Cabeleireira relata preconceitos com relação a cabelos crespos e cacheados

O preconceito com os cabelos crespos e cacheados começa na infância e permeia a vida de milhares de mulheres negras em todo Brasil. O racismo velado em comentários e disfarçado como brincadeira é um assunto muito sério e tem total impacto na autoestima e no crescimento da comunidade negra em geral.

O cabelo sempre foi muito mais do que uma parte do nosso corpo. Neste domingo(20), comemora-se o dia da consciência negra, portanto, de celebrar também os cabelos que representam essa cor, raça e toda uma história. 

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Usar o cabelo natural pode parecer algo simples, mas não é bem assim. Muitas mulheres negras passam boa parte da vida alisando e escondendo os seus cachos. Assumi-los é uma conquista recente.

Desta forma, o PAT conversou com a alegretense Tais Fonseca, 30 anos , cabeleireira há 6 anos, contudo, cerca de um ano atrás, especializou-se em curvaturas.

Tais destaca que a vontade de atuar nesta área surgiu a partir da transição da mãe, Cátia Fonseca, que tinha preconceito com seu próprio cabelo, pois, por muito tempo o cabelo liso obteve reinado e se tornou o padrão de beleza feminina.

“Se o cabelo não fosse liso, deixava de ter representatividade de grande parte das mulheres, e dentro deste contexto, percebi que em nossa cidade não havia recursos e acompanhamento para direcionar as mulher que decidem viver com seu cabelos naturais”- explica.

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A cabeleireira acrescenta que durante o período que atua com curvaturas passou por muitas experiências com mulheres negras e também brancas que não conheciam seu cabelo natural e não queriam nem ouvir em usá-los assim.

“Foi um processo, quebrando um tabu que a própria sociedade criou que cabelo bonito é cabelo liso. Hoje em dia, a estética da mulher tem mudado porque há uma grande procura desse tipo de cuidado e descobrimento trazendo à tona muita representatividade da natural mulher brasileira, este ramo tem estado em alto empoderamento – fazendo-a compreender a sua real beleza”- destacou.


Tais segue a narrativa, explicando que nem tudo são flores, inclusive já testemunhou situações de mulheres que choraram, pois não sabiam como aceitar o seu próprio cabelo natural, e pontua mais uma vez que a própria mãe enfrentava traumas e medos em relação ao que a “sociedade” poderia falar, ou passar por olhares que a julgariam mais que palavras.

“Presenciei muito medo, neste período de transição, pois para algumas o processo é bem doloroso. Acredito que a sociedade está caminhando, sim, para um novo futuro pois é gritante como as mulheres têm optado pelo natural de se aceitarem como realmente são.
Aos poucos a revolução vem acontecendo de maneira mais forte. Dados de pesquisas, mostram que houve um crescimento na procura de cabelos cacheados superando as expectativas.

Concluo ressaltando que a aceitação é o primeiro passo, existe um processo de autoconhecimento, pois mexe com a autoestima com altos e baixos , mas nesse caminho de transformar você acaba renascendo novamente também”.

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