Bióloga encontra gato-palheiro-pampeano na APA do Ibirapuitã

O felino, raramente visto em seu ambiente natural, foi avistado durante um passeio de carro da bióloga com seu marido.

Foto: Luiza Nicolini de Simoni

No final de setembro, a bióloga Luiza Nicolini de Simoni, em uma visita à Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, teve um encontro surpreendente com um gato-palheiro-pampeano (Leopardus munoai).

Luiza, habitualmente reservando sua câmera na mochila, decidiu tê-la em mãos para capturar a beleza da paisagem. “Eu sempre costumo levar minha câmera, deixo sempre na mochila. Eu nunca levo ela em mãos. Nesse dia, eu decidi levar para tirar fotos da paisagem durante a viagem. A estrada é ruim e para não estragar o carro dirigimos bem devagar. Justamente no dia em que eu estava com a câmera nas mãos, vimos o gato passar”, compartilha Luiza.

Ao parar o carro, o gato surpreendeu ao se deitar, como se posasse para a foto. Infelizmente, Luiza conseguiu apenas um registro, pois qualquer movimento fez com que o felino fugisse rapidamente. A confirmação da espécie veio apenas ao retornar da viagem. “Eu só tive a certeza quando cheguei em casa. Talvez seja a primeira e a última vez que eu consiga fotografar, que eu consiga visualizar ele, porque é muito difícil, muito difícil mesmo”, completa.

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Comportamento de defesa: olhar firme e postura intrigante

Quando Luiza se aproximou para fotografar, o gato a encarou em um comportamento defensivo. Felipe Bortolotto Peters, responsável pelo projeto de conservação Felinos do Pampa e membro do Instituto Pró-Carnívoros, explica que essa movimentação é comum na espécie.

“Dentro da indisponibilidade de árvores ao longo dos campos, os gatos não fogem e não correm, eles ‘sentam’ e encaram os possíveis predadores. É uma forma de defesa interessante, na qual ele eriça o pelo e estica as patas traseiras para parecer maior do que realmente é, ao mesmo tempo em que protege a cabeça e os membros anteriores deixando-os contraídos rente ao corpo”, explica Felipe.

Desafios para a conservação: poucas informações e ameaças constantes

Este registro é crucial, visto que informações sobre o gato-palheiro-pampeano são escassas. Até recentemente, encontrar o felino vivo era uma raridade, com a maioria dos encontros ocorrendo com animais mortos por atropelamentos em rodovias.

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Desde 2020, o projeto Felinos do Pampa incentiva a ciência cidadã, recebendo fotos de encontros com animais vivos, geralmente em situações de ameaça iminente. A espécie é endêmica do Pampa, habitando a metade sul do RS, Uruguai e província de Corrientes, Argentina, com preferência por áreas campestres e gramíneas nativas.

Felipe destaca que o gato-palheiro-pampeano é pouco estudado, dificultando estratégias eficazes para sua conservação. Um estudo de 2020, liderado por Flávia Tirelli, utilizou modelos matemáticos para estimar o tamanho populacional, indicando a possível classificação como “criticamente ameaçado”.

Ameaças e Ecologia: desafios para a sobrevivência

As principais ameaças incluem perda de habitat, atropelamentos, caça retaliativa, predação por cachorros domésticos e doenças transmitidas por animais domésticos. A falta de estudos aprofundados e a aparente baixa densidade populacional tornam difícil a obtenção de informações diretamente relacionadas à espécie.

O gato-palheiro-pampeano, com cerca de 4 kg, alimenta-se principalmente de pequenos roedores e aves campestres. Há quatro outras espécies de gato-palheiro, sendo o gato-palheiro-do-pantanal a única que ocorre no Brasil. Até 2021, todas eram reconhecidas como Leopardus colocola, mas evidências morfológicas e genéticas levaram à sua divisão em cinco espécies distintas.

Com informações: ANDA

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