De coração “novo”, Sérgio Naymayer contrariou prognósticos médicos e comemora cada dia de vida

O renascimento de Sérgio Ricardo Naymayer. O primeiro alegretense a realizar um transplante de coração e ter uma história de superação que contradiz todos os prognósticos médicos. A razão de tudo também passa pela mitológica “fênix”, assim pode-se dizer do ressurgimento das cinzas onde estava, para a esperança e dádiva de viver ao lado das pessoas que ama depois de muitas batalhas para manter-se com o brilho e a leveza da alma que sempre foi um dos fatores determinantes, assim como, o mais importante, a Fé. A responsável pela luz no fim do túnel foi a filha mais velha, Fernanda Naymayer, que, embora os médicos ressaltando que não havia mais o que fazer, a situação era apenas aguardar pois ele não teria muito tempo de vida, ela levantou a bandeira de um transplante, inicialmente, já descartado, mas logo depois foi a esperança da sobrevida.

 

 

Entenda um pouco da trajetória de vida deste alegretense que foi contemplado com um coração novo, em uma madrugada que nem ele acreditava estar ouvindo que teria meia hora para chegar até o hospital. Impossível conter as lágrimas em vários episódios, ele foi e é um grande guerreiro. Um colorado apaixonado pelo seu time que nunca deixou de tomar a sua taça de vinho e viver intensamente ao lado da família que é a sua base para tudo.

O início

Sérgio é casado com Neila Naymayer, tem duas filhas, Fernanda e Eduarda. Além de cinco netas, uma delas do coração, mas que tem o mesmo amor que as demais. Os genros, Bruno e Éverton. Esse, sempre foi o combustível principal para que o seu coração, com todas as debilidades pulsasse de forma muito intensa e, acima de tudo, contrariasse a medicina.

Aos 39 anos, Sérgio sofreu o primeiro de muitos infartos que iria ter até poucos meses antes do transplante. Neste primeiro, o resultado já foi assustador, ele teve que passar por um cateterismo onde acusou três veias obstruídas, 19 dias depois ele teve que passar pela primeira cirurgia cardíaca onde o resultado foi: quatro safenas, uma transversal e uma mamária. Depois da recuperação, cerca de 60 dias, a vida voltou ao normal dentro de algumas limitações, sem excesso de peso, não poderia fazer esforço, alimentação mais regrada entre outros.

Com esse procedimento, dez anos se passaram,até que a angina o fez ir muitas vezes à Santa Casa e, num curto espaço de tempo, três infartos. Neste intervalo também passou por médicos em Ijuí, Uruguaiana e Porto Alegre. Mas no último infarto, o quadro realmente o deixou entre a vida e a morte. Ficou alguns dias na UTI da Santa Casa e foi encaminhado para fazer um novo cateterismo em Uruguaiana. Neste período, a esposa e a filha que o acompanharam se emocionam muito, pois tudo o que elas ouviam era a sentença de um final que não aceitavam sem lutar. No dia que Sérgio iria dar alta e retornar para casa depois de passar pelo cateterismo, a ambulância chegou em Uruguaiana e quando a maca foi até o quarto para buscá-lo retornou sozinha, mãe e filha se desesperaram e imaginaram que o pior tinha acontecido. O desespero tomou conta. Mas para o alívio de ambas, a notícia não era o que elas gostariam de ouvir, mas pelo menos, ele estava vivo, Sérgio estava com embolia pulmonar e teria que ficar na UTI por alguns dias. “Meu mundo caiu, pois os médicos o desenganaram, disseram que o caso era grave e não teria mais nada a ser feito, apenas esperar o último sopro que poderia ser a qualquer momento. Inclusive o proibiu de ficar emocionado por qualquer coisa, até mesmo olhar um jogo de futebol, uma de suas paixões sempre foi acompanhar o time do coração e que ele ´e fanático pelo Inter’ – comentou Neila.

O primeiro milagre naquele período

Com as veias totalmente obstruídas e sem ter condições de qualquer procedimento, a vida de Sérgio passou a ser “sustentada” por uma veia muito fina que o próprio organismo criou o que era possível fazer com que o sangue pudesse fazer todos os “caminhos” necessários. Foi neste mesmo momento que a filha Fernanda falou de um transplante, sem nem ao menos saber ao certo, mas a tentativa era buscar uma solução. O médico, disse que não teria essa possibilidade, entretanto, no outro dia, já considerou e realizou mais alguns exames. Fernanda plantou a esperança.

Em janeiro de 2018, Sérgio já realizou a primeira consulta em Porto Alegre, no Hospital de Clínicas. Cada vez que ele ia, era uma sequência quase que interminável de exames e todos sempre apresentavam alterações que levavam às equipes médicas a duvidarem se ele iria resistir até um possível transplante. O tempo sempre era muito precioso, cada segundo era uma conquista que Sérgio precisava comemorar pois ele estava ali contrariando tudo o que a medicina poderia fazer para mantê-lo vivo.

