Adão Faraco: o político e profissional de irretocável biografia continua muito ativo aos 86 anos

A entrevista foi agendada um dia antes. Por telefone, uma voz com impecável dicção atende, e diante do pedido responde – Tchê, tu podes vim amanhã às 11h . No horário combinado, a reportagem acionou a campainha da residência do alegretense Adão Conceição Dornelles Faraco.

Foto: arquivo pessoal/reprodução

O local é também seu endereço profissional. Com um molho de chaves e protegido com uma máscara branca, o ex-prefeito de Alegrete, com uma voz inconfundível abre a porta e o portão acompanhado de um bom dia.

A manhã fria de outono em Alegrete, parece não incomodar o entrevistado que logo faz a gentileza de abrir seu gabinete de advogacia, local que permanece a maior parte do dia. São jornais espalhados pelo sofá, dezenas de processo empilhados e centenas de livros completam o cenário ao redor.

Falante e solicito, aos 86 anos, Adão Faraco esbanja vitalidade e de uma memória invejável relembra datas sem buscar auxílio em documentos. Assíduo leitor, o alegretense possui diploma em Jornalismo pela PUC em 1958. Se formou em Direito no ano de 1970 e fez Ciências Econômicas na Fundação Educacional de Alegrete em 1976.

Foi o fundador do ensino universitário em Alegrete. Presidente da Sociedade Educacional de Alegrete, Faraco conduziu a transformação para Fundação Educacional. Faz questão de lembrar o nome da equipe de trabalho. Aldo Fagundes, Eduardo Palma, Maurício Goldemberg, Muciano Dias, Dr. Rui Barbosa Silveira, Professora Ida Rios, Carlos Grande, Dr. José Pinto e Samuel Marques.

 

Foi essa turma que proporcionou o 1º curso  universitário em Alegrete. A faculdade de ciências econômicas, a criação do ginásio no turno diurno, o Patriarca, José Bonifácio com a banda pioneira. Adão Faraco conta que estadualizou a escola de comércio Emílio Zuñeda, até então era escola particular. Com esse processo, alunos ganharam escola gratuita e os professores perceberam uma melhor remuneração.

A vida política iniciou pra valer em 1973, ano em que foi eleito com a maior votação proporcional registrada até hoje. Foram 2.127 votos válidos pelo Partido Trabalhista Brasileiro. Foram 5 anos, desses, dois como presidente da Câmara. Em 1959, se tornou vice-prefeito do então prefeito Arnaldo Paz.

Mas Faraco sofreu um decreto de cassação enquanto gozava do mandato de vereador. Teve por 10 anos seus direitos políticos suspensos, juntamente com os vereadores Eleu Rosa Menezes/PDT e Honório Paines/MDB. Nessa década suspenso da vida política se dedicou a advogacia e em 1982, foi eleito prefeito pelo MDB, tendo como vice Nilo Gonçalves. Assumiu a prefeitura por um quadriênio.

Como prefeito faz questão de relembrar o projeto de arborização e construção de 9 postos de saúde, realizou a municipalização da saúde. Foi ele o responsável pela desapropriação e construção do Parque dos Aguateiros. Na gestão Faraco e Nilo, nasceu o grande projeto de asfaltamento da Avenida Eurípedes Brasil Milano e acessos a Assis Brasil. O museu Oswaldo Aranha foi criado em seu governo, assim como a Avenida Tiaraju e abertura da República Rio Grande.

Foto: arquivo pessoal/reprodução

Convocado pelo governador Pedro Simon, Faraco assumiu como Secretário Estadual de Assuntos de Transportes. Foi então que projetou 2.500 km de asfalto em estradas estaduais. O feito nos quatro anos superou o que o RS produziu em 40 anos. A conclusão de 1.554 km e os restantes dos 746 foram feitos no governo de Alceu Collares. Neste projeto, o secretário Adão Faraco contemplou a Estrada do Mar e a Ponte Internacional São Borja/São Tomé.

Não menos importante, Faraco recorda que como Secretário fomentou o projeto de asfaltamento em direção ao Frigorífico e o asfalto a Escola Agrícola hoje IFFAR e também o acesso à Vila do Passo Novo, incluindo o asfaltamento de acesso ao centro de Manoel Viana, Avenida Caverá, Pista do Aeroporto Federal no Capivari e asfaltamento da área interna do Parque Dr. Lauro Dornelles.

 

Em 1993, assumiu como Diretor Presidente do Trensurb. Foram 6 anos em Porto Alegre, onde construiu a metrovia Sapucaia-São Leopoldo, e as grandes estações na Unisinos e no centro de São Leopoldo. “Montamos o projeto de engenharia arquitetônica do metrô de Porto Alegre mediante financiamento do Governo Federal”, relembra o alegretense.

Faraco ainda integrou o BRDE como conselheiro por 4 anos e lá se vão 52 anos de vida rotária. Criador do concurso melhor companheiro nas escolas, campanhas de conscientização no trânsito, foi mentor junto com os rotarys de Alegrete de erguer o Arco Rotário Bento Gonçalves no principal acesso a cidade na Assis Brasil.

A figura pública do homem nascido em 8 de dezembro de 1934, estudante do primário no Oswaldo Aranha e científico no Colégio Anchieta em Porto Alegre no ano de 1954, se resume ao trabalho profissional em advogacia.

 

Dr. Adão trabalha diariamente em seu escritório no centro da cidade. Da vida política se considera um torcedor da mocidade. Quer o desenvolvimento de lideranças, política hoje só pelos jornais e noticiários da televisão. Colorado pouco praticante, assiste TV quando lhe convém.

Em pouco menos de 2 horas de conversa, a entrevista é encerrada com assunto para mais uma. De boa prosa, o ex-prefeito Adão Faraco, faz um pedido que tão logo saia a reportagem lhe mande pelo WattsApp, ferramenta que está se familiarizando por conta da pandemia.

Júlio Cesar Santos