João, coveiro há mais de 40 anos, é um apaixonado pela vida

João Antônio Nunes Alves de 65 anos é o mais antigo funcionário do Cemitério Público Municipal de Alegrete. No último dia 24, orgulhoso, destacou numa entrevista ao PAT que já tem 44 anos de Prefeitura, destes, 40 no Cemitério.

Ele já está aposentado, contudo segue no ofício de pedreiro, coveiro e demais atividades. “Aqui, eu faço de tudo. Nunca tive um problema nessas décadas todas. Entra gestão diferente e eu permaneço, pois acredito que precisamos fazer sempre o melhor. Assim, nesse período que estou aqui, tive o privilégio de conseguir minha casa e ainda fazer o mesmo para três filhos. Tudo é questão de administrar”- destacou.

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Ele pontua que o período mais tenso foi na pandemia, onde não recorda quantos enterros fez em apenas um dia. “Foi muito triste, estávamos iniciando um enterro e já havia caixões esperando. Foi um momento de muitas perdas, inclusive de familiares e amigos nossos”- comentou.

Os dias que antecedem o Dia de Finados sempre são os de mais trabalho. São 40 anos de serviço perto de túmulos, em que certamente vai deixar o seu legado quando optar por fazer apenas o que mais tem paixão, além da família e das atividades ali exercidas – a caça e a pesca.

Já estou aposentado há 10 anos, mas como sempre fui solicitado, fui ficando e ainda não sei quanto tempo mais. Hoje, esse auxílio é para meus netos que são 11, véspera de 12” – sorri.

 O coveiro mais antigo, não deixa de ajudar os companheiros, sempre que o pessoal pede ele dá uma mão.

Aos 65 anos  comemora as décadas de trabalho ininterrupto. Ele conta que antigamente era muito mais comum crianças acompanharem enterro dos pais. Algo que sempre o comoveu, embora nunca tenha expressado, principalmente quando o sepultamento é relacionado a mães.

Uma outro situação que o marcou muito, durante a sua jornada, foi o sepultamento de um casal que foi violentamente assassinado. “Lembro que ninguém sabia a identidade deles e foram sepultados, logo depois, precisamos abrir o caixão. Foi muito impactante ver os corpos dilacerados como estavam, aquilo marcou e quase precisei ir para o médico, contudo, sou um homem temente a Deus e passei a orar.  E acabou que não houve a necessidade, mas foi muita crueldade o que fizeram com aquele casal, depois foram identificados. Eles não eram de Alegrete”- recorda.

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O ritmo do trabalho é inconstante, mas ele não esquece do período mais crítico que foi na pandemia. Também  descreveu sobre um final de semana que faleceu uma sobrinha, criança, e ele era o coveiro. “A filha da minha única irmã. Estava sozinho, mas por sorte lembrei de um colega que residia aqui perto. Fui até a casa dele e prontamente veio aqui me substituir. Por esse motivo, mesmo hoje, não trabalhando final de semana, sempre que meus colegas precisam de alguma ajuda, prontamente estou aqui.”- informou.

João disse que nunca teve medo de trabalhar  no Cemitério, e ao ser questionados sobre as passagens marcantes, lembrou de mais uma polêmica em que uma pessoa do sexo masculino teria sido sepultada viva. “Aquele assunto tomou conta da cidade.”- citou.

Enquanto ele conversava com a reportagem, os colegas que passavam eram só elogios ao colega, assim como o Diretor Administrativo do cemitério, Carlos Romeiro. “Ele é meu braço direito, mesmo aposentado faço questão de mantê-lo aqui. É um excelente funcionário, em todos esses anos, jamais teve alguma queixa”- acrescentou.

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Um sepultamento estava por ser realizado naquela tarde, e os colegas já o chamavam, porém, ainda deu tempo de João falar da família, algo que o emociona muito.

Como já tinha enfatizado, ele é um homem temente a Deus, disse que em mais de seis décadas de vida, jamais fumou, bebeu algo alcoólico ou brigou com alguém. Uma pessoa que iniciou a trabalhar muito cedo, por volta dos 11 anos, e fez de tudo um pouco, no interior.

“Meus avós são os responsáveis pelo que sou hoje, esse homem honesto. Eu não tive a oportunidade de estudar, mas a cultura de vida que eles me ensinaram, foi o que me fez chegar até aqui”- falou.

O início do trabalho de João no Cemitério, não foi fácil, ao entrar no assunto de âmbito familiar, recordou que o pai tirou a própria vida quando ele completava quatro meses, no ofício que está. Logo depois, em alguns meses teve a perda de um irmão, aos 17 anos, para a hepatite e na sequência a morte da esposa aos 42 anos.

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“Minha mulher era uma pessoa saudável. Em 12 dias do diagnóstico de um problema nos rins, ela faleceu e eu fiquei com três crianças, um de seis anos, outro de cinco e a menor de 2. Foi um momento difícil, lembro que algumas pessoas com mais condições financeiras chegaram a pedir meus filhos, mas eu jamais iria abrir mão deles. Foram dois anos de muita luta até encontrar a minha esposa atual. Ela inclusive é minha prima irmã, chama-se Simone Nunes Alves. Uma mulher de um coração gigante, ela já tinha dois filhos e resolvemos que iríamos ficar juntos e em seis meses já estávamos casados. Assumi os filhos dela e ela assumiu os meus, além disso, tivemos mais dois.

Ela é uma guerreira ao meu lado, uma pessoa que também é temente a Deus. Somos uma grande família, com muito respeito e amor. Inclusive, quando ela era pequena, e eu tinha meus 17 anos, cheguei a ajudar a cuidar da minha esposa, ela era criança, mas jamais imaginei que um dia iríamos ser o casal que somos nesses anos todos. Minha mulher é minha parceira para tudo, até nas pescarias e caçadas”- fala com muita felicidade.

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A família para João é seu bem maior. Toda vez que falou da esposa, dos filhos e netos os olhos brilharam, a emoção era muito maior.

João é pai de Éder dos Anjos Alves, Emerson dos Anjos Alves, Carmen Liziane dos anjos Alves, Izaias Dias Nunes, Mirian Dias Nunes, André Nunes Alves e Adriana Nunes Alves. Avô de 12 netos e reside no bairro Progresso, onde fala com alegria da residência que tem e da horta que cultiva.

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