Alegretenses estiveram em evidência nos primeiros dias de Julgamento da Boate Kiss

Em dois dias de julgamento do caso da Boate Kiss que acontece em Porto Alegre, três alegretenses estiveram presentes no Júri entre testemunha, sobrevivente e advogado.

Julgamento da Boate Kiss
Julgamento da Boate Kiss

Quem são os alegretenses no Júri até a quinta-feira.

Na defesa de um dos ex-donos da boate – réu Elissandro Spohr está o advogado criminalista, o alegretense Jader Marques.

Alguns episódios:

Durante o primeiro dia de julgamento da tragédia da Boate Kiss, na quarta-feira, o advogado de defesa do réu Elissandro Spohr, Jader Marques ingressou com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), contra a promotora de Justiça do MP, Lúcia Helena Callegari. O motivo foi a exclusão dos jurados com uso do aparato do Estado, ao fazer averiguações no sistema de Consultas Integradas, no qual é possível verificar antecedentes criminais e informações pessoais.

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No segundo dia, na oitiva da sobrevivente Jéssica Machado Montardo, que perdeu o irmão na tragédia,ela chorou ao lembrar como tudo começou. Mesmo sob forte emoção, a sobrevivente disse que enxerga os quatro réus como “humanos”. Jader Marques, advogado de defesa de Elissandro Sphor, conhecido como Kiko, colocou o réu em frente à Jéssica. Neste momento, o Ministério Público (MP) e o juiz  Orlando Faccini Neto entenderam que a testemunha estaria passando por constrangimento e exposição. Em outra situação, o Juiz Orlando Faccini Neto, em outro momento diz: “Minha comida está em uma tupperware gelada. Traga sua comida”, diz juiz para o advogado Jader Marques para rebater pedido de suspensão de sessão. Público aplaude o magistrado e defensor reclama: “Isso sim é proselitismo. O senhor está jogando a plateia contra a defesa.” Também ocorreu uma discussão com um dos Promotores.

O alegretense Jader da Silveira Marques é doutor em Direito pela Unisinos, Mestre em Ciências Criminais pela PUC/RS, Pós–graduado em Ciências Penais pela PUC/RS e Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC/RS.

Sobrevivente:

O último depoimento que fechou a noite do primeiro dia de Júri, foi da terapeuta ocupacional, a alegretense de 28 anos, Kelen Giovana Leite Ferreira.

Kelen  teve 18% do corpo atingido pelo fogo. Por consequência do ocorrido, também teve a amputação de parte da direita e até os dias de hoje realiza tratamento.

Kelen Giovana Leite Ferreira foi a segunda sobrevivente ouvida no júri da Kiss.

Emocionada, Kelen relatou que caiu na tentativa de fugir e que sua sandália ficou presa no tornozelo, cortando a circulação sanguínea.

“A última vez que eu corri foi para tentar me salvar da morte”, disse. A jovem relatou ao juiz Orlando Faccini Neto que passou pelo processo de aceitação desde o ano passado, em razão das cicatrizes.

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“Eu queimei 18% do corpo e eu perdi meu pé. Uso uma prótese em decorrência de tudo o que aconteceu”, destacou.

Kelen Giovana falou do processo de luto durante os quase nove anos após a tragédia. A sobrevivente criticou um documentário produzido pela defesa de um dos réus, em que ele fala sobre o processo.

“Dor não é gravar um vídeo e chorar. Dor é passar esses oito, quase nove anos, o que eu passei lá dentro, o que eu passo na minha pele, o que eu passo andando na prótese, machuca. Isso é dor. Dor é quando eu olhei muito tempo no espelho e chorei por ter ficado assim”, desabafou.

Kellen estava na festa com sete pessoas: duas amigas e cinco rapazes. Três faleceram: duas amigas de 18 anos e um dos homens, de 19 anos. Ela conta que, quatro dias depois, os médicos que passavam os boletins para o pai e a irmã perguntaram se tinham alguma religião.

“Ele disse que éramos católicos, e ele disse ‘só Deus, porque a medicina já fez de tudo’”, relata Kellen.

A testemunha:

Miguel Ângelo Teixeira Pedroso, o engenheiro que teria desaconselhado o uso da espuma isolante na casa noturna também é de Alegrete e cita o nome da cidade em vários momentos. O depoimento de Pedroso foi pedido pelo Ministério Público, responsável pela acusação.

A testemunha contou que um dos sócios da Kiss pediu que fosse colocada espuma para o isolamento acústico da boate e que desaconselhou medida.

“Só um leigo e ignorante na área poderia achar que espuma fosse conveniente dentro de uma boate”, disse engenheiro.

Miguel Ângelo Teixeira Pedroso diz que Elissandro insistiu na instalação da espuma e, posteriormente, solicitou um laudo do especialista para verificar a questão do ruído. A prestação de serviços foi encerrada depois disso. “Não posso julgar o procedimento ou a intenção dele, eu achei que fosse desatenção dele comigo”, contou.

Pedroso diz que, quando ficou sabendo do incêndio, telefonou para o delegado que estava conduzindo as investigações para depor. Testemunha conta que Elissandro Spohr tentava atribuir responsabilidade a ele. “Entrei com uma medida cautelar e realmente cessou essa situação”, destacou.

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A testemunha relatou que, antes disso, fez uma série de sugestões para que os proprietários da boate melhorassem o isolamento acústico do estabelecimento. O engenheiro disse que cobrou R$ 8 mil em duas vezes pelos serviços e que Elissandro Spohr se ofereceu a pagar R$ 6 mil à vista.

O engenheiro ainda contou que, terminada a execução da obra, em 2012. As adequações se deram por exigência de um acordo com o MP. No momento, não tinha sido instalada a espuma acústica.

Na última questão dos assistentes de acusação, Pedroso é inquirido sobre críticas que recebeu em uma matéria na imprensa. Ele responde que recorda apenas que o advogado se chamava Marques. Quando o defensor de Elissandro Spohr ganha o direito à palavra, abre as perguntas se apresentando.

“Olá, senhor Pedroso. Eu sou o Jader Marques, o advogado que tanto lhe incomodou”, provocou.

Os questionamentos foram truncados, com constantes interrupções de diversas partes, inclusive do juiz Faccini, que pediu a Pedroso que respondesse em seu ritmo. “Doutor, eu não tinha nada a ver lá dentro da boate. Minha questão era isolamento acústico”, se esquivou em uma das perguntas.

Mas teve momentos de distensão. Em um momento, o advogado Mário Cipriani, para comprovar a tese de que a espuma, em si, não é inflamável, pergunta à testemunha se pode fazer o que quiser com ela – inclusive comê-la.

“Vai lhe dar uma dor de barriga terrível”, brincou Pedroso.

Quem são os réus?

Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, 38 anos, era um dos sócios da boate

Mauro Lodeiro Hoffmann, 56 anos, era outro sócio da Boate Kiss

Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, músico da banda Gurizada Fandangueira

Luciano Augusto Bonilha Leão, 44 anos, era produtor musical e auxiliar de palco da banda

Os quatro réus são julgados por 242 homicídios consumados e 636 tentativas (artigo 21 do Código Penal). Na denúncia, o Ministério Público havia incluído duas qualificadoras — por motivo torpe e com emprego de fogo —, que aumentariam a pena. Porém, a Justiça retirou essas qualificadoras e converteu para homicídios simples.

Com informações G1

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