Diante de todas as complicações, a médica que estava muito empenhada em ajudá-lo, disse que ele deveria ficar em Porto Alegre, o motivo era muito simples, assim que ele tivesse o órgão tinha meia hora para chegar no hospital. “Largamos tudo, todo nossa vida aqui em Alegrete. Nossa filha mais nova assumiu a casa e o mercado aos 18 anos e, lá, tivemos a acolhida dos tios do Sérgio que nos deixaram em um quarto do apartamento para que não precisássemos pagar hotel, o que não teria sido possível pelo período que ficamos aguardando, foram nove meses” – disse Neila.

Toda semana Sérgio tinha que ir ao hospital e refazer todos os exames e,estava proibido de sair de Porto Alegre. Pois ele já estava na fila e o coração novo poderia chegar a qualquer momento. Nestes primeiros meses, eles destacam que cada toque do celular era uma apreensão pois a expectativa era muito grande. Com a família sendo o suporte de tudo, as filhas que, aqui ficaram, não deixavam de ir à Capital. Fernanda, em momentos mais difíceis financeiramente, vendia o que era possível de dentro de casa, para conseguir o valor do combustível. Ela e a irmã Eduarda foram muito guerreiras, assim como a esposa Neila que esteve sempre ao lado dele, mesmo com todos os receios, pânicos e problemas de saúde dela. Tudo foi deixado de lado e o que elas mais desejavam era que ele pudesse receber o órgão e voltar para casa. Nesta época, os genros também foram fundamentais ao lado das meninas que moviam montanhas e movem pelos pais.

A permanência em Porto Alegre

Sérgio ressalta que foram nove meses, com apenas uma oportunidade de vir a Alegrete durante dois dias. E por conta do destino, foi exatamente naquele em que ficou todo sábado ao lado da mãe, Selmar. Foi um sábado de muita conversa e carinho entre eles. No domingo, quando Sérgio, Neila e a filha Fernanda que os acompanhou, retornaram para Porto Alegre, infelizmente, dona Celmar sofreu um acidente e faleceu. Para Neila e Fernanda, foi um pânico em dar a notícia para Sérgio pois ele poderia não resistir devido à emoção. Um momento que a família toda se emocionou ao relembrar.

Mas, além desta passagem, que também foi uma grande superação do alegretense, ele tentava se manter o máximo possível ativo e, durante os dias que não estava no hospital, ele era o cozinheiro oficial. Sem nunca conseguir uma explicação dos médicos, Sérgio mantinha uma rotina quase normal, tudo o que contrariava diante de seus exames que o deixavam cada vez mais desenganado. Mas ele subia escada, caminhava e mantinha a rotina de tomar diariamente sua taça de vinho, algo que ele nunca abriu mão.

 

O transplante

Na madrugada que o telefone tocou e ele recebeu a notícia que um coração o aguardava, um fato curioso tinha acontecido. Um dia antes, na rotina de exames, Sérgio tinha passado pelo quarto de um jovem que já não tinha mais condições de caminhar, estava com tubos e também não tinha como falar coma a família. Mais uma demonstração de Fé e amor ao próximo. Antes de dormir, Sérgio se ajoelhou ao lado da cama fez sua oração e pediu para que, se Deus fosse “presenteasse” com um coração que ele abriria mão para que aquele jovem pudesse voltar mais rápido para a família, pois ele ainda tinha condições de estar ao lado de todos e compartilhar momentos felizes, algo que ele não teria como, pois estava preso na cama do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HCPA.

Algumas horas depois, o chamado para que ele fosse ao hospital. Sérgio e Neila quase não acreditaram, mas o coração era para ele e somente ele poderia receber. Assim, um dia antes do aniversário da filha mais velha, em novembro, ele foi para o hospital. No caminho, Sérgio enviou uma mensagem para a filha dizendo que a amava e desejando feliz aniversário. A resposta de Fernanda foi a seguinte: meu aniversário é amanhã e quero ouvir isso amanhã, também te amo” – lembrou muito emocionada.

 

O motorista do uber que o levou até o hospital não acreditava que ele estava indo fazer um transplante,  pois Sérgio estava aparentemente bem. Mas Deus o abençoou com um coração de um outro colorado. De tudo que os médicos explicaram que eles deveriam estar preparados diante de todas as possíveis complicações durante e pós transplante, Sérgio foi a exceção em tudo. O coração foi no tamanho perfeito, sem precisar de nenhum ajuste, assim que foi colocado no peito começou a pulsar sem precisar de choque ou adrenalina. O período na UTI que seria de 15 dias se resumiu para seis. E, o mais importante, no dia seguinte ao transplante a filha entrou na UTI e ouviu que ele a amava e o feliz aniversário que ela mais desejava ouvir naquele dia, além de ressaltar que iria conseguir ajudar a criar as netas. Isso foi no dia 30 de novembro. Uma situação inexplicável pois ele já não precisava mais de intubação.

