Natali, ex- costureira da Pôr do Sol e guerreira por natureza, morreu na última quinta-feira

O último adeus. A despedida de quem se ama nunca é fácil, embora haja o entendimento e a evolução espiritual, o luto é necessário para amenizar a dor. Na tarde de ontem(22), a reportagem do PAT foi procurada pela família de Natali Soares dos Santos. A alegretense faleceu no último dia 18, na Santa Casa de Alegrete e foi sepultada sob os aplausos da família e amigos. Uma das filhas, Rosangela e uma das netas Viviane, estavam representando todos que tiveram o prazer de conviver com a guerreira Natali. O desejo de uma homenagem, é para eternizar e descrever um pouco da trajetória da jovem que causou-se aos 16 anos, teve quatro filhos e, aos 24 anos ficou viúva e responsável por ser o esteio da família.

Rosangela, ainda emocionada, disse que a mãe sempre foi uma grande referência, uma batalhadora que nunca deixou faltar nada que fosse indispensável para os filhos. Assim que ficou viúva, Natali passou a fazer bolo e doces para vender. No primeiro momento, os dois filhos mais velhos saiam pela vizinhança e com o valor do dia, ela tirava para comprar alimentos e também ingredientes para o próximo dia. Porém, ao buscar uma renda melhor, a alegretense passou a costurar e tornou-se uma referência em sua profissão. Com o passar dos anos, foi responsável por muitos anos das fantasias da Escola de Samba Acadêmicos do Pôr do Sol. A neta, Viviane, cita que a avó, depois de concluir o trabalho e entregar todas as encomendas, desfilava pela ala das baianas na escola. Ela era apaixonada, pelo samba, e pelo grupo de pagode dos netos Cristian, Daniel e Anderson. Estava sempre acompanhando quando eles tocavam.

 

Rosangela fala com orgulho da mãe e destaca o quanto ela sempre foi muito atuante na comunidade e preservava amizades. Tinha o ponto de encontros com vizinhas que conhecia desde que foi morar na rua Vasco Alves. Com o passar dos anos e o trabalho exaustivo a fez tornar-se o esteio da família. Natália sempre foi muito forte, decidida e guerreira. Ela contava para os filhos que, logo após ficar viúva, chegou a receber propostas de pessoas que foram até sua casa e disseram que ela deveria doar os filhos, pois não conseguiria sustentá-los. Muito firme e leoa, a alegretense respondia que preferia passar fome, não ter limite para trabalhar, mas jamais iria abrir mão dos filhos e, assim, deu a todos educação e sustento.

Muito vaidosa, Natali gostava de ouvir Martinho da Vila e nunca demonstrou, se teve fraquezas, pois sempre tinha uma linda inspiração para a vida, era uma pessoa muito feliz. “Como ela ficava horas e horas, da manhã até madrugada em frente à máquina de costura, em dias muito quentes para suportar a carga extensa de trabalho, ela colocava toalhas molhadas nas costas, não havia ventilador em casa. Os anos foram passando e ela teve alguns problemas de saúde entre eles uma bronquite e lesão na coluna. Com isso, teve que parar com a costura, foi então que colocou um bazar, algo que ela era muito dedicada, adorava trabalhar no estabelecimento que começou com meia dúzia de produtos e, depois conquistou seus clientes fiéis. Ela era muito feliz” – disse Rosangela.

Uma situação que a filha lembrou, foi a vontade que Natali tinha de reencontrar com um irmão.  Fazia 38 anos que ela não tinha notícias dele. Há dois anos, elas procuraram o PAT e depois de uma reportagem, ele entrou em contato com ela e conversaram por horas. Naquele dia, a filha recorda que Natali disse que já poderia morrer em paz, pois ficou sabendo que o irmão estava bem e residindo em Mato Grosso.

Além deste fato sobre o irmão, a filha também descreveu que a mãe foi abençoada até o último instante. O motivo da afirmação foi em razão de uma bisneta que nasceu no dia 10 de fevereiro. “O parto ocorreu antes do previsto e com isso, ela conheceu a última bisneta, essa alegria foi muito emocionante. Levamos a bebê, Antonela, no quarto dela. Ver a bisneta a fez se reenergizar naquele dia, ela queria muito conhecer e Deus permitiu”- disse.

 

Natali tinha quatro filhos, Marta, Clóvis, Celso(in memorium) e Rosangela, além de sete netos e oito bisnetos. Reunir a família e agregar, esse sempre foi o lema. Devido aos problemas de saúde, ela internou em 13 de novembro pela primeira vez e ficou entre idas e vindas até o dia 1º de fevereiro, quando ficou hospitalizada até o dia 18 quando faleceu. “Ela sabia que a neta Viviane estava vindo do Paraná para vê-la. Parece que ela esperou ela chegar, pois fazia cerca de um ano que não a via. Foi olhar para Viviane e falar com ela e poucas horas depois nos deixou” – disse a filha.

A homenagem da família também ocorreu no cemitério no momento do sepultamento. Natali foi aplaudida por todos pelo exemplo de força, garra e generosidade. A mulher que dedicou a vida à família, aos filhos, netos e bisnetos, que agregava e desbravou o mundo em um período em que casou para ser esposa, do lar e mãe. O esposo, há época era mais velho, quando faleceu tinha 50 anos(infarto), até então era responsável pelo sustento da família. Mas o desafio, não se transformou em desespero, a fez conquistar o seu próprio destino com muita determinação e mostrar que ela não precisava abrir mão dos seus bens mais valiosos que eram os filhos para trabalhar e sustentar a casa. Natali deixou um legado de união, respeito e amor à família. Ela sempre foi e será o orgulho de todos – falou a filha.

Dentre o acervo de fotos da família, Rosangela enviou as que tiraram no último Natal. Um momento que Natali amava por estar perto da família e que não irá se repetir fisicamente, desde a última quinta-feira – comentou.

 

Flaviane Antolini Favero