A tragédia da boate Kiss, dez anos depois, ainda é uma noite escura demais para esquecer

A tragédia na Boate Kiss, que deixou 242 vítimas fatais e mais de 600 feridos completa 10 anos nesta sexta-feira (27).

O incêndio levou a debates intensos sobre fiscalização de medidas preventivas e de combate ao fogo em casas noturnas e estabelecimentos similares. A Lei Kiss (Lei 1.3425/2017) foi aprovada no Congresso Nacional para unificar regras para estados e municípios, definindo competências e responsabilidades sobre a segurança em casas de espetáculos.

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Neste dia, que é um marco para incontáveis pessoas, o PAT também conversou com o alegretense, sobrevivente, Handrey Fagundes. Ele falou sobre esse momento atual em que a tragédia volta a ser lembrada, também, devido a série lançada pela Netflix.

‘Todo Dia a Mesma Noite’ é a primeira adaptação do caso para a TV. Sobre a série, Handrey que à época tinha 19 anos destaca que cada pessoa tem um olhar sobre a noite, madrugada e os dias que seguiram logo depois da tragédia. Ele cursava administração na UNIFRA, teve problemas pulmonares devido à inalação de fumaça, e citou que assistir a série também é uma forma de ter discernimento de tempo e espaço.

“Sempre pensei e neste período não falei com outros meios de comunicação, com a exceção de uma entrevista no dia, pois acredito que é necessário muita responsabilidade sobre tudo. Com isso, o questionamento sobre a minha opinião em relação à série e o relatos de pessoas que passaram pelo local tanto as vítimas, familiares, amigos, socorristas, entre outros, considero que trará mais reflexão. Avalio que nada é mais impactante que o pânico, além disso, toda a perspectiva daquela madrugada deve ser respeitada” – falou o alegretense.

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Handrey trabalhava no hospital da Unimed, para onde foi levado em 2013, e depois de um primeiro atendimento, passou a auxiliar a colega na recepção, pois não sentiu de imediato o impacto do que tinha acontecido, o que foi sendo dissolvido ao longo dos dias. Ele precisou de tratamento pulmonar e ficou com escoriações, além das consequências psicológicas. “Decidi auxiliar na recepção, foi justamente a percepção do caos instalado, muitos feridos, queimados, entre desmaiados e óbitos”- comentou.

O alegretense comentou que tinha tudo para não ir à boate naquela noite, mas acabou no local por um convite. Atualmente, ele está em Alegrete e cita que esse dia é um momento de muita reflexão.

“Acho digno salientar em relação a série como importância de conscientização para sociedade, apesar das críticas quanto ao sofrimento (não é pra ser bonitinho né) afinal, direta ou indiretamente envolveu todos, além de pessoas, órgãos públicos, competentes que também são responsáveis.”- acrescentou.

Já um outro jovem de Alegrete que estava cursando farmácia, na UFSM, Jucelino Junior, comenta que tinha tudo para estar na boate. Além de uma festa em que muitos amigos estavam, ele havia se programado pra ir. Junior ressalta que o sono o fez ficar em casa e acordou quando o sinistro já tinha proporções gigantescas com muitos óbitos. “Eu liguei pra casa, tranquilizei minha mãe e depois fui como voluntário auxiliar” – lembrou.

A série

Minissérie é baseada em livro reportagem da jornalista Daniela Arbex sobre a tragédia que matou 242 e feriu 600 pessoas

Dez anos após o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, a história é recontada na minissérie “Todo dia A Mesma Noite”, que estreou na quarta-feira (25) na Netflix. São cinco episódios que mostram, de forma ficcional, o que aconteceu na noite de 27 de janeiro de 2013.

Até o momento, nenhum responsável está preso. A produção é baseada em um livro reportagem da jornalista Daniela Arbex, lançado em 2018.

De Alegrete faleceram:

Manoeli Moreira Passamani: estudante de tecnologia de alimentos na UFSM. Natural de Alegrete (RS), cursava o 2º semestre da faculdade.

Ruan Pendenza Callegari: 20 anos, estudante de veterinária na UFSM, se formaria no final do ano. Único filho de pai contador e mãe professora.

Gabriela Corcine Sanchotene: Natural de Alegrete (RS), estudava psicologia na Unifra.

André Cadore Posser: 20 anos, natural de Alegrete (RS), estudava Engenharia Florestal da UFSM.

Angelo Nicolosso Aita de 24 anos – natural de Alegrete.

Entre as sobreviventes de Alegrete, também, está Kelen Ferreira, que teve 18% do corpo queimado e perdeu o pé direito no incêndio. Ela defendeu a conscientização impressa pela produção “Todo Dia a Mesma Noite”, da Netflix

— Acho que a gente precisa falar sobre o que aconteceu. Sou uma das sobreviventes que ficou mais danificada fisicamente. Além das sequelas e das queimaduras, perdi um pé. Então, a história precisa ser contada para que as pessoas saibam da realidade, para entenderem tudo o que aconteceu — explica Kelen, que hoje é terapeuta ocupacional em Pelotas. 

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