Quem venceu a Covid, o medo e incertezas, tem muitos ensinamentos para contar

"Eu preciso evidenciar, pois eu mesma não tinha ideia do cuidado, atenção e carinho, não são profissionais da saúde, são anjos." - disse a paciente.

paciente venceu a covid-19 e deixa uma linda homenagem
paciente venceu a covid-19 e deixa uma linda homenagem

Há mais de um ano, a pandemia assola o Município. Os danos econômicos, físicos e emocionais, não foram só aqui, o mundo sofre o impacto da Covid-19.

Quando se ouviu pela primeira vez, no final de 2019, as palavras Coronavírus, China, mortes e prevenção, tudo ainda parecia muito distante. Mas, poucos meses depois veio o primeiro Decreto Municipal, as medidas preventivas, alguns comércios fechados, lockdown e os casos foram aumentando até o ápice em março deste ano. O mês que mais ceifou vidas – 92 óbitos em 31 dias. Hoje, o Município registra 271 mortes em decorrência do vírus, mas também, muitas vitórias.  De acordo com a Santa Casa, mais de 73% dos pacientes internados retornaram para suas casas, um deles é a alegretense Delfina Alzirene Salbego da Silveira com 38 anos.

Ela disse que falar sobre sua vitória é demonstrar que é possível, por mais difícil e nublado que muitas vezes possa parecer. O relato feito, cita que a Fé, o amor da família e todo cuidado dos profissionais, foram fundamentais, não poderia deixar de ressaltar.

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A infecção:

No início do mês de junho, dia 7, dois dias depois de iniciar uma tosse e muita dor de cabeça, ela saiu de casa para ir à farmácia. Como tem bronquite asmática, pensou que seria apenas mais uma crise. Mesmo assim, decidiu fazer o teste da Covid-19 para tirar a dúvida.  Em menos de cinco minutos soube que estava contaminada. Dali, foi orientada a procurar o gripário, que devido ao baixo fluxo naquele período, estava fechado pela parte da manhã e iria reabrir às 13h, por essa razão, Alzirene foi à UPA.

 

Depois de passar pela consulta, foi pra casa com os medicamentos e ficou isolada do restante da família. Contudo, a tosse aumentou e com ela, a febre chegou. Tinha dias que parecia que já ia reagir e outros de forte abalo. Assim, ela passou cinco dias, até que a febre só aumentava e, no dia 10, um tremor e a febre acima de 39 a fizeram retornar à UPA. Ela trocou a medicação e fez um raio X, retornando para casa.

Na sequência, os altos e baixos, uma melhora momentânea e a piora logo atrás. Passados mais três dias, retornou à UPA e passou por uma tomografia que mostrou que havia comprometimento  de 30 a 40% dos pulmões.

A internação

Com o resultado da tomografia, o médico conversou e apontou a internação como uma possibilidade e ela se desesperou. Naquele momento, Alzirene disse que implorou ao médico para não ficar, tinha muito medo e ressaltou que iria fazer tudo certinho em casa, Mas que não a internasse. Vendo o pavor em seu olhar, o médico concordou em passar outra medicação e disse que, se ela não tivesse melhora, deveria retornar.

“Passei bastante enjoada naquela noite e pela manhã senti tontura e fadiga. Por volta das 10h45min, fui fazer nebulização e passei muito mal, ao ver a saturação, estava em 89. Chamei o meu esposo e sabia que não teria mais como protelar, iria me internar.”- comenta.

E assim foi, internou no dia 14, sete dias após positivar. Alzirene, lembra o quanto estava com medo, muito medo, isso, ainda a emociona. Tanto que a entrevista ao PAT foi toda por texto, pela dificuldade que ainda está em falar por períodos muito prolongados. Ela passa por cuidados pós Covid.

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paciente venceu a covid-19 e deixa uma linda homenagem
Paciente venceu a Covid-19 e deixa uma linda homenagem – Santa Casa Alegrete

O hospital

Já internada, ela precisou de oxigênio após a saturação cair para 80 e ter alguns desmaios. Emocionada, Alzirene cita que a Covid é uma doença que testa o ser humano o tempo todo, parece que quer ver até onde o paciente vai resistir – fica medindo forças com a pessoa – considera.

