Tradição da colheita da macela é mantida em Alegrete

Famílias de Alegrete saíram logo cedo para procurar o chá medicinal. Hoje é sexta-feira Santa e o ritual popular se repete.

Várias pessoas realizam a Colheita da Macela. A planta floresce nesta época e é facilmente encontrada às margens das rodovias. Segundo a crença, a macela colhida antes do nascer do sol, com o orvalho da sexta-feira Santa, tem as propriedades medicinais fortalecidas.

 

Como conta a história, Jesus, em seu calvário, teria passado por estradas com plantações de macela, que simbolicamente foram abençoadas com a sua passagem. Depois da colheita, a macela deve ser deixada na sombra e, quando secar, ser guardada em um lugar fechado.

A colheita da macela é uma tradição que se repete ano a ano no período de Quaresma: na madrugada da Sexta-feira Santa, antes do nascer do sol. As pessoas saem em busca da Macela – erva que dá origem a um saboroso chá com propriedades medicinais – nos campos e à beira das estradas.
Quando começou a tradição, ninguém sabe. O que todo mundo sabe é que é preciso colher a macela na madrugada da Sexta-feira Santa antes de amanhecer.

Em Alegrete, a reportagem do Portal Alegrete Tudo percorreu cerca de 30 km, nos locais de maior abundância da erva. No Corredor dos Papagaios (RS-566), e na BR-290, no trecho próximo ao Posto da Polícia Rodoviária Federal, e também na estrada do Frigorífico.

Muitas famílias saíram cedinho, uns a pé, outros de carros e de bicicleta em busca da planta. Um local de fácil acesso é no Corredor dos Papagaios, na estrada do Frigorífico também é possível avistar a erva. Na BR-290 em direção a Uruguaiana também foi um ponto de boa colheita no município.

A Macela

Reza a lenda que as propriedades curativas da macela somente fazem efeito se a planta for colhida na sexta-feira santa antes do amanhecer. A erva é nativa da flora brasileira, também conhecida por diversos outros nomes, inclusive em algumas regiões é incorreto chamar de “marcela”.

É um arbusto perene que atinge cerca de um metro de altura e que na região sul costuma florescer no mês de março. As flores são amarelas, com cerca de um centímetro de diâmetro, florescendo em pequenos cachos. As folhas são finas e de cor verde-claro, meio acinzentada, que se destaca do restante da vegetação do campo.

A tradicional colheita da macela, que se dá anualmente em pelo menos sete Estados brasileiros pode estar com seus dias contados. É o que aponta estudo feita por um grupo de professores da UFRGS sobre uma parcela das plantas medicinais mais utilizadas no Estado.

A pesquisa, divulgada no livro plantas da medicinas popular no Rio Grande do Sul, abordou 56 espécies distintas (34 delas nativas), e aponta o folclore de colhe a popular marcela na sexta-feira santa como uma das principais causas da provável extinção.

A despreocupação quanto ao cultivo é outra ponta do problema, segunda a publicação que ganha eco no curso de Ciências Biológicas da UNISC ”como as pessoas apanham ela justamente no período de floração, o ciclo natural não se completa. E o fim pode ser dar muito em breve”, afirmar o professor e doutor em botânica, Jair Putzke.

Mas extinção da macela não é o único prejuízo que a tradição da sexta-feira santa pode causar. Não se as flores de cor amarela forem apanhadas em locais impróprios, como nas beiras de estradas e rodovias.

Dados da planta

Nome científico: Achyroclien saturei oides

Nome popular: Macela-do-campo, macelinha, macela-amarela, camomila-nacional, carrapicho-de- agulha, macela, losna-do-mato, macela-do sertão, chá-da- lagoa, erva dos soldados, milefólio, milfolhada

Propriedades: Antialérgica, antiespasmódica, antitinflamatória, sedativa, bactericida e tônica.

Indicações: Azia, cálculo biliar, clarear cabelos, cefalalgias, cólicas intestinais, contrações musculares bruscas, contusões, desordens menstruais, diabetes, diarréias, disenteria, disfunções gástricas e digestivas, dor de cabeça, dor de estômago, epilepsias, espasmos, estimulante da circulação capilar, febre; gastrite, impotência, inapetência, inflamação, lavar feridas e úlceras, má digestão; pele e cabelos delicados; nervosismo, perturbações gástricas, protetor solar, queda de cabelos, resfriado, retenção de líquidos, reumatismo, suores fétidos nos pés. Suas flores secas são utilizadas em muitas regiões para o preenchimento de travesseiros e acolchoados.

Contra indicações: Pessoas alérgicas, ou que estejam em tratamento de quimioterapia.

Modo de uso: Infusão de 2 xícaras das de cafezinho em ½ litro de água. Tomar 6 xícaras das de chá ao dia;  Beber 3 a 4 xícaras ao dia após as refeições;

Uso externo: infusão de 30 g de flores em 1 litro de água. Aplicar na forma de compressas 3 a 4 vezes ao dia para lavar feridas e úlceras e para banhar os pés contra chulé.

Em travesseiros: preenchidos com as flores, favorecem o sono.

Júlio Cesar Santos                  Fonte: Pesquisa da erva site Emater