Droga semelhante a LSD é detectada pela primeira vez por perícia do RS

Peritos dizem que nova "roupagem" da droga é para tentar burlar a fiscalização. Situação é considerada um problema de saúde pública por especialistas.

O Instituto-Geral de Perícias (IGP) detectou pela primeira vez no Rio Grande do Sul uma droga sintética de efeito alucinógeno que tem uma estrutura química parecida com a do LSD, conhecida como ácido lisérgico. A substância, chamada de ALD-52, foi identificada a partir de um trabalho feito em parceria com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). O laudo ficou pronto em 30 de janeiro, mas só foi divulgado nesta segunda-feira (6).

A droga, em forma de selo de papel, foi apreendida em junho do ano passado pela polícia, no município de Santiago, na Região Central do estado. Duas amostras foram encaminhadas à Seção de Drogas Apreendidas do Departamento de Perícias Laboratoriais (DPL) do IGP. Foi o laboratório da UFCSPA que conseguiu identificar a composição da molécula.

“É muito satisfatório fazer a identificação (…) tanto para fazer o alerta, quanto na questão técnica” afirma a perita criminal Milena Morsoletto, do DPL, responsável pelo caso.

O que significa a descoberta

Segundo o IGP, a descoberta do ALD-52 no Rio Grande do Sul é mais um indício do potencial que existe no mundo do tráfico internacional de drogas para a exploração de novas substâncias psicoativas (NSP). Laboratórios clandestinos de química sintética, fora do Brasil, têm investido na produção de substâncias novas ou mais potentes, para fugir do controle regulatório dos órgãos internacionais, burlando os testes e exigindo novas metodologias de detecção.

“Isso revela o tamanho do desafio de identificar essas substâncias, em função da grande variedade de coisas novas que aparecem”, explica Lara.

A detecção no RS chama a atenção para uma possível volta do LSD, com uma nova “roupagem”, para tentar burlar a fiscalização.

“Identificar novos compostos que a pessoa está consumindo é fundamental para as ações de vigilância e para que a pessoa saiba que está usando algo que não é saudável. Fazer parte desse processo é fundamental para colaborar de modo mais eficiente para o bem social”, afirma o professor Tiago Franco de Oliveira, do Grupo de Pesquisas em Espectrometria de Massas e professor da UFCSPA.

Amostras de ALD-52 já foram identificadas em São Paulo. O ALD-52 é proscrito (de uso proibido no Brasil) desde fevereiro de 2022.

Problema de saúde pública

Para a chefe da Divisão de Química Forense do IGP, perita Lara Soccol Gris, o surgimento dessas substâncias evidencia um problema de saúde pública, pois não existe controle de qualidade sobre o que o cidadão está consumindo. Em 2019, por exemplo, o IGP identificou uma droga que causou a morte de um adolescente em Igrejinha, cidade distante 85 km de Porto Alegre.

A perita estima que, de todas as amostras já analisadas de selos de LSD no laboratório, menos de 30% realmente tem o ácido lisérgico na composição – o que aumenta o risco à saúde do consumidor.

Em 2021, a Divisão recebeu cerca de 1.850 requisições para pesquisa de drogas contidas em comprimidos artesanais e selos – 52 eram LSD. Em 2022, foram 1.986 requisições da mesma categoria.

O volume total de drogas analisadas chegou a 48.374 no ano passado – a maioria, maconha e cocaína. Outro estudo, também feito pelo IGP, mostrou o quanto a cocaína é alterada no estado.

Substância foi identificada em parceria entre IGP e UFSCPA — Foto: IGP/Divulgação

Substância foi identificada em parceria entre IGP e UFSCPA — Foto: IGP/Divulgação

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