Opaa realiza Projeto Castração Solidária em animais do bairro Piola

Ao longo do mês de junho, a ONG Opaa, em parceria com a Prefeitura Municipal e as clínicas veterinárias Vitória veterinária, Alegrepet, Atendvet, Cães e Gatos, Saúde Animal e Harmonia veterinária, vai realizar uma ação de castração solidária no bairro Piola. A médica veterinária, Dileusa Alves, explica como iniciou o projeto.

“Na verdade, a castração solidária sempre existiu, só que não era com esse nome. A gente tá sempre fazendo ações nos bairros. Faz 11 anos que nós trabalhamos e toda vez que tem verba a gente destina para um bairro”.

Dileusa conta como são escolhidos os bairros em que a ONG realiza ações. “Normalmente, é aquele que vem com mais queixa, nós vamos monitorando queixas de abandono, maus tratos, entre outras. Então, por exemplo, um dos bairros que a gente fez, acho que foi em 2015 ou 2016, foi o Renascer, porque lá termina o bairro e já começa o interior. Então, as pessoas vão lá, dão uma voltinha e largam os cachorros. Era muita queixa de cães de rua e que as pessoas acabavam acolhendo. A verba para a ação foi do Nota Fiscal Gaúcha e nós castramos 57 animais, entre os de rua (que depois de castrados foram acolhidos por alguém) e os de famílias carentes indicadas pelo presidente do bairro”.

Dentre os eventos organizados pela ONG que fazem parte do surgimento do Projeto Castração Solidária está a Cãominhada, “que é uma passeata para incentivar as pessoas para que elas cuidem melhor dos seus animais, para que não haja maus tratos”, conta. A ação rendeu R$ 4 mil que foram investidos no bairro oposto ao Renascer, o bairro José de Abreu, que também é um lugar problemático, pois “as pessoas chegam ali na Gamino, ou viram pra direita ou viram pra esquerda e abandonam os animais” relata a médica veterinária. Nessa intervenção foram realizadas em torno de 38 castrações sem custo. A prefeitura é parceira da ONG realizando o transporte dos animais.

Dileusa, relembra ainda, a maior castração que a Opaa já conseguiu realizar e que aconteceu no ano passado, no bairro Promorar. “Foram por volta de 220 castrações, com uma verba de R$ 20 mil, que a gente ganhou de um projeto do Sicredi”.

Com a pandemia, A ONG sofreu grandes impactos, pois os eventos realizados para viabilizar as castrações, não puderam mais ser realizados, “então surgiu a ideia de formarmos parcerias com as clínicas, pedindo as castrações, para que cada clínica desse, pelo menos, uma castração. E chegamos a esse novo projeto, que é o Projeto de Castração Solidária, no qual cada clínica da cidade, com algumas exceções, doa uma castração mensal para Opaa, o que fica, mais ou menos, em torno de 10”, descreve Dileusa.

É importante destacar que, em princípio, o proprietário do animal não tem custo nenhum, a não ser com medicamento. O transporte é fornecido pela prefeitura e a cirurgia pela ONG.

A médica veterinária conta que muitos bairros da cidade já a procuraram para saber como participar do Projeto. Ela explica que é necessário que os presidentes de bairro se mostrem interessados e atuantes na causa animal para que sejam contemplados. “Eu preciso que eles desenvolvam primeiro o projeto deles, para que a gente consiga encaixar eles no nosso. O nosso vai seguir, porque acredito que a castração solidária veio para ficar. Com uma parceria enorme das clínicas da cidade que viram que não tem outro jeito. O executivo tem o canil, a própria ONG montou o canil para a prefeitura, montou a clínica, conseguiu o carro pra transporte, só que eles não têm verba mensal de investimento, então é por isso que a gente faz todo esse esforço”, aponta Dileusa.

Em cada ação do Projeto, assim que as castrações são concluídas, a Opaa realiza um dia de atendimento solidário. O atendimento solidário desse mês ocorrerá na sede do bairro Piola, mas ainda não tem data definida.“Vamos convidar as clínicas parceiras para estarem lá, pra todo tipo de serviço… Para informações, para mostrar para os moradores que além dessa castração solidária, a ONG trabalha com o mutirão de baixo custo, no qual há duas clínicas cadastradas, em função do custo-valor das castrações serem muito baixos. Há muito tempo a minha clínica (Vitória Veterinária) e a do médico veterinário Roberto Baltodano (Alegrepet) vêm mantendo o projeto mutirão, em que se tem uma redução em 50% nos valores normais. A ONG mostra também como faz para se tornar sócio e quais as vantagens, além de muitas outras informações e ações realizadas por profissionais de diversas áreas que se disponibilizam a estarem juntos”, relata.

