O que se sabe e o que falta saber sobre o golpe dos nudes investigado no RS

Crime consiste na extorsão de usuários de redes sociais após troca de mensagens, com compartilhamento de imagens íntimas. Desde o começo da investigação, pelo menos 140 pessoas foram presas só no RS.

crime

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga, desde 2022, um esquema de extosão contra usuários de redes sociais após envio de fotos íntimas, conhecido como “golpe dos nudes”. Os golpistas, em sua maioria do RS, aplicavam o golpe em vários estados do país.

Desde o início das investigações, 140 pessoas foram presas apenas no estado. A investigação identificou pelo menos 80 vítimas do golpe em todo o país. Em um dos casos, uma delas teria perdido mais de R$ 100 mil. O prejuízo total chega a R$ 5 milhões.

O esquema foi tema do programa Linha Direta, da Rede Globo, na última quinta-feira (25).

Nesta reportagem você confere:

  1. Como acontecia o golpe
  2. Quem eram as vítimas
  3. Onde o grupo criminoso agia
  4. Quantos foram presos
  5. Como a polícia descobriu o esquema
  6. De que forma o esquema fortaleceu tráfico de drogas
  7. Como denunciar
Troca de mensagens entre o grupo criminoso e uma vítima do golpe — Foto: Montagem/g1

Troca de mensagens entre o grupo criminoso e uma vítima do golpe — Foto: Montagem/g1

Como acontecia o golpe

O golpe dos nudes consiste em chantagear usuários de redes sociais, geralmente homens mais velhos, após o envio de fotos íntimas, na maioria das vezes por jovens mulheres. Depois da troca de mensagens, um suposto parente ou autoridade policial entra em contato dizendo que a jovem era, na verdade, menor de idade. Os golpistas, então, tentam extorquir dinheiro das vítimas para que elas não sejam expostas.

Os criminosos chegavam a montar cenários para simular delegacias e filmar a encenação do momento em que seria feito o registro da ocorrência por pedofilia contra as vítimas de estelionato. Delegacias falsas da Polícia Civil foram descobertas em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre

A Polícia Civil descobriu, ainda, que uma adolescente de 17 anos foi aliciada pela organização criminosa. Ela se fotografava, recebia entre R$ 100 e R$ 200 por “pacote de imagens” e as fotografias eram utilizadas no esquema.

Quem eram as vítimas

O alvo dos criminosos eram homens mais velhos, com idade superior a 30 anos de idade. Entre eles, empresários, médicos e até mesmo políticos. Em um celular apreendido pela polícia, um dos golpistas diz que conversa com até 30 vítimas em potencial por dia.

“Vou em ’30’ cara por dia. Nem tráfico dá tanto ‘din’ do que eu faço. Ganho ‘din’ deitado”, dizia um dos suspeitos de envolvimento no esquema.

Fala de suspeito de envolvimento em golpes dos nudes encontrada em celular apreendido pela polícia — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Fala de suspeito de envolvimento em golpes dos nudes encontrada em celular apreendido pela polícia — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Onde o grupo criminoso agia

Ao menos 80 pessoas que sofreram o golpe foram identificadas. Os crimes teriam acontecido em 12 diferentes estados: Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O prejuízo total a vítimas do golpe dos nudes é estimado em R$ 5 milhões.

De acordo com as investigações da Polícia Civil, iniciadas em junho de 2022, o grupo agia tendo como base as zonas Leste e Sul de Porto Alegre , com ramificações em Santa Catarina. Um dos líderes do grupo, que já atuou no sistema penitenciário como “cantineiro”, agiria recrutando outros suspeitos para a participação no golpe dos nudes de entro da prisão. Atualmente, ele está cumprindo pena na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas, a cerca de 60km de Porto Alegre, tendo passado por outros presídios do Rio Grande do Sul.

Um dos locais que foram alvo de operação contra golpe dos nudes  — Foto: Eduardo Paganella/RBS TV

Um dos locais que foram alvo de operação contra golpe dos nudes — Foto: Eduardo Paganella/RBS TV

Quantos foram presos

Nesta segunda-feira (29), de acordo com as últimas atualizações da Polícia Civil, foram presos 33 suspeitos de participar do esquema. Ao todo, foram cumpridos 11 mandados de prisão preventiva; 30 de prisão temporária; 33 de busca e apreensão; e 25 bloqueios de contas bancárias.

Conforme o inquérito policial, os suspeitos são investigados pelos seguintes delitos: organização criminosa; lavagem de dinheiro; tráfico de drogas; posse e porte ilegal de munições e armas de fogo; extorsão; e corrupção de menores.

Como a polícia descobriu o esquema

De acordo com o Delegado Rafael Liedtke, responsável pelas investigações, os trabalhos iniciaram há mais de onze meses, quando um homem foi preso em flagrante no município de Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Com ele, foram apreendidas armas de fogo, um veículo Mercedes-Benz e aparelhos de telefonia celular.

A partir de então, o setor de Inteligência da Polícia Civil passou a investigar o caso, chegando a utilizar até mesmo o veículo apreendido como viatura descaracterizada do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (DENARC).

De que forma o esquema fortaleceu tráfico de drogas

Em outubro de 2022, um arsenal foi apreendido junto a um suspeito de 25 anos que faria parte do grupo em Cachoeirinha. O homem, que ainda está preso, foi alvo de novo mandado de prisão preventiva durante a Operação Cantina. Junto ao arsenal, também foram apreendidas grandes quantidades de crack, maconha e cocaína, e as investigações apontam que o grupo é parte de uma das facções criminosas de maior atuação no Rio Grande do Sul.

Segundo as investigações da Polícia Civil, uma etapa final do esquema consistia na obtenção de dinheiro das vítimas do golpe dos nudes por pessoas aliciadas pela organização criminosa e que atuavam como “laranjas”, emprestando contas-correntes e CPFs para os depósitos bancários. Esses “laranjas” seriam remunerados pela quadrilha e também receberiam ordens para distribuir o dinheiro obtido entre os demais membros do grupo investigado.

Como denunciar

A Polícia Civil destaca que nenhum policial liga ou manda mensagens para a exigência de qualquer tipo de valor, para negociar cumprimento de mandados ou deixar de cumprir mandados de prisão. Caso esse tipo de situação aconteça, é orientado que seja feito o registro de um boletim de ocorrência em uma delegacia.

  • Disque denúncia – 08005102828
  • WhatsApp e Telegram – (51) 9 8444-0606
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