“Foram dias difíceis, pensar na família, nos filhos(tenho 2) um com 17 e outro com cinco, principalmente por saber que eles poderiam estar positivados, ainda não tinha resultado dos exames, mas eles não foram infectados. Pensava o tempo todo, se eles estavam bem, se o que ouvia era realmente a verdade, tudo passava na minha cabeça. Nesta hora, a ansiedade é nossa grande inimiga, nos faz piorar e eu demorei pra aprender que a unica aliada era a serenidade. A gente acompanha outros pacientes e, às vezes, acaba vendo coisas do nosso lado que nos tiram o chão, como uma moça que ainda esta entubada. Ela piorou muito enquanto eu estava lá e foi para a UTI naquele período, isso tudo vai mexendo com a gente” – comenta.

“A cada paciente que vence a luta travada contra a Covid, deixa para nós uma sensação de inspiração, alegria e renovação”

A FÉ

Alzirene destaca que duas pacientes que também estavam no hospital de campanha a ajudaram muito. Elas oravam juntas e daquela forma, o foco já não era mais o lado negativo da doença. A conversa e a oração foram fundamentais para sua recuperação.

Assim, ela inseriu a oração nos momento que o desespero chegava perto, Deus era sua força, o refúgio e a fortaleza. Foram dez dias internada, destes, cinco com o auxílio do oxigênio.

Um novo olhar

Alzirene encerra dizendo que esse período descobriu “o mundo” que existe na Santa Casa. A realidade que é estar lá e, até então, tinha muito medo.

“Eu preciso evidenciar, pois eu mesma não tinha ideia do cuidado, atenção e carinho, não são profissionais da saúde, são anjos. Todos têm uma sensibilidade, sem igual. Todos, desde a limpeza até o médico.Todos sem exceção são maravilhosos. Acreditem, não tenham medo, somos muito bem cuidados lá. Eles nos fortalecem não só o corpo, mas a alma. Dedico essas poucas palavras a todos vocês que passaram pela minha vida nesse curto período de tempo e não vou citar nomes porque tenho todos vocês em minha mente e coração. Essa energia que sinto está ligada ao coração de cada um de vocês, todos sem exceção. Lembro de cada um, cada olhar, cada troca de palavras e carinho. A dedicação que vivenciei foi muito mais do que minha imaginação pudesse supor existir em um hospital. Toda tensão e insegurança inicial foi desmantelada na internação, pois fui cercada de tanto amor e atenção que ficava me perguntando se era real. Não imaginei que seria tão bem tratada.

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Uma realidade linda e maravilhosa, bela e pura, cheia de afagos e sorrisos. Se sintam especiais, vocês são, todos vocês, da limpeza impecável e constante, com desejos de melhoras e bençãos de Deus, dos cuidados com minha alimentação diária, um alimento para o corpo e para a alma que recebi todos os dias. Da atenção constante dos técnicos, auxiliares, enfermeiros, médica, psicóloga, fisioterapeuta que a cada palavra, a cada atendimento, junto com a medicação e exames vinham gotas de luz e amor. Lá, recebi o que há de mais puro, o cuidado e a delicadeza nas coletas constantes, tentando tirar meu foco da dor como se criança fosse. Isso demonstra a humanidade e respeito de todos profissionais.  Minha gratidão eterna a cada um de vocês, continuem fortes e por maior que seja a adversidade, nunca pensem em desistir (o que e normal, somos humanos e temos limites físicos e mentais). O que peço a vocês é: persistam, respirem fundo, o trabalho de vocês é lindo é fundamental, precisamos mais de vocês, precisamos mostrar a todos a importância desse trabalho. Esse é meu agradecimento a todos e, em especial a Dr.Simone Estivallet que me cuidou com tanta dedicação” – encerrou.

Flaviane Antolini Favero