Feminicídios brutais, além de dor e sofrimento, destroçam famílias

O sentimento de ódio que transcende o poder do homem e que resulta na morte de mulheres com requinte de posse, seguido de crueldade.

A mulher como uma propriedade e/ou objeto descartável do agressor, que é possível ser usada, abusada e jogada fora. É assim que os feminicidas são interpretados por especialistas, conforme pesquisa realizada pelo PAT.

Homem mata companheira e se entrega na Delegacia de Polícia em Alegrete

Alegrete registrou neste ano de 2022 o segundo feminicídio, e o crime revoltou familiares e amigos da vítima, assim como, no primeiro crime ocorrido no dia 20 de abril.

O brutal assassinato que ceifou a vida da cuidadora de idosos de 48 anos

As vítimas, Neuza Elara Santos da Rosa de 48 anos e Nair Terezinha Fernandes Lima de 45 anos.

Nair Terezinha Fernandes Lima
Nair Terezinha Fernandes Lima

Diante deste segundo crime contra Neuza Elara, a família fez uma página no Facebook, buscando evidenciar, que além da prisão que ocorreu naquela noite, o autor confesso precisa ser julgado e condenado pela barbárie que cometeu.

Marfrig suspende abates até renovar contrato de fiscais sanitários

Em conversa com os filhos de Elara eles descreveram: a vontade de fazer essa página era grande, desde a noite em que nossa mãe foi assassinada, porém, o luto falou mais alto e nos deixou sem reação diante do mundo. Quando, nesta semana, aconteceu novamente um feminicidio, em Alegrete, nos causou muita revolta e a vontade de justiça tomou conta. Todo santo dia, ao menos três mulheres são vítimas de feminicidio no Brasil, isso tem que acabar estão nos matando pois sabem que nada vai acontecer a eles- diz uma das filhas.

Tentativa de arremesso e disparos antimotim no Presídio Estadual de Alegrete

Intitulada Justiça por Elara, uma das mensagens na página traz o seguinte relato:

Elara Santos

Elarinha …

Quando uma mulher se torna uma vítima, já não é mais visto com perplexidade, uma novidade ou algo que faça as pessoas terem vontade de tomar as ruas exigindo por justiça.

Em que momento normalizamos o direito que um homem acha que tem sobre o corpo de uma mulher?

No dia 20 de Abril de 2022, nossa mãe seguia com sua rotina normalmente. Trabalhou o dia inteiro, chegou em casa, fez seu chimarrão e estava sentada tranquila descansando antes de fazer o jantar, quando seu ex companheiro Roberto Carlos da Fontoura Muller bateu na porta da frente de sua casa com a desculpa de lhe entregar a chave do imóvel que há tanto tempo ela implorava que ele lhe devolvesse. Ingênua, ela prontamente abriu a porta quando imediatamente foi surpreendida com um ataque cruel, monstruoso, que em poucos instantes lhe deixou sem vida no chão da sala da sua própria casa.

E foi assim que, com 13 facadas, esse “homem” acabou com nosso mundo.

Foi assim que ele nos roubou inúmeros almoços de domingo, inúmeros abraços.

Foi assim que ele roubou a avó dos dois netos e de todos os outros que eles nunca chegarão a conhecer a extraordinária mulher que ela foi. Foi assim que ele roubou uma mãe dos filhos.

O motivo? A recusa de continuar um relacionamento abusivo, com violência psicológica e física. A crença de que tinha algum direito a reivindicar, a crença de que era dono do corpo de uma mulher e que podia obrigá-la a permanecer ao seu lado. A crença de que ela não passava de um objeto que se ele não pudesse mais usar não serviria para mais nada.

Mãe de 5 filhos, avó, tia, irmã, filha, amiga…

Elarinha, como era carinhosamente conhecida era uma mulher forte, determinada. Uma sonhadora. Estava cursando o 3º semestre da faculdade de História e fazendo muitos planos para o futuro.

Uma verdadeira força da natureza. Se recusava a abaixar a cabeça para as adversidades e era dona de um coração que só via o melhor nas pessoas. Dona de uma bondade impossível de ser medida. Sempre cultivando a amizade e o respeito para com todos com quem convivia.

Vocês terão algum conforto com as boas lembranças, as pessoas nos dizem, embora essas lembranças só nos façam perceber o que nunca mais teremos, o abraço e o cheiro de lar que nunca mais sentiremos, daquela risada gostosa que nunca mais ouviremos, daquele convite para o chimarrão ao entardecer.

O luto é como um desenraizamento cruel. Ele nos arrancou do mundo que conhecíamos e o que nos resta agora é raiva e medo.

Temos medo de ir para a cama, acordar e perceber que não foi um pesadelo – embora isso se repita todas as manhãs.

Temos raiva do mundo, das notificações que continuamos recebendo de notícias, entre elas mais violência contra mulheres.

Como é possível o mundo seguir adiante, inspirar e expirar de modo idêntico, enquanto dentro da nossa alma tudo se desintegrou de forma permanente?

Roberto Carlos está preso. Se entregou poucos minutos após ter assassinado nossa mãe. Tranquilamente deixou o local, caminhando e não correndo. Ligou para a polícia, contou o que fez, onde estava e ficou aguardando com a tranquilidade de quem sabia que nada de mal lhe aconteceria.

Seu julgamento está marcado para dia 23 de Agosto de 2022 às 9h, onde será julgado por homicídio triplamente qualificado. Embora nenhuma pena seja suficiente, esperamos que seja punido com todo rigor que a lei permitir e que assim como lemos em uma conversa dele com nossa mãe pelo Whatsapp, onde ele dizia que se fosse preso pelo menos ele teria onde morar. Que ele tenha muitos e muitos anos para acordar em uma cela e lembrar do que fez.

A família está organizando uma caminhada pacífica no dia do julgamento do Parque Rui Ramos, às 8h até a Frente do Fórum, onde vão permanecer durante o período do Julgamento.

Se inscrever
Notificar de
guest

0 Comentários
Comentários em linha
Exibir todos os comentários