Para conseguir atuar com qualidade em diversas frentes, a ONG Opaa se divide em grupos de trabalho. Há um grupo que atende questões relacionadas aos equinos, sobretudo, os de tração. “Nós estamos com um trabalho bom, que é para ajudar a divulgar a regulamentação da lei 6.134/2019, que regulamenta todo o transporte das carroças da cidade”, relata. A partir dessa lei, os condutores precisam de um curso para obterem a carteirinha e poderem emplacar a sua carroça.

Outro grupo é focado na questão da alimentação e cuidados básicos dos cães, pois muitas pessoas, sobretudo com a crise enfrentada pela pandemia, não têm condições de sustentar os animais. A ONG faz campanhas de arredação de ração e conta com estabelecimentos comerciais que são parceiros, como agropecuárias, posto de combustível e supermercado. Recentemente, a delegacia de polícia, em função do selo Delegacia de Polícia Amiga dos Animais, fez um trabalho de arrecadação de ração.

Com a chegada do inverno, o grupo se organiza para viabilizar casinhas para doar aos tutores dos animais que não tem condições. “Já estamos correndo atrás de doação para fazer as casinhas para doar para aqueles tutores que não tem condições de manter seus animais abrigados, pois a gente não tem para onde levar. Se fosse apontado maus tratos a gente deveria tirar o animal, só que aonde nós vamos alocar? O canil que tem não é nosso, é da prefeitura e está lotado. Então, não tem nem como pensar em tirar, a gente tenta fazer um trabalho inverso, em vez de ir lá e tirar o animal da pessoa, abrir processo e na outra semana ele vai lá e pega outro animal e segue do mesmo jeito. A gente tenta agora castrar aqueles animais que estão em situação de vulnerabilidade, acomodar com casinhas, mas o nosso grande problema sempre é o humano, a gente sempre tenta fazer tudo que pode, mas quando tu trava na boa vontade do tutor, aí fica complicado. A gente evita ir aos extremos, tentando ajudar”, explica Dileusa.

Há um terceiro grupo que trabalha com questões políticas, tais como cobrar o cumprimento das leis pelas autoridades locais, estaduais e federais, assim como, o investimento de verbas de emendas na causa dos animais. “Sempre estamos pedindo investimento, quando é maior pedimos de fora. E vamos fazendo nosso próprio investimento nos eventos aqui na cidade. Além disso, temos a contribuição dos sócios que fica em torno de R$20 (às vezes as pessoas não tem condições de pagar esse valor e às vezes tem pessoas que acham que podem contribuir com mais). Esses valores vão para o caixa da Opaa para as despesas mensais e situações de emergência”, conta Dileusa.

Por fim, há um outro grupo dentro da ONG que trabalha com as adoções e doações. Frequentemente, muitos animais são abandonados, sobretudo, os filhotes. A médica veterinária menciona que estes não podem ir para o canil, pois há contaminação viral. Assim, o grupo, que também administra a página da Opaa no Facebook, faz campanhas e publicações de adoção de animais. “Não só aqueles animais que são abandonados, mas às vezes, a pessoa vai se mudar e não pode levar ou adoece e não pode mais cuidar, então fazemos a ligação, pelas redes sociais, entre pessoas que precisam doar com pessoas que querem adotar. É um trabalho árduo, pois precisamos manter contato para saber como aquele animal está sendo tratado porque tem uma adoção responsável e a ONG vai monitorando, pra ver se tem condições, se o animal foi castrado…”, descreve.

De maneira geral, além de atender os animais em situação de vulnerabilidade, a Opaa também acaba fazendo um trabalho social com algumas famílias que se encontram em tal situação. Dileusa cita que “sempre quando um cachorro está em situação de vulnerabilidade, esta família também está. Então a gente procura encaminhar essas famílias para serviços do município para que também sejam atendidas. Tem casos em que nós achamos que não dá pra esperar, então, a própria ONG já construiu várias casas na cidade para àquelas pessoas que não tem condições”.

Para finalizar, Dileusa faz um desabafo sobre o trabalho da ONG, ressaltando que a Opaa não recebe nenhum tipo de verba pública e todos os integrantes são voluntários. “A gente não tem verba pública nenhuma. As pessoas que trabalham na ONG são todas voluntárias, o único serviço que pagamos é o escritório de contabilidade. Então, todo mundo tem sua vida, trabalha em seu emprego e doa uma percentagem do seu tempo para a Opaa. É importante deixar claro para a população que ninguém tem a obrigação de fazer, pois sempre falam coisas do tipo “cadê a ONG que não vem tirar os cachorros da rua?”. Isso, na verdade, é obrigação do município. Um animal é atropelado e não lembram da prefeitura, só lembram de nós. Por um lado, isso nos deixa felizes, pois é sinal de que o trabalho está sendo bem feito. Mas a gente faz conforme pode e, quando alguém pode, os animais são transportados nos nossos carros próprios, não tem carro da ONG, não tem sede… Nós somos um grupo de voluntários, que não é sempre que consegue estar à disposição”, finaliza.

Laís Alende Prates