A recuperação

Na primeira oportunidade, seis dias depois, Sérgio já estava no quarto e tomando banho sozinho. Foram mais alguns meses, totalizando um ano e três meses fora de casa, tomando cerca de 45 medicações pós transplante, mas tudo com uma evolução que também foi considerado como um milagre pela equipe médica.

A mensagem de Sérgio dois anos depois do transplante

Ele cita que nunca se abalou pois não queria fazer a família sofrer. O tempo todo, o alegretense pensava na esposa e nas filhas, elas foram a base de tudo para que ele pudesse vencer. Sérgio também cita que a Fé sempre foi uma grande aliada, ele acreditou muito que tudo era possível, isto ele falou da Igreja Plenitude de Deus. “Eu nunca senti uma dor, nunca senti desconforto, nunca tive nada que pudesse me deixar com algum incômodo. Tenho uma rotina com alguns cuidados, mas normal. Tô 100%, me sinto um guri.

Sérgio, o tempo todo destaca e deixa evidente o quanto a família o manteve vivo nos momentos que a medicina o desenganou. Ele ressalta que muitas pessoas que nem ao menos conhecia oraram por ele, isso não tem palavras para descrever sua gratidão e reconhecimento. E todos que estiveram igualmente ao lado, ajudando com estadia, como foi o caso em Uruguaiana quando ele esteve internado antes de ir para Porto Alegre que uma amiga acolheu a esposa ou na Capital, na casa dos tios, todos são considerados anjos.

 

A reportagem que foi recebida na casa do alegretense para ouvir todo o relato mencionado acima, se emocionou com o amor, fibra e garra de todos. Eles vivem para que todos os dias seja uma nova conquista, formam uma grande família que jamais deixa um ou outro desamparado. Um amor que emociona, uma fé que contagia e uma alegria que demonstra a verdadeira razão de ser e estar aqui, de cumprir sua missão.

Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)

HCPA é uma dos hospitais públicos que mais transplanta órgãos e tecidos no sul do país, realizando cerca centenas procedimentos adultos e pediátricos por ano. A reportagem do PAT falou com diretora-presidente do HCPA, professora Nadine Clausell.

Ela citou que, desde o primeiro dia em que o paciente, o alegretense Sérgio Naymayer, chegou ao Hospital de Clínicas, foi acolhido por toda equipe. Não apenas cardíaca, mas equipes multidisciplinares, pois o paciente é constantemente avaliado. Esse processo, passa por vários setores e profissionais, pois é bem global e criterioso. Além de todo auxílio psicológico. Sérgio sanou todas as dúvidas sobre a doença, os cuidados pré e pós transplante. Até o momento, ele faz avaliações periódicas com a equipe do Clínicas. Dra Nadine, comenta a importância do acolhimento, não só da equipe do hospital, como da família, algo que Sérgio sempre teve. E, no período que ficou aguardando ser chamado para o grande dia, não faltou a nenhuma consulta , realizou o tratamento e acompanhamento de forma muito comprometida, pois o plano é muito forte e sólido dentro do hospital.

Ela também acrescenta que o transplante salva vidas. Mas para isso, é preciso que as pessoas tenham mais conhecimento sobre o assunto. O HCPA é uma das maiores referências no País em transplantes, não apenas de coração, pulmão, fígado, pâncreas, rins e córneas.

O Brasil tem hoje o maior programa gratuito de transplantes de órgãos e tecidos do mundo através do Sistema Único de Saúde (SUS) e regulado pelo Sistema Nacional de Transplantes. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre é a instituição pública que mais transplanta órgãos e tecidos no sul do país – em torno de 400 procedimentos por ano.

Mas não basta ter recursos tecnológicos ou competência profissional para realizar transplantes e salvar ou melhorar tantas vidas. Os transplantes dependem de uma condição muito complexa, mas também muito singela – a doação dos órgãos e tecidos de alguém que já partiu.  Muitas vezes, a segunda chance de alguém que espera por um órgão poder sobreviver está muito mais próxima do que imaginamos, ou seja, depende de um DOADOR DE ÓRGÃOS.

Quem tiver dúvidas pode entrar em contato através do e-mail:  [email protected].

 

(Sérgio e sua grande família! Esposa, filhas,  netas, genros e sogra).

 

Flaviane Antolini Favero

Com informações HCPA