Que silenciem os tamborins: morreu João Braz da Silva

Uma sexta-feira que ficará marcada na história de Alegrete. Além da notícia de que um dos maiores cartões postais do Município foi ao chão, ao que tudo indica pela ação da própria natureza, também responsável e criadora da beleza que era a ponte de Pedra, localizada há cerca de 55Km da cidade, no Cerro do Tigre, nesta tarde(14), a reportagem do PAT ficou sabendo da morte de um dos grandes ícones de cultura popular, o carnavalesco João Bráz da Silva. Ele sentiu-se mal na noite de ontem, foi levado à UPA e posteriormente à Santa Casa. Mas, devido a complicações de saúde, faleceu no início desta tarde – descreveu o filho Bergson da Silva.

 

Silenciou aos 95 anos uma das lendas do Carnaval no Município, que constituiu uma bela trajetória e deixou um grande legado. Um verdadeiro mito, o carnavalesco que criou vários blocos, co- fundador de escolas, foi integrante da Pioneira, a Nós Os Ritmistas e teve participação em todas as escolas de samba de Alegrete.

 

João Brás, em 2016, com uma invejável lucidez concedeu uma entrevista ao PAT e destacou, há época, que a festa jamais poderia parar, referindo-se que manter a vida ativa sempre foi uma grande referência em sua existência. Ele foi homenageado em 2019, com um documentário sobre a sua vida pelo NEABI – Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas, da Unipampa.

Respeitado no meio do samba, João Braz, falou durante a entrevista, do auge do Carnaval de Alegrete nos anos 80. Naquela época, as escolas: Ritmistas, Canudos, Mica, Unidos da Ponte, depois o Pôr do Sol desfilavam na Praça Getúlio Vargas e alegravam as pessoas.”  Não havia segredo, afirmou Braz. A simplicidade e a vontade de se divertir faziam a diferença e todos brincavam felizes”.Nesta época, João e  um grupo de amigos chegou a criar a Império do Braz em protesto ao racismo – falou, tranquilamente, o velho sambista.

 

João Bráz, também, descreveu trechos dos momentos difíceis, dos desafios e como começou a ler e qual foi a sua inspiração. Certo dia, ele observou e prestou atenção no canto dos pássaros e percebeu que deveria ser uma forma de comunicação, logo, pensou que, se até os pássaros, tinham este entendimento, ele poderia buscar o conhecimento. O primeiro caderno, sem ter condições de comprar, foi adquirido em um mercado. Durante a entrevista concedida ao PAT, o alegretense citou que pediu um pouco do papel que o proprietário utilizava para enrolar os produtos. Ao questionar o motivo e saber que a intenção era estudar, o homem gentilmente cedeu um livro e dois cadernos a João Bráz.

Quando a professora falou que a essência de tudo estava no som das letras, o alegretense lembrou do canto dos pássaros. E, em um dos trechos de sua narrativa disse: “o querer e a vontade, não tem outra coisa que supere”.  Com isso, João comprou os primeiros livros e ressaltou que chegou a conclusão de que ninguém é mais do que ninguém.

As últimas homenagens a João Braz da Silva estão acontecendo na rua Daltro Filho,220. O sepultamento será às 9h deste sábado(15), no Cemitério Público Municipal de Alegrete.

Veja abaixo a entrevista:

Flaviane Antolini Favero