Pandemia: paralisação das atividades afeta duramente empreendedores do ramo de festas e entretenimento

Enquanto alguns segmentos da economia comemoram a retomada gradual das atividades, outros ainda não têm sequer previsão de retorno.

Músicos, atores e quem vive da cadeia de festas, como operadores de som e técnicos de iluminação, são apenas alguns exemplos de profissionais que amargam prejuízos desde o início da pandemia, já que dependem de aglomeração para ganhar a vida.

A perda da renda dessas pessoas veio justamente por causa do isolamento social, que é uma das medidas preventivas para conter a proliferação do novo coronavírus, que até o segunda-feira (18), matou 44 alegretenses e contaminou outros 3.382. O setor de eventos foi o primeiro a parar e, possivelmente, será um dos últimos a voltar.

A reportagem do Portal Alegrete Tudo conversou com alguns empreendedores do ramo que relataram dramas, dificuldades financeiras, mas também mostraram esperança em dias melhores. Para o DJ Rodrigo Duarte Gonçalves, que trabalha também no ramo de brinquedos infláveis, a pandemia foi um caos que influenciou na vida particular dele e da própria família.

Há 25 anos trabalhando no ramo, ele está prestes a completar um ano sem poder exercer suas atividades. Realizou lives mas em compensação acumulou dívidas. Rodrigo teve que se desfazer de alguns aparelhos e contraiu um quadro grave de depressão. Conta que chegou a tentar suicídio. Medicado, hoje ele faz tratamento. Recebeu auxílio financeiro de um grupo de empresários da cidade.

DJ Rodrigo conseguiu saldar e renegociar algumas dívidas graças à Lei Aldir Blanc. Ele está se preparando, diz que com a vacina chegando é vida que segue. Quer voltar a trabalhar, torce para liberação das atividades quer trabalhar. Já tem um protocolo sanitário para apresentar às autoridades.

Para o vocalista do Grupo Gurizada Macanuda Juliano Cristaldo, já são 10 meses sem subir num palco para show, exceto as lives ele diz que passou sufoco nessa pandemia. Recebeu ajuda com alimentos no momento mais crítico da pandemia. Nos meses de junho e julho considerou o mais brando. Sem renda, se viu em apuros. Juliano conta que conseguiu emprego numa rádio FM o que amenizou suas dificuldades financeiras.

A família também foi uma aliada no momento mais difícil. Hoje ele só espera pela vacina. É consciente, diz que não é hora de voltar. “Temos de nos cuidar. Não é momento de aglomerações em festas. O baile vai ter que esperar mais um pouco”, comenta o vocalista da Gurizada Macanuda.

Para o empresário Fabrício Camargo, proprietário do Friend Club, que está parado desde março, diz que está sobrevivendo com o bar. Perdeu as contas do montante de prejuízo acumulado. No Club, bebidas perderam a validade, os freezer são limpos a cada 15 dias, para evitar o mofo. O ambiente fechado acaba sujando e é preciso lavar o club no mínimo duas vezes por mês.

Camargo lamenta a agenda parada, com dois shows nacionais contratados, perdeu duas megas festas de final de ano. Saiu da cidade e inaugurou um empreendimento em Bagé. Torce para que tudo passe com a chegada da vacina. Quer investir ainda mais em Alegrete. Vai melhorar a estrutura do club e em frente ao estabelecimento. “Vamos vencer essa luta e voltar mais fortalecido”, comenta Fabrício.

Também do ramo da noite, Luis Grando do Querência Amada, está se virando com outros negócios que possui. A renda vem da venda de bebidas e e de produtos da sua loja de bomboniere.

“Trabalhamos com entretenimento e estamos sendo deixados de lado ninguém do Poder Público fez ou tem intenção  ou interesse em nos ajudar”, desabafa o empresário.

Ele está ciente que só volta depois que a população esteja totalmente segura. “Quem já perdeu tanto não custa esperar mais um tempo”, rebate Grando.

Outro músico que também precisou buscar outra fonte de renda é Rodrigo, integrante da Gurizada Macanuda. Com agenda de shows cancelada ele acabou fazenda panquecas para buscar uma renda mensal que custeasse em parte suas despesas.

O músico faz panquecas e lasanhas e disse se preciso até serviço de capina de pátios e cortar grama de jardim. Sobre uma possibilidade de retorno dos bailes, o músico é ponderado. “Acho que enquanto não sair a vacina por mais que se queira não consegue decolar. O vírus está aí, muita gente não vai sair por mais que falem. Imagina tu em um lugar fechado sabendo que hospital está sempre no limite. Por mais que se queira não consegue arrancar”, explica.

Rodrigo diz que o pessoal acha que quem trabalha com evento só quer festa, só que esquece que existe toda uma equipe por trás. Desde os juntam as latinhas até quem organiza o ambiente.

Na área de filmagens, a pandemia não poupou a profissional Simone Fagundes. Ela conta que foi devastador na sua área de atuação. Com os eventos afetados e provavelmente serão os últimos a retornar às atividades, ela e seu grupo de trabalho tiveram que se reinventar nesses quase 11 meses parados.

“Novas oportunidades surgiram, em pequena escala, mas suficiente para amenizar com a criação de legendas de cursos de vídeos online, vinhetas, logomarcas”, destaca Simone. Tudo isso foi necessário para poder cumprir os compromissos com banco, contas de água, luz e telefone da empresa. “Vimos nossa renda zerar de forma abrupta. Paramos em março e não temos uma expectativa de retorno. Não somos só um evento, uma festa, somos trabalho, economia, vidas”, reitera a profissional.

