
O desfile de Carnaval não poderia começar diferente: por todos os lados se via a comoção de quem planejou tanto um evento que era tão esperado. A chuva decidiu presentear os alegretenses, abandonou nossa região e apareceu um céu estrelado. O público não se intimidou com a noite fria e ventosa, lotou e encheu de cor as arquibancadas e camarotes. Houve um pequeno atraso para o começo das apresentações, devido a um detalhe técnico relacionado aos carros alegóricos.

Às 23h10min, abriram-se os portões para que a primeira escola adentrasse na avenida. A Unidos dos Canudos fez uma homenagem ao lendário Dr. Romário Araújo de Oliveira, médico alegretense conhecido por ser solidário e ter um grande número de partos em seu curriculum, o que lhe rendeu mais de dois mil afilhados. A comissão de frente homenageou a especialidade do médico: obstetra e trouxe muitas mulheres grávidas performando com alguns seres celestiais, atrás vinha uma alegoria que simbolizava o Hospital Santa Casa de Alegrete, da estrutura saíam bolas de sabão. A bateria vestida com tons de laranja e amarelo fez seu samba-enredo retumbar na avenida, o nome da fantasia usada pelos músicos era “O nascer do dia com a Luz do sol”. O time do coração do homenageado, o Internacional, teve uma ala exclusiva, como no verso do samba-enredo que diz “Colorado paixão, consulado do amor”.
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Nós Os Ritmistas foi a segunda escola a fazer a apresentação. O vocábulo ìyálodè, título do samba-enredo, significa as mulheres negras mães da sociedade. Foi com essa palavra e fogos de artifício que Os Ritmistas iniciaram seu desfile repleto de influências das religiões de matriz africana, Clara Paixão, primeira figura a abrilhantar a escola representava Oxum, demonstrando um samba performático.
A comissão de frente era composta por bailarinas que representavam as deusas ancestrais. O primeiro carro alegórico fez menção a Flora, escrava que afogou seus filhos no rio Ibirapuitã para que não fossem escravos, o misticismo da água levaria as crianças de volta para seu berço, a África. Além dela, Araci Baez – trouxe a umbanda para Alegrete -, professora Dadá – primeira vereadora preta do Rio Grande do Sul – , Dandara – bailarina alegretense que faz grande sucesso no Brasil e no exterior.
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A terceira escola, a Imperatriz da Praça Nova, levantou o público com seu samba-enredo composto de muito axé e referências às religiões de matriz africana, tudo em homenagem a Antônio Carlos de Xangô, homem humilde, foi pedreiro e até morador de rua, quando a fé o chamou. O primeiro carro alegórico é um navio negreiro, mas que demonstra a força do negro e sua luta por liberdade. Em seguida, as três musas, Dani Teixeira, Val Bica e Joana Silva, representam as esposas de Xangô.
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A Mocidade Independente da Cidade Alta falou sobre a fé, das mais diversas, trouxe religiões cristãs, como também de matriz africana, até mesmo o folclore de várias partes do país. Para representar melhor tanta diversidade, as alas simbolizavam lobisomens, seres mitológicos, muitas fantasias traziam elementos da igreja católica e cristã. A comissão de frente apresentou bailarinas e uma alegoria com um ser divino, como uma espécie de culto. A bateria, toda vestida de branco, demonstrou a paz de poder acreditar em suas crenças sem medos, alertando para a importância da tolerância religiosa, bem como diz o samba-enredo “A MICA chegou, amém, trazendo o amor e o bem”.










A Acadêmicos do Por do Sol finalizou a primeira noite falando sobre a felicidade, algo que parece simples, porém é tão importante. A volta do Carnaval também é tema relevante no samba-enredo, o que muitas pessoas ansiavam. O 1º casal de mestre sala e porta-bandeiras, Anelise e Aires Dorneles demonstrou muito samba no pé com uma fantasia em tons de verde, intitulada “A majestosa esperança da comunidade”. Pierrôs, Colombinas, Arlequins e Palhaços invadiram o sambódromo como um convite a todos para serem felizes.
E foi assim, com muita alegria, quando o último carro alegórico passou que o público desceu para a avenida e também sambou com a escola até a última nota, como relata o samba-enredo de Zolá e Marcio Duarte “Você falou que o samba havia morrido, que a folia tinha desaparecido, olha pra mim, você errou, aqui quem manda é o povo festeiro”.
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E com toda a leveza de uma noite sem conflitos, os alegretenses puderam voltar para casa tendo o sol como companhia e com a certeza de que a segunda noite promete ser ainda mais encantadora.




