Sexta-feira Santa dia de cumprir o ritual da marcela

A colheita da marcela na Sexta-Feira Santa é uma tradição que se repete ano a ano. Antes que o leitor conteste o certo ou errado, marcela ou macela é o nome popular da planta, que conforme a região cria o hábito da pronúncia com o r ou sem a consoante. Pois bem, aqui na 3ª Capital Farroupilha vamos de marcela.

A população acredita que a planta é abençoada neste dia. Com isso, a marcela da Sexta-Feira da Paixão passa a ter mais força ainda para combater males como a má digestão.

Em Alegrete não foi diferente, logo cedo já havia movimentação nos locais de abundância da planta. Ao longo da BR-290 no trecho em direção a Uruguaiana é um dos locais preferidos. Também é possível encontrar marcela num trecho da RS-566 e até na VRS-806 no Caverá.

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De a pé, com carro, bike e de moto, o que vale é manter a tradição da colheita antes dos raios do sol. O corredor dos papagaios é um dos pontos com mais abundância da planta. Ali famílias cumpriam ritual sagrado da Sexta-Feira da Paixão. Alguns preferem sorver um chimarrão enquanto outro colhem as margens da rodovia e por entre o mato que circunda a RS-566.

Outro local bastante visitado é na BR-290, em direção a Uruguaiana é possível colher marcela, embora escassa esse ano, a planta foi encontrada até 15 km do centro da cidade.

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A reportagem fez alguns registros da colheita. É possível afirmar que a crença popular encontra base na ciência. O extrato dela realmente alivia o incômodo da má digestão, afirma a farmacêutica da Emater/RS-Ascar, Caroline Crochemore Velloso, que ressalta a importância da planta em vários aspectos, como alternativa para problemas digestivos, por ter uma ação que estimula todos os hormônios no sentido da digestão.

Também é uma planta antiinflamatória e ainda pode ser usada para cosméticos como em fórmulas para xampus, para clarear o cabelo, sendo ainda importante para a limpeza dos olhos em casos de algum tipo de infecção ocular. Caroline diz que as pessoas só lembram da marcela no período que antecede a Páscoa, e que a mobilização para a colheita nesse período chega a ser muitas vezes desenfreada.

A planta nativa símbolo do Rio Grande do Sul, tem diminuído muito de um ano para o outro, sendo um dos fatores a questão dos agrotóxicos nas lavouras, mas muito se deve ao fato da planta não ser cultivada. “As pessoas devem ter a preocupação de não arrancar o pé inteiro”, salienta a farmacêutica. Segundo ela, uma alternativa para o problema seria recolher as sementes que ficam no fundo do pacote ou do vidro onde se guardam as flores, e jogá-las na terra no período de setembro a outubro. Uma dica é não enterrar muito as sementes, já que a planta necessita de bastante sol.

Outro cuidado que se deve ter é em relação à origem da marcela. As plantas colhidas na beira da estrada possuem muito monóxido de carbono liberado pelos veículos e isso estará inserido nos princípios ativos da planta. Portanto, deve-se evitar colher marcela nessas condições.

Com a chegada da Páscoa, muitas famílias se prepararam para colher e armazenar a macela nova. Uma das mais fortes tradições da Quaresma diz que no feriado de Sexta-feira Santa, antes mesmo do sol nascer, é preciso colher o chá. A tradição explica que ela deve ser colhida antes do sol raiar e os fiéis acreditam que o orvalho que cai na planta tem o poder de abençoar.

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