Simone diz que o setor está agonizando. Por trás da empresa existe uma logística grande e todos estão passando por dificuldades financeiras e até alimentação foi prejudicada.

Há décadas no ramo de sonorizações em festas e eventos, o DJ Allan teve que se reinventar totalmente, buscar um novo trabalho para  sustento da família. “É um novo recomeço”, destaca o profissional. Allan enfrentou a pandemia com muitas dificuldades, viu sua renda chegar a zero da noite para o dia. Com um novo emprego busca equilibrar suas despesas para sustento da família.

Outro profissional que foi profundamente castigado pela pandemia do novo coronavírus, é Fagner Fernandes Pissinin. O DJ e locutor atua desde 2004 no ramo e é proprietário de uma empresa de sonorizações para festas e eventos. Empregador, ele diz já ter perdido as esperanças. Acumula dívida atrás de dívida. “Quebrado, endividado com bancos e tentando vender os carros para não perder a casa”, revela o profissional. Fagner conta que o IPTU subiu, e está com 2020 atrasado e mora numa área que pega enchente. Pissinin não esconde a insatisfação de estar sem trabalhar no que mais gosta. Atuou em lives solidárias, emprestou sua aparelhagem e estúdio para gravações, mas o que mais quer é retornar ao trabalho na sua empresa.

Pâmela Sitó engatinhava para carreira solo quando a pandemia iniciou. Formava dupla com a cantora Luana Severo. Ela conta que teve de se reinventar e acabou fazendo um curso para designer de sobrancelhas. Atualmente atende na sua casa e assim vai buscando o sustento da família. “Estou me virando e mato a a vontade de cantar nas lives. É isso que realmente gosto de fazer. Cantar”, comenta.

Há 10 meses parada, Vilma Petry, proprietária do Mundo Kids, espaço de recreação infantil lamenta a falta de atividades. “A gente trabalha com recreação, e está vetado por enquanto”, informa a proprietária do Mundo Kids.

Em 10 meses, o local ficou aberto por uma semana, quando o município entrou em bandeira laranja e o protocolo seguiu do Estado.

“Na verdade, o que a gente tem ainda, mesmo com a vacina, é incerteza e muita esperança, né? Que em seguida, a gente consiga trabalhar com segurança, principalmente porque a gente trabalha com crianças”, comenta Vilma Petry com a esperança de dias melhores.

Empresas de decoração também tiveram que se reorganizar. Trabalhadores do ramo foram buscar vagas no comércio para ter uma alimentação digna.

[16:26, 18/01/2021] Jarbas Belíssima Fotografia: 11 meses desde o dia 15 de março estamos sem fazer o que realmente nos mantém como empresa que e promover eventos sociais, como 15 anos, casamentos bodas etc.. ,mas tive que achar uma alternativa desde abril estou fazendo entrega para uma casa de carnes, que por sinal gosto muito do que estou fazendo tenho facilidade de tratar com pessoas, pois faço isso a 30 anos no meu negócio de fotografia e eventos trato como se fossem meus clientes com muito carinho e respeito complementando oque é de costume na empresa que presto serviço .

Para o fotógrafo profissional Jarbas Abreu, não está sendo fácil. Há 30 anos trabalhando em eventos, a pandemia impediu ele de fazer o que mais gosta.

Para manter seu negócio aberto sabia que teria de se reinventar, o que acabou não fazendo. Descontente por não receber mais ajuda do governo, apenas o auxílio emergencial que serve para quitar as despesas de alimentação, o aluguel, a água, telefone, internet coisas indispensáveis na profissão.

“Nós geramos trabalho para muita gente manter nossas pequenas empresas aberta. Acho indispensável para economia do município, com as restrições imposta pelo Decreto, ficamos sem atender nossos clientes por muito tempo, quando voltamos as despesas se acumularam agora lutamos dia a dia para mantermos as porta abertas”, reitera Abreu.

Jarbas está pessimistas quanto ao futuro. “O que vejo daqui para frente, é mais dificuldade. A vacina vai demorar para imunizar boa parte da população. Como chegaremos no final dessa pandemia , como ficaremos sem nossos trabalhos”, resigna-se o fotógrafo.

Quanto aos protocolos, Jarbas compactua que são necessários no momento. “Colhemos o que plantamos. A comunidade não entendeu a gravidade da doença e não colabora”, pontua.

Sobre a flexibilização, ele solicitou a secretaria de saúde, inclusive colaborou com um protocolo que viabilizasse o retorno das atividades.

Com o município entrando em bandeira vermelha o plano foi adiado. “As festas clandestinas ou não clandestinas estão acontecendo sem nenhum protocolo. Será que é a decisão correta manter vedada essa atividade que atinge várias outras. Em um salão não podemos, mas em um restaurante pode com protocolos. Qual a diferença do local para outro sendo que se comprometemos com os protocolos que nós apresentamos para o prefeito e secretários”, protesta.

Jarbas comenta que todos as atividades estão funcionando de alguma maneira com protocolos. Só nós não podemos nos adequar e trabalhar. Como fica as pessoas que querem fazer uma festa de 15 anos para sua filha ou um casal que quer realizar uma recepção para comemorar seu casamento. Faz como bandido se escondendo das autoridades ou faz com segurança através das empresas locais que tanto precisam dessa renda para continuar abertas”, indaga o profissional.

Numa rápida pesquisa entre os entrevistados, aproximadamente das 26 empresas de som de Alegrete, 10 já desistiram, destas, três se desfizeram dos equipamentos e encerraram o negócio. Recentemente uma manifestação dos trabalhadores em festas e eventos pediu a retomada segura e gradual dos eventos na cidade, mas não conseguiram reverter a situação.

Júlio Cesar Santos                                                Fotos: reprodução