Ao lado do pai octogenário, filho relembra as 10 maiores enchentes de Alegrete

Falar sobre enchentes do Rio ibirapuitã para família Reffatti é como voltar ao tempo e relembrar as 10 maiores enchentes já registradas em Alegrete.

Ernesto Reffatti cuida, ao lado do pai, Ilário Pilecco de 86 anos, de propriedade no Bairro Rui Ramos. A zona margeia o rio, ou melhor é circundada pelo leito do Ibirapuitã.

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A chácara às margens do Rio se divide uma parte nos fundos da Vila Nova e a entrada principal pelo Bairro Rui Ramos. Com a inundação do Ibirapuitã que quase alcançou os 13 metros, eles tiveram que mais uma vez sair de casa.

Ernesto conta que o pai adquiriu a propriedade no ano de 1947, onde era usada na época como um porto para lanchas de grande porte que o avô possuía. Desde então, a família Reffatti aprendeu a conviver com as sucessivas cheias do rio. No dia em que o rio apresentou seu nível mais alto em 4 de maio de 2024, chegando a 12,83cm, o octogenário Ilário foi surpreendido por uma gripe e teve de ser hospitalizado para receber cuidados médicos.

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Ernesto conversa com a reportagem com a água na entrada da chácara, seu semblante não esconde a tristeza que assola o RS. Acostumados a acompanhar a suba e descida do rio em mais de quatro décadas, ele diz que no ano de 1959, teve uma grande cheia chegando na altura das janelas da casa da chácara, e as águas foram na extinta Escola do Instituto Rural Metodista (IRMA).
“As cheias sempre foram cíclicas, dá em alguns anos seguidos e depois passa dois ou três anos sem.
Essas enchentes do Rio Ibirapuitã são uma combinação de chuva entre a chuva muito forte na nascente do rio em Santana de Livramento e as próprias chuvas aqui no município”, ensina Reffatti.

Ele afirma que teve duas enchentes que lhe marcaram muito e também trouxeram ensinamentos. Com as enchentes dos anos de 2015 e 2018, ele aprendeu com base na elevação por hora. “Quando o rio está entre 9 a 10 metros, ele já atingiu as várzeas que tem ao redor da cidade e ainda assim sobe a 10cm por hora é sinal que vai ser grande a cheia.
“As cheias vão ser cada vez mais constante. O homem vai fazendo cada vez mais cobertura na terra com asfalto, calçadas e outras obras, evitando que a terra absorva a água e chegando com muita rapidez aos rios”, explica Ernesto, O Senhor das Enchentes.

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Na chácara dos Reffatti depois da 1959 que foi a maior que eles sobreviveram, a de 2018 também assustou, no entanto foi 20cm menor que a de 59.
“Teve um ano que não lembro, acho que em 1986, passamos por três seguidas em dois meses. Tínhamos pecuária aqui e tivemos que tirar os animais do campo”, conta o alegretense. Para Reffatti, a enchente de 2015 só é comparada a de 1959 e 1986.

O recorde é de 14m45cm, em 1959. Enchente essa que seu Ilário testemunhou e foi a maior dos últimos 60 anos em Alegrete. Segundo dados da Defesa Civil de Alegrete, o município foi atingido, ao longo de sua história, por três grandes inundações: uma em 1959, considerada pelos antigos moradores a que atingiu nível máximo; em 1997, quando a ponte Borges de Medeiros (que dá acesso à Zona Leste) foi interditada.

Um estudo de universitários da UNESP em 2013, revela que o inventário das ocorrências de inundações apontou um total de 39 registros de acidentes ou desastres provocados por inundações entre os anos de 1980 e 2007 em Alegrete. O trabalho aponta que o município é um dos mais afetados por este tipo de evento no Rio Grande do Sul.
Os trabalhos em detalhe permitiram identificar 30 bairros, dentro da área urbana, com registros de eventos. Os bairros Canudos, Macedo, Restinga e Vila Nova se destacam com a maior frequência de
registros de inundações, com 8 eventos registrados nos 27 anos analisados.

As enchentes ocorrem com frequência de três à cinco anos, e geralmente no verão, especialmente no mês de novembro. No entanto, segundo dados de vazões e cotas do Rio Ibirapuitã levantados pela CPRM/ANA, constatou-se que a maior vazão já ocorrida em Alegrete foi no mês de abril, e o mês de maior incidência dos eventos é o mês de outubro.

Fotos: PAT e acervo pessoal

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