Ribeiro, Anita já esboça o gosto pelo campo nos próprios trabalhos colegiais.

Inclusive no ano de 2019, levou toda sua turma para uma aula no campo. Ela acompanha o pai quase que todos finais de semana na Fazenda. Passou um bom período das férias no Rincão, o estabelecimento fica 27 km distante do centro da cidade.

É na Eucaliptos que Amanda anda a cavalo, acompanha o pai na lida campeira e faz as refeições junto com a peonada no galpão da fazenda. Cícero explica a importância de viver no campo, se preocupar com a sucessão familiar, no caso dele, Anita é a 4ª geração.

Na fase do descobrimento, Anita desenhava o pai junto a ela no campo, contava histórias do campo nos trabalhos da escola. A filha de Lidiane Graciolli Colpo é uma campeira, gosta de churrasco assado com lenha, servido em baixo do arvoredo. Na Eucaliptos, a pecuária, cultivo de arroz e soja dita o tom. Ambiente este que a pequena Anita convive desde que veio ao mundo.

O interesse dela, o gosto de estar na fazenda, deixa os pais orgulhosos. E não é para menos, com oito anos de vida, Anita só não foi na Expointer, maior exposição agropecuária da América Latina em seu primeiro ano de vida e no ano passado por conta da pandemia. São seis participações, vivenciando o melhor da agropecuária.

Anita também participava dos remates no Parque Lauro Dorneles, antes da pandemia era presença certa. A pequena já desperta o interesse para os negócios, afinal já iniciou a cuidar de seu rebanho.

O ditado de que “O futuro é das crianças” – não é diferente no agro, setor que mais cresce. Em pleno desenvolvimento a necessidade de recursos humanos capazes de manter e melhorar as atividades no campo se torna imprescindível.

“Tradição e Produção precisam andar juntas, conhecer nosso passado, nossa forma de trabalhar no campo não basta, é preciso produzir além do estilo de vida no campo”, destaca Roberto da Fontoura Pereira, zootecnista da SAP.

Para o profissional, antigamente se adquiria estes conhecimentos com referência na família, hoje é necessário mais, produzir significa ser sustentável e desenvolvido, livre de paternalismo e ou assistencialismo.  Mais que a sucessão, continuidade ou inserção em um novo empreendimento isso que é preciso ensinar para esta geração que está por chegar.

Outro belo exemplo de sucessão familiar vem da localidade do Angico, 2º Subdistrito. O casal Dânia Lucas Refatti e Paulo Refatti, segue uma cartilha de bons ensinamentos aos filhos Pablo Lucas Refatti e Stella Lucas Refatti. Hoje eles estão produzindo no Mariano Pinto.

Os pais dela, Valdecir e Edir Anita Batistella Lucas, começaram a história em Alegrete vindo da Colônia, Borges no interior de Restinga Seca.

Em Alegrete, Valdecir cuidava de um motor á óleo em uma lavoura, morava numa casinha de turrão na barranca do rio ao lado do motor.

De empregado, Valdecir economizou e adquiriu um trator, começou numas áreas e acabou arrendando outras.

O negócio deu certo e o produtor cresceu e ensinou os filhos a gostarem do agro, Dânia e Veldon.

Dânia conta que com 6 anos começou vim para cidade estudar. Herdou dos pais o gosto pelo campo, pela produção e é isso que hoje ela ao lado do esposo Paulo Refatti passa aos filhos.

Pablo já dirige até o trator. Quer ser motorista de caminhão, agricultor, o guri já vive o campo. Stella adora a vida no campo, percorre plantações, anda à cavalo e se diverte quando está na agropecuária Batistella.

Ambos tem um acompanhamento dos pais, dos avós. Estão cientes das raízes e já sabem bem a importância da sucessão familiar.

“Pode ser que futuramente eles não sigam nessa profissão, mas eles sabem da onde vieram, eles vão ter raízes”, destaca a mãe Dânia Lucas.

No Mariano Pinto, mais um lindo exemplo. Os produtores Luciano Parcianello e Deise Oliveira Parcianello, fazem questão de ensinar aos filhos a importância do agro, não só na vida deles, mas como um contexto geral.

Bárbara Oliveira Parcianello 17 anos, Beatrice Oliveira Parcianello 12 anos e Luciana Oliveira Parcianello  11 anos, frequentam a Agropecuária Parcianello no Mariano desde os primeiros meses de vida.

É lá que eles tem ficada nessa pandemia. A mãe que atua na área da saúde só vai aos finais de semana para campanha. “Minhas três filhas, vem acompanhando o árduo trabalho e as dificuldades encontradas, em ser um produtor rural, desde de que nasceram, pois, sempre nos acompanharam no dia a dia. Assim cada vez mais desenvolvendo o apreço pela agricultura”, conta Deise.

Apesar das dificuldades da realidade atual, o casal está sempre incentivando as mulheres da família a manter a admiração e o gosto pelo estilo de vida rural.

É assim que muitos pais, produtores e gestores enxergam o futuro, passando as informações para seus filhos, proporcionando o conhecimento e a tradição, mas também reconhecendo a produção, necessária para a continuidade da atividade rural.

O zootecnista Roberto da Fontoura, afirma que é neste sentido que a Extensão Rural da Secretaria de Agricultura e Pecuária trabalha, para qualificar e aprimorar os futuros empreendedores e trabalhadores, em uma atividade fundamental para o município.

Júlio Cesar Santos                        Fotos: acervo das famílias entrevistadas